O Passado De Luotto

Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 2 - 𝐋𝐞𝐦𝐛𝐫𝐚𝐧ᴄ̧𝐚𝐬

💭

Já fazem quase 20 anos.
Eram inseparáveis, apesar da diferença de idade.
Luísa tinha 15 anos, César - como o conheceu, seu verdadeiro nome - com seus 22, já havia terminado o colégio.

Participava de um projeto na escola onde Luísa estudava e onde ele também estudou.
Durante sua permanência, foi o melhor aluno. Se destacava por sua excepcional inteligência.
Graças a isso, a diretora lhe ajudou a conseguir uma bolsa em um curso superior na área de tecnologia.
Tudo que César mais almejava.
A universidade mais disputada da região.
Iria cumprir a promessa que fizera a seu pai.

Como agradecimento, aceitou participar do projeto que ajudava alunos que precisavam de reforço em algumas matérias.
Luísa estava entre os alunos que tinham dificuldades com exatas.
Sim, ela nunca teve muita intimidade com os números.
Seu grande prazer era a arte.

Em pouco tempo, César conseguiu fazer Luísa entender matemática. Algo que ela nunca pensou ser capaz.

Mas ele era um ótimo professor. Além de explicar muito bem, era paciente.

Logo se tornaram grandes amigos.
Nos pequenos momentos de pausa, não se desgrudavam. Preferiam estar juntos. Discutir assuntos diversos, falar sobre seus sonhos, sobre o futuro.

Quando descobriu que Luísa pintava, César não sossegou até ver seus desenhos.
E ela nunca se esqueceu da primeira vez em que ele os viu.
Seus olhos brilhavam encantado.

Passou a incentivá-la a continuar pintando.
Era seu fã número um.

César via em Luísa um verdadeiro talento. A incentivava que estudasse, para que no futuro pudesse fazer do amor que tinha pela arte, uma carreira de sucesso.

Já Luísa, se esforçava bastante para ouvir César falar sobre seus projetos futuros. Contudo, não entendia nada do que ele falava.
Equipamentos tecnológicos, robôs e todas essas idéias que ele tinha, mas que na cabeça de Luísa, não condiziam nada com a realidade humana.
Às vezes ela lhe dizia que ele fugia da realidade.
Mas para ele era como se já pudesse ver tudo que sua mente visionária podia criar.

No entanto, César percebeu que não queria desperdiçar o pouco tempo que tinham para falar sobre seus projetos tecnológicos.
Preferia incentivar os seus sonhos de ser uma artista a falar sobre os seus.

Sonho esse que ele mesmo criou para ela, já que Luísa nunca se enxergou como uma artista.
Achava seus desenhos bons sim, mas não a ponto de fazer disso uma carreira.
Isso mudou com todo o incentivo que César lhe dava.
Passou a acreditar em si mesma.

Luísa havia ganhado um " três em um", como ela mesma costumava dizer: Um amigo, um incentivador e claro, um professor de matemática.

E como ele ficava feliz todas as vezes que Luísa entendia um exercício novo!
César brincava que graças a ele os desenhos de Luísa teriam traços mais exatos. E que por isso ele também mereceria os créditos em suas obras.

Havia um quadro que ele amava em especial. Era uma pintura abstrata. Como Luísa não tinha o hábito de dar nome às suas obras, coisa que ele sempre reclamava, lhe deu o nome de "o subentendido".
- Porque ele me diz muita coisa, sem precisar me dizer nada - explicou César quando Luísa lhe perguntou 'o porquê'.
Quis presenteá-lo, mas César não aceitou, dizendo que isso aconteceria no futuro, quando ela já fosse uma artista de renome.
- Então, vou deixar que coloque seus créditos, e que seja um lembrete, para quando eu chegar lá - disse-lhe enquanto lhe lançava um sorriso junto a uma piscadela.
César lhe sorriu em aprovação.

Foram um ano vendo-se quase todos os dias.
O melhor ano do período da vida dos dois.
Pelo menos era o que sentiam até então.

César tinha uma novidade.

O filho de uma amiga da família iria entrar no colégio onde Luísa estudava.
Acabara de se mudar.
Não era precisamente seu amigo, mas tinha muita consideração com sua mãe, e por isso o queria ajudar.

Então pediu à Luísa seu apoio com a adaptação, a fim de que as coisas não fossem tão difíceis para ele.
- Sabemos como alguns alunos tratam os novatos - falava.
Luísa sabia bem como isso era verdade.
Então, não pensava negar ajuda ao novo aluno. Ainda mais sendo um pedido de César.

- Luísa, essa é a pessoa de quem eu te falei.
- disse César
- Muito prazer... ? - Luísa esperou que ele se apresentasse.

- Marcelo, meu nome é Marcelo.