Capitulo 1: A Tempestade pt. 2

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Malaquias segurava seu chapéu de palha na cabeça enquanto observava atentamente a praia.

Já estava perto do entardecer quando se esgueirou pela escuridão da floresta a fim de voltar a praia.

Uma brisa suave soprava fria em seu rosto e tentava furtivamente bagunçar as oferendas que carregava em mãos; Malaquias havia decidido. Ele iria capturar o monstro.

Em sua mente confusa pela queda, o homem havia lembrado involuntariamente de sua infância. Lembrou do pequeno garoto que costumava ser, e também lembrou de quando costumava ser um sonhador.

Antes de ter sido um lenhador, um carpinteiro, um caçador, um artesão...antes de ser um faz-tudo, ele era uma criança que costumava sonhar muito alto.

Sua 'vovó'—como todos os outros adultos faziam— tinha o costume de contar velhas histórias de acontecimentos passados para ensinar. E sua história favorita era...

"Vovó, a senhora pode me contar aquela história novamente?"

A mulher que descascava algumas batatas no chão olhou com olhos semicerrados para o garoto à sua frente. A mulher vinha passando por sérios problemas e sua visão já estava quase um completo borrão, mas mesmo que não conseguisse enxergar direito ela podia saber quem era.

Se tratava de Malaquias, o Palha "Queimada"; a criança rejeitada.

O garoto magricelo e sujo se escondia timidamente atrás da porta. Mesmo ferido pelos maus tratos constantes das outras crianças, sua voz mantinha o mesmo tom jovial e gentil de sempre.

A mulher suspirou.

"...pois bem" disse então enquanto continuava sua atividade, "era uma vez..."

Se tratava da estória de uma pequena cria de onça que tinha vontade de viver com os humanos mas não podia por terem muito medo de si. Certo dia ao brincar com sua peteca sozinha na praia, uma tempestade forte começou a soprar ao longe.

Curiosa, a pequena onça olhou para o mar e pôde ver uma estranha movimentação na água. E ajustando a vista para ver melhor, ela havia visto...

"Uma grande besta marinha, como um...com um carnaval na Capital. Né, vovó?" Malaquias havia perguntado a interrompendo no meio da história.

"Haha, sim, está correto...criança" a mulher ria da esperteza do garoto a sua frente.

...uma grande besta marinha, tão grande, mas tão grande que parecia um grande amontoado de bestas menores. A pequena onça logo havia pensado em um grande carnaval, como o que havia visto certa vez na Capital com a sua mãe.

"Vovó, a mãe da oncinha era igual a ele?"

"Quê? Oxi, porque não seria? Ela é felpuda e macia como o filho." Coçou a bochecha.

...A pequena assustada, correu imediatamente para a vila dos humanos para avisar que um monstro vinha vindo, mas ninguém a escutava; diziam que o único monstro que viam naquele exato momento era ela ou acabavam fugindo de medo.

Os humanos eram muito pequenos e não podiam fazer nada a respeito, então quando o monstro chegou em sua vila a pequena onça tomou uma decisão...

"E foi assim que a pequena onça odiada, se tornou a amada protetora da vila. Fim."

Ao fim da história, a mulher já havia terminado de descascar as batatas; agora se ocupando em vários movimentos para circular o sangue nas pernas.

"A senhora...acha que...que a onça ganhou presentes?"

"Muito provavelmente."

"Muitos?"

Pena e Lágrimas de Pavão [WebNovel BL ORIGINAL]Onde histórias criam vida. Descubra agora