ENQUANTO DURAR

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Quando Macau chegou à casa de Tay, ele sabia que Tay estaria furioso. Mas a verdade é que Tay não estava. Ele já tinha chorado o suficiente. A maturidade traz essa capacidade de se reerguer.

- Tay, me desculpa, eu só...
- Sabe, Macau, você nem precisava dizer que eu era o amor da sua vida. Você só precisava dizer que a gente estava se conhecendo.
- Eu preciso de tempo, Vegas...
- Você não tem mais tempo, Macau. Não comigo. Percebi que pessoas confusas não devem começar um relacionamento com outras, pessoas confusas devem procurar terapia. Estamos terminando aqui. Desejo tudo de bom pra você, porque de verdade, você já perdeu o melhor.

- Por favor, Tay. Eu sou louco por você.
- Não o suficiente para admitir sua sexualidade. Que você é gay.
- Eu não sou gay, Tay... eu sou...
- Você realmente não é gay, Macau. Fique tranquilo. Para ser gay, é preciso ter coragem. E isso você não tem. Mas se você não percebeu, eu sou gay. O pior dos gays, sou daqueles que se orgulham disso. Peço que devolva minha chave. E desejo de coração que você se encontre. Mas esqueça que estivemos juntos.
- Tay, por favor...
- Feche a porta quando sair.

*****
Quando Macau chegou em casa, chorou. Mas decidiu que não iria mais atrapalhar a vida de Tay. Ele tinha razão, se ele não conseguia nem assumir que era gay para todos, como ele poderia querer que Tay ficasse com ele? Era muito egoísmo da parte dele.

Os meses seguintes foram um vazio completo. Macau só saía para resolver pendências e estudar. Vegas tentava se aproximar do irmão, mas Macau não dava abertura. O jeito era Vegas respeitar.

Enquanto isso, Tay voltou para a rotina dele. Só às vezes ele sentia falta do abraço de Macau. Do clima que os dois tinham quando estavam juntos. Mas seguiu em frente. Depois de algum tempo, apresentou seu novo namorado.

Time era da mesma idade de Tay. Os dois tinham profissões parecidas. Mesmo ciclo de amizades. Então não foi difícil para Tay assumir um relacionamento com ele.

Quando Macau viu, fingiu que não se abalou. Tay estava seguindo a vida dele. E Macau deveria fazer o mesmo.

Ele deveria fazer o mesmo. A pergunta era como?

Ele já estava fazendo terapia e aos poucos começou a entender todo o medo que sentia.

Quando estava voltando pra casa depois da terapia, encontrou Mya, descansada e feliz tomando um sorvete.

Ela sorriu pra ele e o abraçou.
- Como você está?
- Bem.
- Ei, não sou sua inimiga, Macau.

- Eu sei.
- Quer fazer uma trilha comigo? Você adora esses passeios e eu também. Você vai se animar.

Macau sorriu. Realmente ele amava aquela vida de esporte radical. De aventuras. E quase sempre a Mya estava com ele. Nesses anos todos de namoro, Mya sempre o acompanhava nas loucuras e nos perigos.
- Não teria problema eu ir?
- Seu lugar sempre será seu lugar, Macau.

Depois daquele dia, Macau voltou pleno a sua rotina.

Mya estava sempre ao lado dele. Parecia que já tinha se passado mil anos desde aquela briga dos dois.

Até que em uma competição onde os dois saíram vitoriosos. No calor do momento, os dois se beijaram. Não se sabe quem começou, apenas quando perceberam já tinha acontecido.

Depois, Mya passou a frequentar novamente a casa de Macau. Deixando Vegas mais confuso ainda. Quando ele questionou o Pete, o mesmo só disse que não podia opinar. Vegas prometeu esperar até que o irmão estivesse pronto pra lhe dizer o que diabo tinha acontecido nesses meses de choro e solidão.

Até que em uma noite. Ao abrir a porta. Encontrou o irmão aos prantos. Era um choro sofrido. E ele não estava bêbado.

Quando Vegas abriu a porta, encontrou seu irmão Macau aos prantos. Era um choro profundo, um choro de dor, e ele estava sóbrio.

Vegas apenas o abraçou e esperou, ouvindo o soluçar do irmão até que ele finalmente falou.
- Eu sou bissexual - Macau confessou, as palavras saíam como um sussurro. - Eu venho trabalhando na aceitação disso na terapia há um tempo. Mas não consegui aceitar isso quando estava com Tay e o perdi.

Vegas pegou o celular e viu a postagem onde Tay anunciava o casamento. Os fatos começaram a se conectar em sua mente.

- Macau, por que você sofreu sozinho todo esse tempo, meu irmão? - Vegas perguntou, a voz cheia de preocupação.
- Eu não sei. Eu só... Não importa agora.

O abraço entre irmãos é um dos mais sinceros. E naquela noite, Macau chorou mais uma vez, olhando para a foto de Tay sorrindo, aceitando o pedido de casamento.

Depois disso, Macau apenas seguiu em frente. Ele voltou a namorar Mya. Era seguro, era simples e era familiar. Mya sabia que ela não era a paixão da vida de Macau, mas era ela quem estava com ele. Ele realmente gostava dela. Mas ela sabia que o amor, o verdadeiro amor, ainda pertencia a Tay no coração de Macau.

Quando as últimas folhas caíram, Tay se casou na primavera.

Ele estava deslumbrante, o brilho do sol refletindo em sua pele. Seu noivo, Time, também estava radiante. Namorar Tay era pura alegria.

Antes do casamento, Tay estava nervoso. Olhava para a porta, como se esperasse por um milagre.

Até que ele viu a porta se abrir.

DONO DO MEU DESEJO -TAY E MACAUOnde histórias criam vida. Descubra agora