" Do you want talk about power? So, let me show you, P-O-W-E-R."

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Escuto o apito da treinadora, indicando que o treino da manhã acabou.

Solto um suspiro de cansaço e levanto do chão frio e húmido, graças ao meu suor. E logo, vou beber água.

Nada pode dar errado, penso.

Tudo está igual sempre. Os mesmos treinos, com a mesma rotina, as mesmas pessoas, as mesmas broncas. Mas hoje seria o meu último treinamento antes de ir para minha missão em Huilk. E tento gravar ao máximo os rostos dos meus alvos, enquanto atiro minhas adagas nos bonecos de pano e madeira. Acerto todos na cabeça.

Nada pode dar errado, repito em minha cabeça como um mantra. Agora troco as adagas por armas de fogo. Acerto no centro de todos os alvos de madeira. Repasso todas as informações da missão. Huilk. Martin e Loneh. Espadas gêmeas. Entrar e sair sem ser vista. Fácil, fácil. Não era minha primeira missão, mas mesmo em 7 anos de experiência, ainda sinto que deveria todas as vezes, repassar pelo menos trinta vezes o plano em minha cabeça. Da última vez em que falhei... Não! Penso.

Após finalizar o treinamento, e repassar todas as informações pelo que acho sessenta vezes, e acertar 30 bonecos, saio da sala de treinamento.

Caminho rumo ao refeitório para pegar minha cota de ração da manhã.
Passo pelos corredores frios e cinzentos do castelo. Paro na ala do memorial com pinturas de reis e treinadores dignos de estarem em pinturas que valem milhões de moedas e as observo. Será que vou ser digna de estar em alguma como essas, no futuro? penso. Talvez, se eu fosse bem sucedida nessa missão, o Rei Theodore iria me exercer a algum cargo que seja bem visto.

Chego ao refeitório e passo pelas grandes e pesadas portas de madeira escurecida, e vou direto para a mesa de garotas na faixa etária de 17-19 anos. Eu sou um meio termo, já que faço 18 no dia seguinte.

-Ei!- uma voz rouca me chama.

- Ah, eai Sirea?- cumprimento ao pegar a ração da manhã. - Como foi o treino? - Início a conversa.

- Hum, foi até que bom. - diz, soltando um suspiro e me olhando. - Mas tenho más notícias. Parece que a Pamela ainda está desaparecida, não sei ao certo. Ouvi o Rei gritando com uma das embaixadoras, dizendo que era um absurdo não encontrarem a menina, e que ele perdeu uma soldada.

Isso me atinge. Abro e fecho a boca algumas vezes, e solto um suspiro.

- Pam é inteligente. Se ela escapou, foi porque não gostaria de ser encontrada. Não deveriam ficar a procurando, até porque fomos treinadas igualmente. - digo e dou um suspiro. - Espero de verdade que não nos mande para a executar. Seria péssimo.

Me sento no banco duro e frio, ao lado de Sirea. Comemos nossa ração em silêncio, ela nos próprios pensamentos e eu nos meus. Não faça nenhuma besteira, Pam. penso.

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Um sino soa, e indica que é hora do jantar. Me levanto do colchão duro, e as molas rangem com a troca de peso. Solto um suspiro e vou em direção ao banheiro triste. Os ladrilhos, antes brancos, agora acizentados e desgastados com o tempo, a banheira amarelada, a madeira da pia desbotada, o piso cinza. Outrora, eu tentara limpar mas foi ali que eu aprendi, que certas coisas não conseguem serem limpas de uma só vez. Então, semanalmente eu tento o manter limpo.

Ligo a torneira da banheira, e deixo a temperatura quente. Solto os meus cabelos e massageio o couro cabelo, dolorido graças ao rabo de cavalo firme que uso no treino. Após despida, observo o reflexo que me encara de volta. Sinceramente, eu não reclamaria do meu corpo. Eu o amo. Ele é esbelto e forte, mas com cicatrizes. Eu tento as ignorar. Meus cabelos brancos com mechas escuras está mais forte e maior do que a alguns dias atrás, o que significa que a nova ração estava mesmo fazendo efeito. Interessante.

