Desço do carro e ligo o alarme, sim, o carro nem é novo mas possui alarme, retiro com a mão o cabelo dos olhos, o corte é curto mas ainda dá pra colocar algumas mechas atrás da orelha, comprei um mini gravador, pra gravar a palestra de hoje, antes de chegar na porta da faculdade, alguém toca meu ombro, pensado que é o safado do math que me trocou por algum macho me viro sorrindo, mas desfaço o sorriso quando vejo o sorriso do Joaquim.
- Oi... Estava esperando que fosse outra pessoa? - seu sorriso morre.
- Sim! - falo o óbvio.
- Mas sou eu, posso conversar com você? - ele está achando que me ganha fácil.
- Joaquim, desiste, eu não vou ficar com você, você não faz meu tipo. -
Sei que ele é muito popular, até entre as professoras, mas não gosto do jeito que ele trata as mulheres.
- Quem disse que eu quero você, olhe só pra você, parece um macho, suas roupas são quase masculinas. - Ele aumenta um pouco o tom de voz como se estivesse me dispensando e só percebo o motivo quando olho para trás e vejo um grupo de mulheres se aproximando, algumas me olhando com pena, não respondo ele apenas ignoro.
Mas ele segura meu braço, e aperta firme, não sinto dor, mas me incomoda.
- Isso não vai ficar assim, mais cedo ou mais tarde você vai ficar louca pra subir na minha cama...- ele sussurra em meu ouvido e eu o afasto.
- É mais fácil o papa casar.
Ele sorri, mas fico incomodada com seu olhar.
Entro na sala ainda incomodada, uma das garotas que me viram conversando com o Joaquim se aproxima.
- Oi, eu sou a Laura... - ela olha em meus olhos e fica surpresa, sim, meus olhos são verdes turquesa, dependendo do meu humor ele muda de cor para um verde mais escuro, o cabelo que antes era claro agora ficou escuro, mas acho que a garota a minha frente perdeu a voz.
- Oi Laura, o que você precisa?-
Ela sorri um pouco boba, será que essa guria gosta de mulheres?
- Nossa! São verdes ou azuis?
Sorrio educada.
- São verdes... - ela sorri.
- É muito bonita.
- Obrigada.
A sala enche aos poucos e todos se sentam quando o professor entra.
- Pessoal, prometi uma palestra, porém o homem é muito ocupado, então vai se atra... - escutamos uma batida na porta, o professor atende quem quer que seja.
- Gente não vamos ter palestra hoje, o senhor Antônio Xavier ainda não chegou de Santa Catarina vou tentar remarcar.
Nosso querido GG parece desanimado.
As aulas se arrastam, o final de semana passou voando, mas as aulas são infinitas, ainda bem que é o que eu gosto.
Saio da sala, e lá está Joaquim conversando com os amigos e rindo de alguma coisa, parece combinar alguma coisa com os amigos.
- Oi, oi... Catarina... - ele me chama e eu apresso o passo até o carro, péssima hora pro Math me abandonar.
Ele não teve aula hoje, uma moto para ao lado do meu carro, sorrio abertamente para Miguel que está sério olhando algo atrás de mim.
- Oi Cath Cath... Como foi a aula?
- Oi guéguél! Foi ótima. - abraço meu irmão que se afasta incomodado.
- Tem algo te perturbando? - olho pra ele, que está parecendo um gangster todo preto, cordão prata, seus olhos azuis são mais impressionantes que os meus, em alguns momentos de distração eles brilham como se fosse um gato, quando está irritado fica mais gelado que o polo norte.
- Passei pra te ver. - Curiosidade ativa.
- Vai passar a noite fora?
- Talvez...- parece sério.
- Vá direto pra casa, papai está esperando. - fala olhando pra Joaquim, ele ordena, mas já estou acostumada com seu jeito.
- Cuidado... - meu peito aperta um pouquinho, mas logo passa, meu irmão parece indestrutível e inabalável, mas esse final de semana descobri que ele na verdade guarda tudo dentro de si.
Ligo o carro e finjo que vou pra casa, tento seguir ele mas o perco de vista entre o engarrafamento. Os dias passam monótonos, não presto mais atenção em nada além do meu trabalho na administração da oficina, no concerto de alguns carros com minha família, nas matérias.
Joaquim mudou de abordagem e agora somos amigos, Math achou um namoradinho e me abandonou, então estou cada vez mais próxima de Ana Júlia e Joaquim, Juju, como gosta de ser chamada é uma menina doce e carinhosa, mas muito inteligente, dá pra ver que ela arrasta um bonde por nosso amigo.
- Cath, amanhã tem uma festinha de aniversário na minha casa, não quero que leve presente, apenas vá, e você também Juju, É sábado então nem invente desculpas. - ele gritou a última parte correndo pra cumprimentar seus outros amigos que o receberam com um cumprimento batendo as mãos fechadas, fazendo comentários sobre o que vão fazer no sábado.
