Capítulo 2

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Beatrix

Às vezes eu não sabia exatamente o que eu estava fazendo da minha vida, mas acho que todo mundo um dia já parou, olhou para o nada e se perguntou qual o sentindo da tudo ao nosso redor e se o que estava fazendo com a sua própria vida era mesmo o que realmente queria.

Eu deveria ter cursado medicina depois de terminar o ensino médio, era isso que meus pais sonhavam para mim desde que uma das minhas primas havia se tornado médica e hoje tinha uma vida cheia de regalias, vivendo na Europa e dando uma vida muito boa aos seus pais, meus parentes que eu nunca vi na vida, assim como nem me lembrava do nome dessa minha prima.

Meu pai trabalhava em uma empresa de construção, como um dos empregados da parte mais baixa do escalão, por isso seu salário era o suficiente para que pudéssemos viver com o mínimo, enquanto isso minha mãe trabalhava como manicure em um salão para completar nossa renda. Apesar de nunca ter tido regalias, nós tínhamos uma vida estável e nunca nos faltou nada, mas as coisas começaram a mudar quando a irmã da minha mãe se mudou do Brooklyn com toda a família para a Alemanha, depois que minha prima foi chamada para trabalhar em um grande hospital.

Eu tinha doze anos quando isso aconteceu e foi a partir daí que meus pais decidiram que eu deveria ser como minha prima e me colocaram para usar todas as horas do meu dia para estudar, enquanto economizavam dinheiro para me mandar para a faculdade e pediam a ajuda dos meus parentes para isso. Meus pais tinham se cansado de viver com o mínimo e eu não poderia culpa-los por querer uma vida melhor e com mais segurança, então sendo negra e de uma família de classe baixa, estudar seria uma das melhores maneiras de conseguir ter um futuro melhor, eu concordava com isso, o único problema era que esse era o sonho dos meus pais, não o meu.

Desde os meus dez anos, quando minha tia Emília, irmã do meu pai, me levou ao estúdio de dança onde ela era coordenadora, passei a amar dançar e meu sonho era ser como minha tia, uma dançarina e uma professora incrível, não como minha prima que eu nem sabia o nome.

Passei muito tempo querendo que meus pais parassem de me pressionar e cobrar tanto, mas isso acabou acontecendo da pior maneira possível. Os dois morreram em um acidente envolvendo o ônibus onde estavam e um caminhão, eles foram uma das quinze pessoas que morreram naquele dia, um ano antes de eu ter que entrar na universidade.

Tia Emília foi quem cuidou de mim a partir daquele dia e se mudou para a cidade onde eu morava. Faltando uma semana para as inscrições para as faculdades, eu estava no parque, com ela conversando comigo novamente sobre eu não precisar seguir a vontade dos meus pais se não era o que eu queria e me fazia feliz. Naquele dia eu deitei na toalha de piquenique e olhei para o céu pensando o que eu estava fazendo da minha vida e percebi que não poderia continuar daquele jeito, tentei me imaginar sendo médica, mas eu tinha medo de sangue e não conseguia ver alguém chorando sem acabar chorando junto, aquela profissão me deixava meio apavorada, porque eu sabia que não conseguiria seguir em frente com ela.

O dinheiro que eu recebi de herança era uma quantia considerável já que meus pais estavam juntado para minha faculdade, mas ao invés de fazer medicina fiz um curso de dança. 

Emília era campeã internacional junto com seu grupo de dança, eles haviam ganhado muitos campeonatos, mas depois de certa idade ela se aposentou e foi dar aulas, mas ao contrário dela, eu gostava mais de dar aulas do que de competir, por isso nunca participei de grandes disputas, mas gostava de ver os troféus dela.

— Esse foi do seu primeiro campeonato estadual, não foi? — perguntei pegando o troféu antigo, mas muito bem cuidado.

— Foi sim, uma das minhas maiores conquistas — disse orgulhosa e me olhou interessada. — Como estão indo as aulas que você está fazendo?

Único Encontro - Livro Bônus da Série: Paixão e AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora