Ambar amanheceu com os olhos vermelhos e a cara inchada, resultado da noite anterior, em que adormeceu em meio às lágrimas depois de mais uma discussão pavorosa com Ícaro.
Os dois estavam voltando do bar onde costumavam ir com frequência quando ele iniciou uma conversa — se é que aquilo poderia ser chamado de conversa — hostil e passivamente ofensiva. Ambar, que também não era santa, respondia à mesma altura.
Até que Ícaro levantou a mão em forma de ameaça.
Ambar sentiu seu corpo tremer e seu coração disparar ainda mais. Por alguns segundos, sua visão ficou turva.
Ele nunca havia feito isso, apesar de usar e abusar da violência psicológica, essa era a primeira vez em que ele a ameaçava fisicamente.
Ela se encolheu instintivamente como um animal indefeso, e fechou os olhos, esperando o tapa.
Mas ouviu apenas a risada embriagada de Ícaro e sentiu seu braço sendo puxado com uma força esmagadora.
— Você é burra, Ambar, muito burra. Ainda acha que pode discutir comigo. — ele disse, enfurecido e cuspindo ao lado do rosto dela depois de uma pausa — Se continuar assim, seu fim será nos meus braços.
Ele a soltou com força, fazendo com que Ambar batesse a cabeça no muro ao lado.Ela seguiu o caminho inteiro atrás dele, com o braço dolorido e derramando lágrimas silenciosas pelo rosto quente de vergonha e embriaguez.
Ambar sentou-se na cama e encarou a janela da sacada em sua frente, entreaberta. Havia esquecido de fecha-la na noite anterior.
A leve brisa que entrava fazia sua pele arrepiar, e ao respirar aquele ar puro, sentiu algo estranho dentro de si. Um quê de agitação, uma inquietude jamais sentida anteriormente. Sentia o inchaço de seu rosto, e a dor das palavras e atitudes de Ícaro. Sabia que precisava mudar.
Desde o início de seu relacionamento, ela sentia que Ícaro era alguém estranho, muitas vezes subitamente romântico e atencioso, como um príncipe, mas com o passar dos meses foi se transformando em um monstro.
Agora, havia 7 anos que ela estava presa a ele, em suas promessas de mudança e de uma vida feliz no futuro.
Estavam noivos há alguns meses e seu casamento ficava cada vez mais próximo.
Porém, as palavras dele giravam em sua mente como um carrossel em velocidade perigosamente exagerada, fazendo com que em meio ao fluxo de pensamentos surgisse uma ideia, aquela ideia que há tanto tempo esperava para ser liberta, mas o medo do que poderia acontecer depois de tomar tal decisão era maior do que qualquer audácia que Ambar poderia ter. Até aquele momento.
A estranha inquietação a fez se levantar da cama e pegar o celular. Havia algumas mensagens de Ícaro, pedindo perdão e retirando tudo que havia dito na noite anterior.
Ambar sentiu a raiva e a mágoa tomarem conta de seu coração, afinal depois de tudo que havia feito, como ele poderia voltar implorando pelo seu perdão assim tão facilmente? Sentia-se descartada, desimportante e insignificante. Há 7 anos que ela sequer se lembrava como era ter paz, havia sempre algo a incomodando e a deixando insegura em relação à Ícaro.
Iria acabar com isso, antes que ele concretizasse sua ameaça da noite anterior.
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Ambar
RomanceAmbar Andrada. 26 anos. Cabelos longos e escuros, olhos de mel; não muito baixa, e também não muito alta: era o equilíbrio perfeito. Gostava de aprender novos idiomas e era dotada de uma inteligência surpreendente, além de sonhar em descobrir o mun...