Capítulo 24: A verdade

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Disquei o número de Mateus no celular, mas não chamou. O celular dele está quebrado ou está desligado. Começo a tremer, e se ele foi mais uma vítima? Meu Deus, por minha culpa eles vão morrer. Alice acabou sendo morta de alguma forma e Pedro estava com ela, essas peças ainda não estavam fazendo sentindo para mim, será que Pedro matou Alice? E isso tudo é uma armadilha? Afinal, meus pais não disseram para onde nós vamos.

Minha intuição estava certa, assim que o pensamento passa pela minha cabeça. Levanto minha cabeça e olho pela janela e vejo onde nós estamos. Era a igreja.

Meu pai parou o carro e desceu. Minha abriu desceu logo em seguida, ela novamente segurou meu braço com tanta força que estava me machucando. Eu gritava para ela me soltar, eu estava com medo do que ia acontecer lá dentro. Olhei para dos lados, eu vi outras pessoas em suas janelas me olhando, todos com cara de desprezo para mim, como se estivesse cometido um terrível crime.

Todos sabiam, sabiam o que eu estava passando. E ninguém me ajudou, ao contrário, jogaram pedra em minha casa. Estavam todos contra mim. Minha mãe me levou até dentro da igreja. Meu pai gritou para o silêncio:
- OLÁ? VIEMOS TRATAR COM NOSSO ACORDO.

Acordo, fizeram um acordo e eu com certeza estou no meio. O desespero cresceu dentro de mim e comecei a bater no braço de minha mãe tentando me soltar. Da escuridão que estava por toda a igreja, uma luz forte tomou toda a sala. Os bancos de madeira todos enfileirados, um altar com imagens de jesus, uma grande cadeira parecendo um trono, onde o padre se sentava durante as missas foram as coisas que vi imediatamente. Logo vi quem tinha ligado as luzes. Um homem magro, alto e estava usando uma roupa preta com um terço em seu pescoço. Era o Padre.

- Olá, Joe. - Disse ele com uma voz calma que me assustava. Ele olhou para meus pais e disse:
- Fico feliz que vocês decidiram a coisa certa.
- Que coisa certa? - Eu disse quase gritando. Minha voz ecoou pela igreja vazia.
- Nossa casa foi invadida por essa maldição, padre, parecia que era Alice, amiga de meu filho. - Disse minha mãe.
- Alice, os pais dessa menina não passam de irresponsáveis. Agora pagaram com a vida da própria filha.

O padre olhou para mim e logo para meus pais de novo.
- Temos que ir logo. Cada minuto é precioso.
- EU NÃO VOU PARA LUGAR NENHUM! ME SOLTA MÃE! - Gritei com toda força. Senti minha garganta rasgar. O padre se aproximou de mim e me logo em seguida me deu um tapa em meu rosto.
- Não cause mais problemas para a gente garoto, se tivesse ficado quieto em sua casa naquela noite nada disso estaria acontecendo.
Minha raiva explodiu. O padre estava próximo de mim. Literalmente na minha frente. Não pensei duas vezes, cuspi em seu rosto. O que ocasionou em um tapa de minha mãe em minha cabeça. O padre passou a mão em seu rosto e olhou para mim com uma cara de tremendo ódio.

Me levaram para uma porta escondida atrás do altar. Uma porta que me levava a uma parte mais escura que o salão principal. Era uma sala pequena e parecia não ter móveis. Então minha mãe me soltou e o padre me empurrou para dentro da sala. A porta foi fechada e fiquei mó escuro. Me encostei na parede e comecei a chorar.

- Joe?
Era a voz de Pedro.
- Pedro?
Minha felicidade nunca ficou maior que agora. Mas aquilo podia ser uma alucinação, uma armadilha para eu me aproximar.
- Joe? Quem te trouxe aqui? - Disse Pedro.
- Meus....meus pais.
- Seus Pais? Meu Deus.
- É, uma grande merda.
- Joe, eu preciso te falar muitas coisas.
- O que?
A escuridão da sala sumiu. Vi Pedro segurando uma vela e encostado na parede do outro lado da sala segurando um celular na outra mão. Com certeza era o de Alice. Fiquei mais aliviado por realmente ser Pedro ali.
- Joe, eu vi umas coisas naquela casa.
- Eu também vi.
- Não, eu vi fogo. Vozes, eu vi tudo.
- O quê? Como assim?
- Joe, eu entrei no poço. Entrei em um túnel que tinha ali.
- O que tinha dentro?
- Ossos. Ossos humanos.
Senti minha espinha arrepiar. Então Matheus não estava errado. Realmente vira ossos humanos lá dentro.
- O que mais você viu?
- Quando me aproximei dos ossos, comecei a alucinar. Vi fogo me rodeando. Ouvi gritos de uma mulher e de uma criança. E de um homem. Era o Padre, Joe.

As coisas estavam acontecendo muito rápido. Já tinha me perdido no que já tinha acontecido. Minha cabeça doía cada vez mais. Pedro continuou.
- Parece que o Padre tá envolvido em crimes, e isso ficou mais claro agora.
- Meus pais mencionaram "outros". Será que tem mais gente unida ao padre?