Entro na água quente, e solto um suspiro de satisfação após um longo e cansativo dia. Esfrego meu couro cabeludo com um sabonete de lavanda, e me lavo. Me esfrego e encaro o meu reflexo na água.

Penso sobre como nunca conheci meus pais. Mas, o Rei diz que herdei a aparência do meu pai, e a força de guerreira de minha mãe. Meus olhos azuis tempestuosos e teimosos sempre recebem comentários de como lembram os de meu pai. Mas, a determinação que faz com que eles brilhem, dizem que vem de minha mãe. Bufo, ao pensar em como sou estúpida por acreditar nisso. Eu sou uma filha de ninguém. E não adianta o que falam sobre com quem eu me pareço, eu nunca os conheci e eu não me importo com isso.

Saio da água após alguns minutos, me seco e coloco uma calça larga e uma camisa puida. Deixo meus cabelos em ondas soltas e saio descalça rumo ao refeitório. Ao passar pela porta de Sirea, bato três vezes com força na madeira escura, e espero alguém vir.

- Já vai! Já vai! - diz uma voz abafada vindo de dentro.

A porta é aberta e o rosto estrelado de sardas de Sirea aparece. Ela me encara profundamente com seus olhos verdes musgo, antes de dar uma risada e sair.

- Não tenho atualizações do caso da Pam, nada vindo de Juliana. - diz na cara dura e sorri nervosamente para mim. - Desculpa, mas não pude evitar de te contar.

Dou uma risadinha e a olho agradecida.

- Não se preocupe, eu gostaria de que qualquer coisa que você tagarelasse ou soubesse sobre Pam, viessa direto me contar. Por favor! - a olho fazendo biquinho.

- Tá! Tanto faz - diz ela fingindo indiferença, escondendo o sorriso.

Chegando ao refeitório, os aromas das deliciosas comidas batem em meu rosto. Minha boca saliva por comida. Talvez porquê eu não tenha comido nada a tarde, e tenha passado o dia inteiro dormindo para carregar o máximo de energia possível pra missão, ou talvez porque eu não queria comer ração, então eu iria esperar pela única refeição decente: o jantar. Então, faço bom aproveito disso e encho o meu prato com as iguarias. Pego frango assado, arroz na curcúma, ervilhas na manteiga, bife de vaca, salada de maionese ( típica da região Tyjh), batatas assadas e purê.

Me sento no banco duro, novamente. E vejo Sirea sentar ao meu lado com um pão na boca. Eu dou risada quando ela me olha sem entender o porquê eu estar rindo da mesma. Mas eu estava rindo porque eu iria sentir falta dela, e do que talvez, podemos chamar de amizade. Na Sala Vermelha, nunca deve se fazer amizade com ninguém, porque nunca se sabe quando vai precisar lutar contra elas. Mas, é impossível não ser amiga de alguém tão gentil e meiga, quanto Sirea.

Vou tentar voltar pela minha melhor, e única amiga...


Após eu me empanturrar de comida, e dar muita risada, vou para o meu quarto.

Caminho pelo corredor frio e triste a passos largos e rápidos, sem olhar para trás.

Chego ao meu quarto e me jogo na cama. Solto um suspiro e pego meu caderno de desenhos. Será que existe algum lugar em que a vida não seja sem cor e triste? Um lugar diferente da sala vermelha? Penso.

Observo o céu pouco estrelado e tento o reproduzir em meu caderno de anotações. Após avaliar algumas vezes o trabalho finalizado, declaro que não estava horrível. Escrevo algumas notas sobre a missão e encaro o lindo céu. Dou boa noite às estrelas, solto o ar e vou dormir.

Entre Ferro E FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora