Ambar

Como é o cheiro de uísque com sangue?

Passos determinados compunham seu caminho, andava como se a raiva fosse seu combustível. Ao ver Ícaro a esperando, com seu porte desgraçado de sempre, sua visão ficou um tanto turva e seu coração acelerou ainda mais e seu estômago se contorceu ainda mais e sua barriga doeu ainda mais.
Apertou os punhos, como se estivesse preparada para atacar qualquer um que ousasse lhe atrapalhar.
Quando se aproximou, ele tentou beija-la, mas com um empurrão, ela o afastou.
— Escute bem, seu filha da puta — começou ela. — Me dei ao trabalho de vir aqui justamente para por um fim nessa merda de relacionamento que eu NÃO SEI ONDE ESTAVA COM A CABEÇA QUANDO ME METI — repentinamente, toda sua angústia e indignação desabaram sobre ela como uma avalanche, fazendo com que gritasse cada vez mais. — EU TE ODEIO, VOCÊ ACABOU COM A MINHA VIDA, MINHA LIBERDADE, ME FEZ FICAR DEPENDENTE DE VOCÊ. EU TE ODEIO POR CADA UMA DESSAS COISAS!
Quando ela terminou de falar, Ícaro estampava um sorriso estranho no rosto, como se achasse a maior graça do mundo a revolta de Ambar.
Enquanto isso, Clotilde estava sentada na varanda, com um copo de uísque em uma mão e um cigarro na outra; e claro, seu gato gorducho ao lado da cadeira, alheio aos problemas humanos.
— Você está maluca, Ambar, nossa pequena discussão de ontem te deixou alterada, isso logo vai se resolver... — ele segurou no braço dela e tentou puxa-lá, mas antes que qualquer um que estivesse vendo a cena pudesse raciocinar, Ambar cravou o canivete no ombro de Ícaro, fazendo-o pular para o lado. Ele tirou o objeto do ombro, e no mesmo instante seu sangue começou a jorrar. Com olhos fulminantes e como se não sentisse dor, tentou atacar Ambar, que a essa altura já havia corrido pela calçada; Ícaro correu atrás dela, determinado a se vingar, porém foi interrompido pela rouca voz de Clotilde.
— Você não é tão inteligente assim, né seu canalha!? — disse a velha, arremessando a garrafa de uísque e acertando em cheio na cabeça de Ícaro, que caiu no chão inconsciente.
Ouviu-se um barulho estridente quando a garrafa quebrou, e o cheiro de sangue e bebida se misturou, criando um odor peculiar.
Ambar parou e virou-se para Clotilde; ora olhava paro o corpo de Ícaro em uma poça do líquido estranho, ora para a velha, que já estava entrando em seu carro de algum século antes de Cristo.
— VEM, MENINA! VAMOS EMBORA DAQUI!
Ambar cegamente obedeceu, entrando no carro.
— Se aquela praga tiver morrido, nós estamos lascadas. — disse Clotilde, acelerando pelas ruas, sem um destino certo.