O Passado De Luotto

Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 4 - Sᴇɴᴛɪᴍᴇɴᴛᴏs Rᴇᴘʀɪᴍɪᴅᴏs

Otto não conseguia dormir.
Ficou relembrando os acontecimentos da noite.
Pensava em como Luísa estava linda! Fazia tempo que não a via tão produzida assim! E ainda mais linda quando ficava brava!
Pensava também na reação de Luísa ao saber que ele não era apaixonado por Tânia e sim que tentava esquecer uma pessoa. Algo que ele nunca imaginou que ela notaria numa conversa tão séria.
- E você conseguiu? - não parava de repetir as palavras de Luísa, ao mesmo tempo em que tentava decifrar algo. Algo que ele mesmo sabia, talvez só estivesse na cabeça dele.
- Será que...? Não, não! Luísa jamais teria algum sentimento em relação a mim. - pensou.

Se não teve anos atrás, quando Luísa não conhecia Marcelo, muito menos teria agora que havia sido sua esposa, e que sabia hoje ser seu irmão, coisa que não soubera na época. Não. Luísa nunca teria algum sentimento pelo irmão do seu falecido marido. Para quê se iludir?

Sem contar que havia sido marido de sua irmã, Alice; e que era pai de sua sobrinha, Poliana.
Tudo estava em contra.
Teria que continuar reprimindo seus sentimentos. Há vinte anos o fazia.

💭

Era apaixonado por Luísa.
Se apaixonara logo quando a conhecera.
Era uma jovem inteligente, além de linda e encantadora.
Havia sido seu professor de reforço, mas com o tempo se tornaram melhores amigos.
Luísa o levou para conhecer sua família: seus pais, Manoel e Isadora; sua irmã, Alice; e seu irmão, Durval.
- Durval nasceu e viveu muitos anos em Portugal, e por isso têm esse sotaque português - lhe explicara Luísa.
Havia retornado a pouco, pois seus pais, que agora viviam no Brasil, passaram a apresentar alguns problemas de saúde.

Nesta época, Otto Já estava apaixonado, e depois de muito pensar, decidiu preparar o caminho e falar com Durval antes de falar com Manoel, seu pai, sobre seus sentimentos em relação a Luísa e sobre seu desejo de pedi-la em namoro.
Quase saíram aos socos.
Durval o proibiu de se aproximar de Luísa. O acusou de se aproveitar da situação e da amizade que sua família lhe ofereceu para seduzir sua irmã.
- Luísa é apenas uma miúda, não está na idade para namoros. E tu és muito mais velho que ela! - acusou Durval.

Otto resolveu se afastar. Realmente era bem mais velho que Luísa, mas não achava que isso fosse um empecilho para seus sentimentos e esperava que Luísa também pensasse assim.
Mas seus planos não mudaram. Apenas tinham sido adiados. Iria esperar Luísa completar 18 anos para se declarar.

Luísa percebeu que Otto estava distante, e quando o questionou sobre isso, ele dizia que a faculdade estava consumindo todo o seu tempo.
Ela também já não frequentava as aulas de reforço. Já não precisava.

Até que um dia, Otto recebeu a notícia que destruiu todos seus planos, mais que isso, destroçou seu coração.
Marcelo o procurou para dizer que Luísa e ele estavam namorando. Marcelo! Seu irmão. Não que alguém soubesse na época, nem mesmo o próprio Marcelo, mas ele sabia!

O que Marcelo sabia era que Otto era apaixonado por Luísa. Havia lhe contado certa vez. Se sentiu traído, e ao mesmo tempo se culpava por não ter tido coragem suficiente para se declarar antes que Marcelo.
Se afastou definitivamente de Luísa.
Foi um período muito difícil.

Anos mais tarde, reencontrou Alice, irmã de Luísa, na faculdade. Se aproximaram. Ela se apaixonou, ele não. Apenas gostava dela. Também não achava certo ficar com a irmã da mulher que amava. Apesar de nunca terem tido nada, ele seguia amando Luísa.
Sabia que isso nunca ia mudar.
Mas Alice não desistiu. De tanto insistir, aceitou namorar com ela. Casaram. Tiveram uma filha, Estela; que infelizmente acabou morrendo.
E mais tarde Poliana.

Uma relação que apesar de não ter dado certo, também faria com que uma aproximação hoje com Luísa fosse impossível. - pensou Otto. Mas que não se arrependia, pois lhe tinha trazido Poliana, a menina mais doce que havia conhecido, que tinha lhe dado vida novamente, pois antes dela, vivia amargurado por tudo que, segundo ele, a vida lhe tinha tirado.

Mas agora tinha Poliana. E Luísa.
A amava tanto que mesmo sem nunca poder tocá-la, estava feliz em poder estar perto, de poder protegê-la.
Nunca havia sido tão feliz. E não faria nada que pudesse mudar isso.
Então, evitava qualquer possível discussão que a fizesse se afastar.

- Mas essa noite... o que teria sido isso? Por que Luísa se irritou tanto quando eu disse que não jantaria com elas? E por que ela quis saber se eu ainda era apaixonado por outra pessoa? - não parava de se perguntar.

Sua cabeça não parava de pensar, de tentar juntar coisas, de tentar juntar os dois.
Queria apenas poder ser capaz de criar um mundo onde ele, Poliana e Luísa pudessem ser felizes juntos como uma verdadeira família.
Adormeceu entre lembranças, lágrimas e desejos que sabia nunca seria possível tornar-se reais.