Paro a moto em frente a casa do meu amigo, me sentindo a top das top, com minha calça preta rasgada, uma regata branca e minha jaqueta de couro, colar de cordão preto com uma pedra, que comprei em minha primeira viagem de férias, que não quero nem lembrar de como foi não poder usar biquíni na praia por causa do ciumento do Pedro, não consegui ficar com ninguém, com dezenove anos nunca consegui dar um beijo decente, todos os possíveis encontros foram interrompidos por um dos meus irmãos, uma vez eu estava tentando ficar com o Marcos, um boy magia lindo, e quando eu estava pra beijar naquela boca gostosa, como num passe de mágica o Miguel apareceu agindo como se fosse meu pai, só queria saber como ele sabia exatamente onde eu estava.
Enquanto eu divago sobre minha maldita falta de sorte, meu best sai de casa toda cheirosa e trabalhada na jaqueta rosa, pisco pra ele subindo a viseira de proteção do capacete e ele sorri gostoso.
—Math se segura que hoje estou com sede de adrenalina. - ele me aperta em seus braços como se fosse sua tábua de salvação, me abraça tão forte que não consigo respirar.
—Math não precisa me sufocar...— ele diminui o aperto mas volta segundos depois que eu acelero a moto e saio costurando entre os carros, ouço as buzinas mas faço de conta que estou surda.
Desço da moto, após o Math descer e respirar aliviado sentando no meio fio, olho no relógio e percebo que levei metade do tempo pra chegar.
—Vou falar pro Jorge nunca mais te emprestar esse monstro.
—Você é um homem ou um rato? Levanta daí que hoje tem aula de eletrônica.
Ele faz careta.
— Prefiro ser uma hamster, e eu não faço o mesmo curso que você, hoje eu tenho aula com a prof. Olívia, se aquela mulher fosse um homem eu pegaria.
—Que gosto esquisito você tem, a professora Olívia é muito tímida e reservada, tem a voz mansa e doce, é reservada e misteriosa.
-—Exatamente! Porque você acha que eu sou apaixonada por seu irmão há tantos anos? Ele esconde muito, mas sei que por trás de todo aquele gelo tem um homem muito, muito quente.
—Argh credo não quero pensar no meu irmão desse jeito.
Entramos no prédio conversando sobre tudo, no meio da aula o professor Geremias Gomes, nosso querido GG, interrompe a aula.
—Amanhã vocês venham preparados, consegui uma palestra com um dos donos da maior montadora do país, tragam materiais pra gravar ou anotar tudo, essa palestra vai ser muito importante, vai fazer vocês lembrarem porque escolheram esse curso.
Nesse curso há pouquíssimas mulheres e as que tem tem um estilo totalmente diferente do meu.
— Bom final de semana galera, estudem...
Estou me aproximando da moto, quando Math segura meu braço.
—Cath não vou pra casa hoje, cansei de esperar seu irmão. - meu amigo parece cansado, desanimado até, ao falar do meu irmão.
— Oi Cath Cath, me dá uma carona... Meu irmão buscou meu carro.
Joaquim Freitas o cara mais bonito da turma veio falar comigo, ele já me deu mole várias vezes, mas é rodado demais, não é que eu queira alguém pra casar, mas ele já ficou com metade da faculdade.
— Tem certeza?! - Math pergunta, surpreso, assustado.
—O que tem demais? - meu amigo dá um sorriso sem graça.
— Depois você me fala.- meu amigo sai em direção ao estacionamento e entra em um golf vermelho.
—Coloca o capacete.
Falo em tom de ordem, e ele sorri como se tivesse gostado de receber tal ordem. Acelero a moto sem dar partida e vários alunos olham para nós, ele passa o endereço e já conheço o caminho, totalmente fora da minha rota, ele mora em um condomínio de luxo, por nome de welkend, as ruas arborizadas escondem suas mansões, Joca (como gosta de ser chamado) desce da moto e antes mesmo de retirar o capacete se senta no terceiro degrau da enorme mansão estilo americano, alguns seguranças chegam.
—Está tudo bem senhor Joaquim. - um deles, o mais alto pergunta em tom formal.
—Cara, já te pedi mil vezes pra me chamar pelo apelido, estou bem, vaza.
Ele fala em tom brincalhão.
—Está entregue... Vou indo.
Ligo a máquina novamente.
—Espera... Deixa eu te oferecer pelo menos um suco, um refri...
—Obrigada, mas minha carruagem vira abóbora à meia noite. — dispenso qualquer que seja sua intenção, sabendo que não é o que está me oferecendo.
—Me passa seu número, no caso... Pra eu saber se você chegou viva em casa, do jeito que gosta de adrenalina...—
Olho atentamente o belo rosto à minha frente e está mais pálido que o normal.
—99342000... - passo um número que não existe.
—Espera não ouvi direito.
Eu já estava chegando no portão, antes mesmo que ele terminasse de falar.
Paro para os seguranças liberar minha passagem.
—A senhora não está autorizada a sair, seu Joaquim disse que está com algo dele... - nesse momento os portões se abrem, e eu aproveito a oportunidade pra cair fora, acelero com tudo sumindo pelas ruas sem trânsito por causa do horário.
Chego em casa, e lembro da situação, fico com medo de terem chamado a polícia, mas o Joaquim não seria tão idiota, é final de semana então apenas eu e meu pai ficamos em casa, tenho cinco irmãos, Jorge, Pedro, Miguel, Manoel e Rafael, mas ficamos apenas eu e Jorge morando com nosso pai, Rafael se mudou para Curitiba assim que conheceu minha cunhada, eles começaram o próprio negócio e vivem bem, apesar de terem apenas trinta e poucos anos eles são bons empreendedores, e adivinha o que eles vendem? Peças de automóveis, é claro, Manoel é o único que não seguiu esse ramo, é apaixonado por cozinha e um excelente chef, o Miguel vocês já conhecem e que ele nunca ouça, mas é o irmão mais bonito, não que os outros não sejam, quando eu era mais nova e todos moravam aqui inúmeras meninas tentavam se aproximar de mim na intenção de ficar com um deles, uma ex colega a Olívia dizia que qualquer um deles servia, acho que ela deu pra todos, menos o Miguel que não dava bola pra ela, algum tempo depois ela engravidou e foi o maior bafafá pois não sabia quem era o pai, e por fim não era de nenhum dos meus irmãos, tivemos que pagar DNA e tudo, mas era de outro colega, alguns meses depois ela perdeu o bebê.
Mas voltando ao Miguel ele é realmente o mais bonito, parece um anjo, as mulheres suspiram quando o vêem, mas seu charme se perde no meio do olhar gelado que ele encara as pessoas, uma vez o Math veio me perguntar se eu sabia com quem e se ele tem namorada, mas eu não consegui a informação, até mesmo eu não sei como conversar com ele, sempre fico sem graça como se estivesse fazendo algo errado.
O Jorge é brincalhão e gosta de me mimar, o Pedro é o mais inteligente, todos eles são bonitos, uma vez saímos os quatro, assim que completei dezesseis, eles me levaram para o cinema, e por onde passávamos dava pra ver a baba escorrendo da boca de algumas pessoas, e eu no meio me achando, eu sou mediana, minha altura é mediana, meus cabelos lisos e curtos e preto, meus olhos são verdes, mas alguns dizem que são azuis, seios médios, magra, cintura fina.
- PAI cheguei! Tem comida?
- Tem marmita que seu irmão mandou entregar.
- Ele sabe o que eu gosto. - meu sorriso de satisfação é enorme quando abro a tampa da marmita.
Não tivemos mãe, mas meu pai e meus irmãos me minaram, do jeito deles mas não tenho o que reclamar, dizem que a mamãe nos abandonou e foi pra outro país com um gringo, eu não tinha nem dois anos então não me lembro dela, papai guardou uma foto, mas já procurei em todos os lugares e não encontrei, ele diz que ela era vaidosa e muito bonita assim como eu. Me olho no espelho e realmente não sou feia, queria ter seios maiores, mas não estou completamente insatisfeita com os meus, me preparo pra dormir quando meu telefone toca, esse horário quase sempre não é boa notícia.- Quem é?- a pessoa do outro lado respira fundo.
- Peguei seu número do rapaz que está comigo, ele está muito bêbado, se envolveu em uma confusão por causa de uma mulher, ele mal conseguiu falar seu número, peço que venha buscá-lo, a voz marcante do outro lado fez o pelo da minha nuca se arrepiar.
Pego minha jaqueta, a carteira e um boné, e sim, nesse momento estou parecendo um macho, gosto de vestir as roupas deles, ainda mais a do Miguel que se irrita, meu celular toca novamente e abro a mensagem é a localização do bar.
Pego as chaves do carro e acelero seguindo a localização, estaciono em frente a um bar de gente rica, acho que meu irmão está ganhando uma boa grana como mecânico, ele saiu da nossa oficina há poucos meses e foi contratado por uma grande empresa.
Estaciono o carro em frente ao bar e vejo meu irmão resmungando algo e um cara bem vestido entra em um carro luxuoso, não consigo reconhecer, nem ver quem está ao volante, desço do carro e coloco Miguel no banco do passageiro, ele parece dormir com os braços sobre o rosto, algumas tatuagens tribais cobrem um dos lados dos ombros e braço, sua camisa regata preta está totalmente desalinhada, sua jaqueta preferida aberta, ele parece um playboy/badboy.
É o mais ciumento e controlador de todos eles, mas é o que me socorre em qualquer momento.
Chegando em casa ele desce do carro como se nada tivesse acontecido e bate a porta do seu antigo quarto, não pergunto nada mesmo morrendo de curiosidade, ele parece irritado está um pouco machucado e não aceita ajuda.
Rolando de um lado para o outro na cama não consigo esquecer aquele perfil, entrando no carro, até que o cansaço vence e acabo sonhando com um homem de roupas sociais.
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Sem freio
ChickLitCatarina é filha única entre quatro irmãos, criada apenas pelo pai, abandonada pela mãe, era pra ser a princesinha da casa, a que faz os serviços domésticos, e cuida dos irmãos, porém prefere ficar na oficina com as mãos sujas de graxa, mesmo trabal...