Hoje é sexta-feira e me arrumo um pouquinho mais, faço uma maquiagem leve destacando o verde dos meus olhos, subo na moto, que consegui emprestada novamente do meu irmão, em troca vou uma vez semana que vem arrumar seu apartamento novo que ficará pronto no início da semana, paro em frente a casa do meu amigo e o vejo entrar em um carro esporte novo, buzino alto e brava por ter sido trocada.
- TOMARA QUE ESSA LINGUIÇA MURCHE, AZEDE E VOCÊ NÃO CONSIGA NEM CHUPANDO! - grito alto quando ele tenta falar comigo e saio acelerada, descontando minha raiva no acelerador.
Amigo que é amigo não para de falar quando encontra um Crush, o Math está passando dos limites da nossa amizade.
A aula passa rápido e quando saio da sala lá está ele me esperando com um sorriso de desculpas, que eu não vou aceitar.
- Não precisava me esperar, já que me trocou...
Ele faz cara de cachorro molhado.
- Cath Cath, é diferente vai! Me desculpa mas eu tô saindo com esse boy e ele é tudo de maravilhoso.
- Se ele é tudo de maravilhoso então vai, abandona sua amiga de infância e corre atrás, senão ele foge.
Aconselho, mas me sinto triste e ciumenta.
- Você sabe que mora no meu coração e não paga aluguel, mas é diferente, Cath ele tem uma coisa que você não...
- Arg nojento, vai atrás do seu par de calças. - já estávamos no estacionamento e eu só percebi quando liguei a máquina e deixei Math falando sozinho, ele se apaixona rápido, fácil, se entrega e volta aos pedaços, sou sempre aquela que junta seus caquinhos e remenda, mas estou ficando cansada.
Chego em casa ainda put#, sempre que ele acha alguém eu fico de lado, ele não me inclui, nunca me apresenta, diz que quando conseguir conquistar meu irmão vai quietar, mas eu sei que é promessa vã, meu irmão nunca deu um segundo olhar pra ele, nem pra ninguém.
Como a janta que papai preparou e vou para o quarto me preparo para dormir, tomo banho e faço minha higiene pessoal, me sinto sem sono então vou assistir vídeos de injeção eletrônica.
Gosto de assistir tudo sobre carros.
Durmo com a voz do professor do vídeo e acordo tranquila, alguém me cobriu e tirou o notebook dos meus braços e imagino que tenha sido o papai que até hoje passa no meu quarto pra conferir meu sono, ele sempre foi assim, carinhoso, sem ser invasivo, não conversa sobre assuntos íntimos mas se preocupa e pede conselhos dona Amália, que me fez um medo danado sobre a primeira vez, disse que dói pra caramba e pode sangrar e que pode vir um bebê, me aconselhou esperar o casamento, mas ainda não fiz por falta de oportunidade.
Hoje não vou pra mecânica, vou organizar e limpar a casa, lavar roupa e depois, me arrumar pra ir no aniversário do Joca.
Me olho no espelho e nessas horas sinto falta de uma amiga, pra opinar sobre meu vestido, maquiagem e essas coisas de mulher, já que meu amigo sumiu, me olho no espelho, o cabelo liso e molhado penteado para trás, os olhos parecendo maiores por causa da maquiagem me faz parecer um mulherão experiente, o vestido estilo grego todo branco, não permite o uso de sutiã, sim, estou sexy e não estou feia, básica, e isso é bom, não chama atenção, coloco um biquíni e um short em uma bolsinha, já que vai ter piscina. Espero que hoje eu consiga sair dos beijos e amassos, e também que não seja o Joaquim.
Entro no carro, já quase meia noite, mas disseram que seria tarde, então não estou tão atrasada, ando tranquilamente pelas ruas, os prédios dão lugar a ruas arborizadas e sei que estou entrando no condomínio luxuoso, minha entrada é liberada, estaciono meu carro um pouco mais afastado, a maioria dos que estão aqui são carros novos, um ou outro comum igual ao meu, mas não sinto vergonha, tenho medo de arranhar um desses carros, já que são uma fortuna.Desço do carro e alguns dos rapazes e algumas moças me olham, eu sei que estou vestida parecendo uma mulher adulta, muito diferente do estilo adolescente rebelde que vou pra faculdade.
- Wow como você está linda!! Vem cá deixa eu te apresentar meus amigos, Luan, essa é a Cat, esse é meu amigo Luan Ambrosio, filho do dono da siderúrgica Ambrós.
- Prazer... - sorrio um pouco sem jeito quando ele pega minha mão e a beija de forma cavalheiresca, porém não gosto do seu olhar, meio vidrado, retiro minha mão da sua.
