Ambar abriu o contato de Ícaro e disse que precisavam conversar pessoalmente. Depois disso desligou o celular e seguiu para o banheiro; ele não fazia questão de responde-la rápido, pelo contrário, com frequência visualizava suas mensagens e só lhe respondia horas depois, deixando Ambar passar esse tempo todo se contorcendo em agonia e incerteza.
Mas dessa vez foi diferente, embora ainda houvesse inquietação em seu coração, lá no fundo ela estava desejando que ele não a respondesse.
Ligou o chuveiro e deixou que a água quente levasse embora seus pensamentos; chorava como uma criança, e sentia cada vez mais certeza de sua decisão. Ambar colocaria um fim em seu noivado naquele mesmo dia, embora não soubesse como iria seguir em frente; ela sabia que Ícaro era um homem perigoso e com quais coisas estava envolvido, e tinha medo de que ele a perseguisse ainda mais.
Sentou-se no chão, a água ainda caindo sob sua pele e encharcando seus longos cabelos, e abraçou suas pernas, colocando o rosto entre elas; Ambar costumava fazer isso quando criança, em momentos de solidão ou medo. Ficou assim durante sabe-se lá quanto tempo, mas quando saiu do banheiro em direção ao quarto, estava mais decidida que nunca.
Arrumou-se o máximo que conseguiu, embora soubesse que não precisava de muito para realçar sua beleza estonteante.
Ligou o celular novamente e lá estavam outras incontáveis ligações perdidas de Ícaro, exigindo saber antecipadamente o assunto da conversa. Ambar apenas respondeu "me encontre na esquina da casa da Clotilde daqui vinte minutos".Ambar ligou para Clotilde, uma senhora pálida e solitária que vivia numa casa antiquada e de azulejos, junto com seus três gatos e envolta por plantas, e além disso era dona do bar que Ambar e Ícaro costumavam ir.
Por incrível que pareça, as duas eram melhores amigas.
— Clô, tenho algo para te contar e preciso da sua ajuda — disse Ambar, com um toque de urgência na voz.
— Ai, minha menina, quando você fala assim dá até medo! Fala logo o que aconteceu! — respondeu Clotilde, com sua típica voz de velha fumante.
— Ontem aquele desgraçado me ameaçou, quase bateu em mim, acredita? Eu vou acabar com isso agora! Combinei de me encontrar com ele aí na esquina da sua casa. — enquanto explicava o ocorrido, Ambar pegou o canivete que escondia na última gaveta do guarda-roupa; aquele foi o último presente que seu pai lhe deu, antes de morrer em uma caçada, quando o confundiram com uma capivara e ele foi atingido, mas essa história fica pra outro momento. — Tô levando um presentinho pra ele caso ele se irrite, então só quero que você fique de olho pra se certificar de que ele não vai tentar fazer nada demais.
— Pode deixar querida, vou ficar cuidando de você enquanto ele estiver por perto, sei que tô velha e acabada, mas a minha mira é boa! Nada que um vaso de planta na cabeça daquele filha da puta não resolva — respondeu Clotilde, entre uma tragada e outra no cigarro.
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Ambar
RomanceAmbar Andrada. 26 anos. Cabelos longos e escuros, olhos de mel; não muito baixa, e também não muito alta: era o equilíbrio perfeito. Gostava de aprender novos idiomas e era dotada de uma inteligência surpreendente, além de sonhar em descobrir o mun...