Em todo lugar que passo vejo olhos puxados, escuro por intensidade, e castanho claro surpreso, cabelos caídos sobre a testa e sobrancelhas grossas e perfeitamente desenhadas assim como sua mandíbula, o homem é de matar.
Não importa a velocidade que injeto a caminho de casa, em qualquer esquina vejo seu olhar me queimando, me fazendo querer...
— O que?! — surpresa com meus pensamentos freio em frente à minha casa sem realmente perceber o caminho, levei metade do tempo até aqui.
— Catarina onde você deixou minha Neném! Ó bebê vem pro papai, Jorge toma a chave da minha mão, o ignoro.
— Como está o Math? — ele grita e só então me lembro do meu amigo, pego rapidamente meu telefone e ligo pra tia Lúcia, passando do meu quarto para o banheiro, hoje foi um dia longo e ainda tenho aula.
Tia Lúcia atende, conversamos sobre meu amigo, seu filho recebeu alta após uma longa bateria de exames, até sorológico teve que fazer, ainda bem que deram todos negativos.
Entro na sala da faculdade, usando calça jeans azul apertada, sapato fechado, cabelo levemente caracolado por chapinha, onde passo homens e mulheres olham, não estou me achando não, é por causa dos meus olhos, sei que são parecidos com os de um gato, não me acho superior por ser mais bonita que a média das garotas daqui, não tenho muitas amigas, nem amigos, a maioria das vezes só entro, assisto a aula e vou embora, sem conversar com ninguém.
Já tentaram chamar minha atenção, um convite ou outro pra sair, mas dou uma desculpa qualquer, me acham metida, mas realmente quero apenas estudar, com meus pensamentos viajantes vejo o professor entrar.
— Boa noite galera! Alguém cansado? Sono? ACORDA MEU POVO! — o professor GG tá cheio de energia hoje.
— Trouxe os gravadores? Hoje temos palestra! Todos pro auditório!
A turma se levanta e eu fico com cara de idiota, esqueci o meu gravador em casa, mas ainda bem que trouxe o celular, ando a passos lentos até o auditório escuto algumas conversas aleatórias: "você pesquisou sobre nosso palestrante? Que homem! Que homem lindo, maravilhoso! Gostoso"Nossa elas estão desesperadas por causa de um homem, vai ver nem é isso tudo...
— Deem uma salva de palmas! Apresento a vocês Antônio Xavier Whoo!
Todos aplaudimos... Primeiro vi um terno caro e bem alinhado, sapatos sociais brilhantes, antes de olhar seu rosto, ligo o gravador do celular e quando olho para o palco do auditório tudo fica mudo, lá está ele... Cabelos escuros penteados pra traz, algumas mechas sobre a testa, olhar penetrante, prendo a respiração, e escuto o suspiro apaixonado de todas as mulheres do auditório.
Uma coisa vem em minha memória, eu havia esquecido à tarde, esse homem já me viu pelada! Ó meu Deus! Procuro algo pra me esconder, mas já é tarde demais, quando seu olhar surpreso encontra o meu, novamente tenho uma taquicardia, ele limpa a garganta.
— hum... Hum... Boa noite pessoal... — daí pra frente não escutei mais nada, ele fala, fala e é como se não falasse nada, eu só sei observar ele sorrindo com alguma pergunta, uma mão dentro do bolso da calça enquanto a outra gesticula, enquanto eu fico nervosa louca pra enfiar as mãos nesse cabelo e afastar da testa.
— Muito obrigado por sua atenção... Até a próxima... — o barulho das palmas me fez perceber que não ouvi nada, sou a primeira a levantar e fugir, mas uma mão quente segura meu braço, sinto uma corrente elétrica passar pelo meu corpo, mesmo sem olhar sei a quem pertence essa mão.
— Vai fugir de novo? — ele se aproxima e fala baixinho.
— E-eu não estava fugindo! — falo alto demais, me viro e minhas pernas amolecem quando encaro seus olhos escuros, minha pele arrepia e fico envergonhada pela reação imediata que esse homem causa em mim, os alunos que estão saindo começam a cochichar..
— Engenharia automotiva hein? Quem diria... Pensei que fosse modelo, influencer...
— Gosto de carros... — Ele relaxa o aperto e só então percebo os olhares, alguns de inveja e outros de admiração.
Alguns cochicham.
— Já sabe onde irá estagiar?
— Ainda estou vendo... — ele coloca a mão no bolso, nem percebi que estávamos andando lado a lado...
— Vou pedir ao secretário Bao pra olhar suas notas... Veremos se é uma aluna aplicada...— isso me causou uma certa indignação, o nervosismo ainda operando, então dou uma resposta exagerada.
— humpf quem disse que eu preciso trabalhar pra você? — Sei que sua empresa é uma das melhores no ramo automotivo.
— Tem certeza? Vai perder uma excelente oportunidade... Não vai encontrar empresa melhor nessa região, ou no mundo.
— Muito obrigada, passar bem... — ando desesperada até a sala, mas percebo que preciso usar o sanitário, me sinto incomodada com a umidade em minha calcinha, talvez seja menstruação, algumas pessoas me encaram, subo as escadas e entro no sanitário feminino, me encaro no espelho e percebo que estou vermelha, não sei porque me sinto assim, era apenas uma conversa casual...
Sinto vontade de fazer xixi.
— Você viu? Aí que inveja, os dois são bonitos demais, ela tá que tá hein, um dia desses era o Joaquim, quem diria hein, a santinha, agora tem esse empresário, Antônio Xavier que é o sonho de todas. — percebo que estão falando de mim.
— Ah esquece, ela é apenas uma piranha querendo dinheiro dos caras ricos, de santinha não tem nada, aposto que até o final do semestre geral já pegou. —
Reconheço essa voz, é a Ana Júlia, ela andava estranha comigo, agora sei por que, só estava fingindo ser minha amiga.
— Credo, até semana passada você vivia na cola dela...— escuto Ana bufar.
— Eu queria que o Joca me visse, você sabe que eu estava completamente apaixonada por ele, mas já consegui o que queria, então não preciso mais dela.
— Isso não faz de você pior que ela?! — a outra ri, mas sua risada parece vazia.
— É claro que não, eu consegui ficar com ele, e eu não fico me fazendo de inocente... Tão bonita, mas tão ridícula.— ela gargalha e eu me sinto magoada, sei que não cheguei a dividir meus segredos com ela, mas tive esperança de me tornar sua amiga, fiz planos de sair com ela pra alguma balada.
— Foram quantos esse mês? Além do Paulo, Joca, Saulo...
— Nem sei mais... Só não consegui ficar com um dos irmãos daquela otária ainda, se você acha ela bonita imagina seus dois irmãos mais velhos. Acho que fiquei com a maioria dos babacas, peguei geral.
— Toma cuidado... — elas saem e aproveito pra sair da cabine, sufocada, respiro fundo, me olho mais uma vez no espelho.
— Não, eu não sou igual ela...— Lavo meu rosto. Sou super protegida, tenho meus irmãos, meu pai, e agradeço a Deus por ter eles.
Saio do banheiro e encontro o corredor vazio, daquele dia em diante nunca mais falei com a Ana.
******
Três meses depois
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sem freio
ChickLitCatarina é filha única entre quatro irmãos, criada apenas pelo pai, abandonada pela mãe, era pra ser a princesinha da casa, a que faz os serviços domésticos, e cuida dos irmãos, porém prefere ficar na oficina com as mãos sujas de graxa, mesmo trabal...