Pedro me contou o que viu. Desde que tinha chegado na casa, e como achou Alice. E como os encapuzadas apareceram. Com certeza Alice fora investigar sozinha e acabou caindo na arapuca desses doentes. Pobre Alice.

- Como o Padre está envolvido nisso tudo? - Perguntei.
- Desculpe interromper a conversa.
O padre entrou na sala. Trazendo uma grande lanterna. Me levantei e fui até o lado de Pedro. Nós dois encaramos o Padre. Ele parecia bem calmo. Ele se sentou em uma cadeira perto da saída. Segurava uma arma na mão e a lanterna na outra.
- Joe, sua mãe pediu para eu te contar as coisas que você precisa saber antes de você morrer . . .

morrer, minha mãe me entregou para morrer. Meu estômago revirou.

- . . . Pedro, já que está aqui. Irá ouvir a história também.

Engoli em seco. O Padre olhou para mim e Pedro e começou a falar.

- Essa história é longa, peço para que não me interrompam. Quero que isso acabe logo, lembrem que estou fazendo isso só porque me pediram como último desejo.

Pedro e eu balançamos a cabeça concordando.

- Alguns anos atrás, eu já era padre. Essa cidade era bem pequena. Eu e meu irmão estávamos aqui não planejando ficar aqui por muito tempo, mas ocorreu umas coisas que me impediram de sair. Começou a acontecer que uma mulher começou a sonhar com sua própria morte. Não era apenas um sonho, eram várias e por vários dias seguidos. Me chamaram para ajudar ela, seu nome era Fabiana. Ela estava tendo um ataque de choro. Ela tinha sonhado que matara seu próprio filho, acordando desesperada, tentou se matar. Pedia para que outras pessoas cuidassem de seu filho pois tinha medo de mata-lo. Fui o terapeuta da mulher por muitos meses. Mas então, o pior aconteceu. O filho dela acabou morrendo. Não assassinado, e sim por picada de cobra. A mulher não parava de chorar, se sentia culpada, dizia que foi ela que o matou e nada a convencia do contrário. Várias semanas se passaram. E ela finalmente acabou aceitando que o filho dela morreu por um acidente.

O padre parou de falar por alguns segundos. Depois voltou.

- Uns meses se passaram. Já estava querendo ir embora da cidade, mas então meu irmão se apaixonou por ela. Por aquela mulher doida. Começaram a andar juntos o tempo todo e depois de 4 meses de relacionamento. Tiveram um filho e se casaram. A mulher parecia bem. Acompanhei a gestação da mulher, tinha medo dela matar o bebê dentro da barriga. Os meses se passaram e ela deu a luz. Era uma menina. Uma menina de cabelos pretos. Meu irmão ficou tão feliz, sempre quis ter uma menina como filha. Estava tudo bem. Eu já tinha aceitado ficar na cidade, pela minha sobrinha.

Senti um arrepio enorme. O padre continuou a falar:

- Estava tudo bem, os anos foram se passando. Exatamente Dez anos atrás, meu irmão chegou em mim uma noite e disse para mim: " Irmão, minha mulher, está possuída!". Corri para ajudar ela. A mulher estava no chão, chorando. Sangue saia de seus braços. Ela tinha cortado seus braços com uma faca. Ela respirava forte e se debatia. Dizia ouvir vozes a chamando e chorava e gritava. Meu irmão desesperado pedia para mim rezar nela, ele pedia para eu expulsar o demônio dela. E foi isso que eu fiz. Rezei. E parou. Foi simples. Então, esses ataques aconteciam duas, três, quatro vezes por semana. Começou a chegar em um nível de acontecer todos os dias. Os cidadãos tinham medo dela. As únicas pessoas que ficavam com ela era a menina e o meu irmão. Eu via meu irmão se desgastar. Parecia mais pálido todo dia, seus olhos roxos de tantos dias sem dormir. Eu tinha pena, mas não fazia nada, aquilo era seu castigo por ter casado com uma mulher louca. Um dia, ele chegou em mim e disse: "Eu quero que ela morra, eu não aguento mais." Ele chorou. Implorou para que eu matasse sua esposa.

Pedro mantinha o rosto neutro, mas claramente tremia. Eu tinha medo para onde essa história irira parar.

- Depois daquele pedido, eu e ele construimos uma cabana de madeira escondida na mata, longe de qualquer casa. Levei a mulher e a menina para lá. Coloquei elas dentro da cabana e... e..

O padre parou. Era óbvio, ele as matou.

- Você as matou. - Disse Pedro.
O padre olhou para Pedro e com um sorriso torto disse:
- Sim, eu as matei. Matei a mulher e a menina. As torturei. Odiava elas, odiava a existência delas. Nem da menina gostava, eu mentia para mim mesmo.

O silêncio tomou conta da sala.

- O pior de tudo... - disse o padre. - é que eu gostei.

Continua.....

Nunca saia sozinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora