04| Amor paterno

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Lilith Koch
Magdeburgo, 2002

Nos domingos eu costumava passar o dia inteiro em um hospital psiquiátrico que ficava no meio da estrada. Naquele lugar morava meu pai, que foi internado após minha avó falecer e ele ficar completamente louco, não que ele não fosse antes, apenas piorou

De qualquer forma, eu amava meu pai e iria fazer companhia até ele melhorar e eu poder leva-lo para casa

- oi, papai- digo me sentando em sua frente na mesa do jardim- trouxe algumas coisas para gente fazer- coloco minha mochila do meu lado e o olho

Ele não falava nada, apenas me encarava com raiva, como se fosse um urso prestes a me atacar. Era sempre assim no começo do dia, depois do surto ele melhora

- eu trouxe esse livro- pego o livro dentro da minha mochila e o mostro- ele é grande mas é muito divertido

- você precisa morrer, filha da puta- ele diz sem tirar os olhos de mim

Ele sempre dizia isso, nunca entendi o porquê, eu odiava isso, mas deve fazer parte do tratamento. Engulo o seco e abro o livro

- eu disse que você deveria morrer!- ele pega o vaso de flor em cima da mesa e arremessa em minha direção

Esse é o tipo de surto que citei

Assim que vi seu movimento, me encolhi na cadeira, fazendo com que o vaso passasse direto e batesse em uma árvore que estava atrás de mim

Enquanto alguns enfermeiros vinham correndo, lágrimas saiam descontroladamente do meu rosto e meu pai me xingava de tudo quanto é nome. Abraço meus joelhos e abaixo a cabeça esperando que eles o tirassem de lá

- eu vou matar você- ele diz enquanto médico arrastavam ele para dentro do hospital

Fiquei longos minutos soluçando enquanto minhas lágrimas escorriam e minhas mãos tremiam. Eu só queria que ele gostasse de mim, eu me esforço muito para conseguir vir aqui todos os domingos mesmo mamãe não querendo me trazer, não entendia o porque dele fazer isso

- você faz muito bem de vir aqui- olho para Pedro que se sentava ao meu lado

Pedro era um dos enfermeiros do hospital, além disso, era meu ex vizinho, ele e a irmã cuidavam de mim quando eu era mais nova para ganharem um dinheiro extra. Quem sabe eu influenciei ele a ser psiquiatra?

- muitos não fazem isso - ele me entrega um copo de água- o que acaba afetando negativamente no tratamento dos pacientes- me olha- mas talvez aqui não seja o ligar para alguém da sua idade

- eu gosto daqui- digo e bebo um pouco da minha agua

- precisa vir acompanhada, pode ser perigoso

- minha mãe não quer vir aqui comigo, quem poderia?

- não sei, mas sozinha não vai dar

- eu vou pensar- abaixo o olhar e respiro fundo

- quer que eu chame sua mãe para te buscar?

- não- olho para ele- posso ajudar com as crianças?

Sempre que meu pai surtava eu gostava de ir até a ala infantil e ajudar Pedro a cuidar das crianças que estavam internadas também, era divertido

- não sei... tenho que falar com meu chefe- ele diz e suspira- pode vir comigo

...

Passei várias horas brincando com crianças. O diretor do hospital era muito fofo e havia deixado eu ajudar a cuidar delas, mas depois fui até o quarto em que meu pai ficava. Eu precisava tentar falar com ele novamente

- se precisar nos chame- a enfermeira fala encostando a porta levemente

Olho para meu pai que estava parado olhando fixamente para o chão. Me sento na cama a sua frente e o olho

- eu entendo que seja difícil para o senhor ficar aqui, sem sua família, então perdoou seu comportamento agressivo- coloco as mãos por cima das minhas pernas

Ele continuava sem mexer um músculo, respiro fundo e olho para baixo

- Bom, eu fui para uma escola nova- falo e volto a olhar para ele- é publica dessa vez porque a mamãe disse que estava gastando muito dinheiro com escola e não conseguia comprar suas coisas- falo e ele finalmente solta uma risada nasal

- sua mãe é uma puta

- pelo menos fiz novos amigos- Ignoro o que ele disse- Tem a Sasha, Britney...

- Britney? É nome de prostituta

Não acho que esse é o tipo de coisa que alguém da minha idade gostaria de ouvir, pelo menos ele estava conversando comigo, já era uma melhora

- Tem a Sara e o Bill também- sorrio animada mas ele não fala mais nada

Tentei conversar com ele mais um pouquinho mas minha mãe chegou furiosa para vir me buscar e ir embora

- anda logo garota- a mulher dizia me ajudando colocar as coisas na mochila- você deveria estar esperando na recepção

- mas como eu ia saber que você estava chegando?- pergunto fechando o zíper e colocando a mochila nas costas

- anda, vamos- vai em direção a porta

- tchau papai- vou até ele e dou um beijo em sua bochecha

Ele me olha furioso e eu vou correndo assustada até minha mãe

Poderia ter sido um dia muito pior, mas consegui falar algumas coisas com ele, então está ótimo

- não entendo o porquê de você querer vir visitar seu pai- mamãe dizia enquanto entrávamos no carro

- não posso deixar ele mais sozinho do que já é

- não tente achar algum tipo de amor paterno naquele homem, se quer isso eu posso achar algum milionário rico para casar, oque acha?- me olha sorridente

- faz o que quiser- encosto minha cabeça na janela assim que fecho a porta- eu vou continuar vendo meu pai

Eu não ia abandonar meu pai tão fácil assim, quando ele melhorasse- se isso acontecer- eu vou estar lá para ajuda-lo a se estruturar na sociedade novamente

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Continua...

Eu não tenho ideias de vídeos no ttk para divulgar essa fic, uma vida completa a minha

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AUTOMATIC| Bill KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora