Capítulo 2

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A noite escura dava seu olá calmo à velha ilha, acompanhada da valsa que o mar produzia enquanto suas ondas quebravam na praia.

Maddie entrara escondida no quarto da mãe, no qual estava evitando até o momento. Mesmo depois de ver vários marujos, até mesmo seu antecessor morrer, ela nunca estava totalmente preparado para àquilo, nunca se sentia pronta. Tanto que mais de uma vez durante sua estadia no mar, quando algo assim acontecia, ela se isolava no mastro dianteiro, ficando sentada entre as cordas das velas, apenas olhando o horizonte e quase matando Rivers e os demais de preocupação por passar dias a fio sem comer.

De mansinho, ela caminhou até a cama de madeira velha e agaixou-se ao lado da mãe. Adeline dormia com dificuldade, sua respiração pesada podendo ser ouvida até mesmo de fora do cômodo, os olhos fechados afundados em olheiras profundas, a pele opaca, sem brilho assim como o cabelo castanho cacheado, as costelas aparecendo de tão magra. Maddie chorou ao ver a mãe naquele estado, podia ver a doença sugando cada pedacinho da mulher que um dia fora cheia de vida. Ela odiou o contraste que viu entre a mulher agora deitada a sua frente e as memórias que tinha da mãe quando mais nova.

-Mamãe me perdoe... Murmurava agarrada à mão esquelética de Adeline.

Bom, uma mãe é uma mãe, e talvez por isso, soubesse, mesmo inconsciente que a filha estava ali, pois seu semblante sofrido suavizou no momento em que Maddeline entrou no quarto.

-Eu juro. Vou trazer a cura pra senhora, e então não vou mais embora de casa. Prometeu beijando o dorso da mão da mãe, e saindo do quarto logo em seguida.

Madeline se esgueirou pelo corredor pequeno da casa, tentando ao máximo não acordar a avó no outro quarto, visando o bolso do avental que ficava na cozinha. Sorte a dela que a velha Nora mesmo jovial já não podia lutar contra a idade e esquecera o bendito avental pendurado na guarda da cadeira de balanço. Vasculhando rápido o bolso, pegou o mapa e saiu de fininho pela janela sempre aberta da cozinha, cobrindo a cabeça com o chapéu de Rivers.

Se afastando um pouco da velha casa de madeira ainda com medo da avó acordar e dar uma surra nela, Maddie checou se tudo que precisava estava em seu lugar. Aquaria estava no coldre completamente carregada, tinha munição reserva para qualquer caso no bolso da calça, a bússola também em um dos bolsos da calça estava igualmente enganchado em uma corrente de prata de forma que nunca a perdesse e as adagas reservas nas botas, na cintura e dentro do chapéu estavam posicionadas caso precisasse.

Estava pronta pra partir.

Com o mapa em uma mão e a bússola na outra, a morena seguiu caminho floresta adentro em direção ao templo. Sempre escolhendo o caminho com menos árvores a fim de se orientar pela luz da lua, que sumia as vezes graças a algumas nuvens brincalhonas no céu, que insistiam em perdurar quando a floresta parecia cada vez mais densa e escura, deixando a imaginação da morena correr livre. A medida que o matagal aumentava cada vez mais, ficando ainda mais fechado, as copas mais escuras, as raízes mais profundas e os sons de animais mais altos ela sabia que estava seguindo pelo caminho correto. Não demorou muito a chegar ao lugar marcado no velho mapa aonde indicaria a entrada do lugar.

Mas não havia nada ali. Apenas pedras cobertas de musgo, arvores assustadoramente tortas com copas muito espessas e raízes enormes que fariam qualquer desavisado cair e morrer por ter batido a cabeça. Frustrada, ela colocou na cabeça teimosa que não sairia dali até encontrar a maldita entrada. Porém, passaram-se horas, e Maddie andava em círculos no local, tentando todo o possível para não surtar e simplesmente sair caçando cada animal que insistia em aumentar o piado enquanto ela perdia a paciência.

Mas Maddie sabia que aquilo era apenas uma consequência daquilo que realmente sentia a medida que começava a suar frio realmente. Estava desesperada. Imagens da mãe mais nova passavam por sua cabeça a medida que continuava a andar em círculo no meio da escuridão abandonada pela lua. A mente zunia enquanto seu estomago começava a pesar cada vez mais, fechando sua garganta no processo e, de algum modo, deixando-a enjoada.

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⏰ Última atualização: Mar 16 ⏰

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