Joca me pega pela mão passando pela piscina já cheia de gente e me leva até a churrasqueira, abre um freezer e me entrega uma garrafa com uma bebida azul, vodka com alguma coisa, nunca bebi nada muito forte, meus irmãos não permitem que eu beba além de uma dose, mas eu sei que preciso me cuidar num lugar como esse, então não vou com muita sede ao pote, Joca me oferece alguns petiscos e parece concentrar toda sua atenção em mim, alguns olhares de inveja, outros de cobiça, ignoro todos eles e fico próximo a mesa de petiscos, afinal, a única parte boa dessas festas são as comidas, bebo mais algumas bebidas e sinto vontade de ir ao banheiro.
- Você viu a nova conquista do Joca?
Uma voz feminina pergunta.
- Vi sim, confesso que não sei se tenho inveja dela ou dele... - a outra faz som de desagrado, e bufa.
- Muito bonita a desgraçada, se eu fosse bi igual você eu também ia querer.
- Infelizmente ela parece quietinha demais, já já ele cansa e vem atrás de mim.
A outra ri.
- E você aceita, de otária.
- Dessa vez eu juro que não aceito.
- Anna quantas vezes você já jurou que não aceitava e acabou sedendo na primeira tentativa.
- Ah o infeliz é safado e sabe fazer...-
Elas suspiram.
- E eu não sei... Lembra aquela vez que nós duas...
Elas saem e eu fico curiosa pra saber o que elas fizeram com o Joca, imagino até o que fizeram, mas na minha inocência não permitia eu saber exatamente como era.
Saí do banheiro após elas saírem, lavei minhas mãos e andei ao lado da piscina, quando alguém esbarrou em mim, tomei sem querer alguns goles daquela água suja, mas em segundos braços fortes me ergueram.
- Ei, ei, você está bem.
Recebo dois tapinhas no rosto e abro os olhos pra dar de cara com dois pares de olhos completamente pretos de Joca, suas iris castanha foram completamente tomadas pelas pupilas, quando acompanho seu olhar e vejo que meu vestido branco ficou quase transparente, dava pra ver meus mamilos um pouco rosados.
- Me desculpe mas eu não aguento mais.
Ele me agarra e me beija, por um instante não reajo, ainda me sinto um pouco tonta da bebida, mas em segundos percebo tudo, e o empurro, ele se afasta com um sorriso convencido.
A primeira reação que tenho é levantar a mão e dar um tapa estalado em seu rosto, a galera silencia.
- Você não pediu autorização... - fujo da piscina, trêmula, não sei se pelo frio ou por nervosismo, e me sento em um local um pouco afastado, foi só um beijo, porque eu reagi daquele jeito?
- Quer um copo d'água?
Uma voz doce me oferece, aceito sem pensar e cuspo no primeiro gole, a garota ao meu lado começa a rir.
- Quer aguinha vai pra casa neném, aqui não é lugar pra você.
- Quero ir pra casa... Onde é a saída?
- Vou te ajudar vem... Irmão espero que você saiba aproveitar esse presente...
- O que? Que presente?
Eu já estou completamente bêbada pra entender as palavras daquela estranha, estranhamente simpática.
Mas antes de chegar ao destino a garota é arrastada por um bando de amigos, me deixando sozinha e completamente tonta.
Uma cama, ai que maravilha... Caio sobre uma cerca viva e sinto que me furaram em todos os lugares, rolo um pouco e paro quando alguém me segura.
- Essa cama não é confortável, vou falar com o papai pra trocar.
- Aí está você... Meu rosto está ardendo até agora...
- O que você quer? - reconheço que é o Joca mas estou completamente vulnerável.
- Fica se fazendo de difícil mas sei que me quer... Todas querem.
- Eu... Eu não quero. - tento dizer que não quero ele, mas minha voz sai enrolada.
- Mas eu estou ficando louco por você... Só um beijo vai, não vou arrancar pedaço... - ele se debruça sobre mim e me beija um pouco mais forte e eu sinto ânsia de vômito, mas o vômito não vem.
Não sei se por imaginação ou auto defesa, começo a perceber que tem alguém tentando invadir meu espaço e começo a chutar, escuto um uivo.
- Uai! Você cria um lobo?! Um cachorro?!- Levanto na maior rapidez.
Entro por uma porta chamando pelo cachorro, quando escuto um latido.
Em um piscar de olhos estou no chão completamente entregue a algo que está amando lamber meu rosto, por algum motivo sei que dessa vez não é o Joca.
- Vou considerar esse o meu primeiro beijo tá bom, o do Joca não valeu, eu não queria.
Tudo fica escuro e não sinto mais nada.
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Sem freio
ChickLitCatarina é filha única entre quatro irmãos, criada apenas pelo pai, abandonada pela mãe, era pra ser a princesinha da casa, a que faz os serviços domésticos, e cuida dos irmãos, porém prefere ficar na oficina com as mãos sujas de graxa, mesmo trabal...