Capitulo 2: O Visitante pt 1

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Os três dias e três noites que se seguiram foram repletas de ansiedade sem fim; Malaquias que costumava dormir por longas horas a fim de descansar completamente seu corpo que demandava muita energia para funcionar, não pregou os olhos por mais de alguns minutos antes de acordar aos sustos.

Semelhante a uma mãe com seu filho recém nascido, seus olhos estavam constantemente presos no jovem inconsciente.

Não estando a par de nomes ou de origem, o ruivo se baseou somente naquele ditado que diz: "Não faça aos outros o que não quer que lhe façam, enquanto trata os outros da maneira que quer ser tratado.", assim cuidou dele da maneira que gostaria de algum dia, ser cuidado.

E também, é claro, para não ser amaldiçoado.

A ideia de que a pessoa deitada em sua cama fosse na verdade algum tipo de entidade divina não saia de sua mente; alguém que simplesmente permanece vivo após o corpo aquecer como uma fornalha por três noites inteiras não poderia ser um mero mortal.

Suspirando com esse pensamento infeliz, continuou a debulhar os feijões que pegou como seu trabalho dessa semana.

Desde lavar roupas sujas e arear panelas, a massagens desajeitadas livre de técnicas, Malaquias aceitava tudo que lhe desse pelo menos o suficiente para manter a vidinha pacífica que conseguiu com muita dificuldade. Aos olhos de algumas pessoas, Malaquias vivia na pobreza extrema, enquanto aos seus, vivia luxuosamente.

Quando era mais jovem ele não possuía nada. Sequer roupa para cobrir sua nudez ter ele tinha; então aquela simples cabana que o protegia da chuva e do vento, seu chapéu de palha que o protegia do sol e, de vez em quando, alguns peixes, já era ótimo para se viver.

E como ele amava estar vivo nestes momentos.

Eram estes mesmos momentos de contemplação que o faziam esquecer sua situação de isolamento em relação a vila que ele mesmo adotou como seu lar.

De certo modo ele entendia sua situação e até chegou a aceitar como era tratado, assim, se adaptando de uma forma que, em algum momento, pudessem simplesmente esquecer sua existência. Pegando muitas vezes caminhos escondidos e desconhecidos pelo povo da vila por nunca se atreverem a atravessar a Grande Floresta.

Floresta que, por ser tão grande e envolta de mistérios era um grande perigo simplesmente se arriscar a atravessá-la. E se, caso quisessem por algum motivo se comunicar com outras vilas, era necessário pegar um barco e rodear a ilha pelo mar.

O que não acontecia com frequência, como dito, são um povo muito monótono e sem nenhum interesse em mudanças.

O que acabou se tornando vantajoso para Malaquias que se tornou um tipo de mediador, assim podemos dizer, entre todos.

De vila em vila, de tempos em tempos, uma figura estranha e imensa surgia de dentro da floresta carregando uma enorme carroça. Não falava, não se mexia e só ficava lá parada com a sua carroça. Inicialmente, o povo pensou se tratar de um espírito então mantinham distância, o que naturalmente fez Malaquias mudar sua estratégia passando a imitar os feirantes da capital. Com um pequeno pano à sua frente e produtos em cima, aos poucos as pessoas entenderam " Ah. é trabalho."

Com um pouquinho de esforço aqui e ali, ele montou um verdadeiro empreendimento suprindo as necessidades básicas que as pessoas realmente não sabiam que precisavam, como o de certos tipos de alimentos e ervas.

E era assim, envolto em uma grande e escura capa com uma máscara muito mal feita que Malaquias conseguia se aventurar por entre os povoados e divulgar seus serviços, enquanto mantinha sua identidade secreta. Não estando muito longe do que o inspirou a agir desse jeito, sua figura era envolta em especulações; certas pessoas diziam "esse aí deve ser deformado, por isso esconde o rosto!" e "Esse ai deve ser muito belo, por isso esconde o rosto!", ambos estando errados.

Pena e Lágrimas de Pavão [WebNovel BL ORIGINAL]Onde histórias criam vida. Descubra agora