Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 3 - 𝐀𝐥𝐯𝐨𝐫𝐨ᴄ̧𝐨 𝐝𝐞 𝐒𝐞𝐧𝐭𝐢𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬

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Duas semanas depois Luísa estava organizando algumas coisas em seu escritório.
- Dona Luísa? - Antônio esperou pela resposta.
- Dona Luísa? - esperou mais uns segundos.
- Dona Luísa, a senhora está bem? - começou a preocupar-se Antônio.
Bateu na porta.
Uma, duas, três vezes.
Já ia abrir, quando de repente Luísa despertou de suas lembranças.
Mais uma vez.
Estava virando rotina se pegar voltando ao passado.
- Pode entrar Antônio! Me desculpa. Estava longe com meus pensamentos. Nem percebi você chamar.
- Não tem problema, dona Luísa. Eu insisti em bater porque já estava preocupado.
Só queria lhe avisar que Poliana ligou. Disse que ficou preocupada porque estava tentando falar com a senhora no seu celular mas não conseguiu. Então ligou no telefone da casa e pediu que a senhora retornasse.
- Ah, muito obrigada Antônio. Acho que esqueci meu celular no meu quarto. Vou ligar pra ela agora mesmo.
- Sim, senhora. Se precisar de alguma coisa eu vou estar lá embaixo.
Luísa agradeceu.
Antônio era mais que um empregado. O considerava um amigo. Vez ou outra lhe pedia conselhos e era capaz de ficar horas ouvindo seus relatos sobre suas experiências de vida.

Foi até seu quarto.
Seu celular estava realmente esquecido em um canto qualquer.
Dez ligações.
Poliana devia mesmo estar preocupada. Discou seu número em uma chamada de vídeo.
- Oi tia Luísa! Eu já estava preocupada. Você não visualizava e nem atendia o telefone. E como a Tânia anda a soltas... - falou a menina.
- Oi minha pequena, não se preocupa. Eu estou bem. Só esqueci o meu celular no quarto. Você queria falar comigo?
- Na verdade eu queria te convidar pra jantar aqui em casa. Faz duas semanas que a gente não se vê. Inclusive eu acabei de chamar a minha vó também, mas ela disse que tinha umas coisas pra fazer.
- É verdade, a demanda está muito grande na galeria, e sua vó está ficando até mais tarde estas últimas semanas.
- Mas você vem né, tia? Por favorzinho?
- Na mansão? Humm, seu pai vai estar aí?
- Se a minha presença te incomoda, eu posso deixar vocês duas jantarem sozinhas, Luísa. - falou Otto ao fundo.
- Mas é claro que não Otto, não seja dramático. Foi só uma pergunta.
Otto bufou. Fez aquela costumeira cara de ironia, contendo palavras não pronunciadas: "sei, me conta outra."
- Então, você vem? - perguntou Poliana animada.
- Vou sim meu amor.
- Ahh que bom tia! Vou pedir pra prepararem sua comida favorita.
- Não se preocupa comigo Poliana. Qualquer coisa pra mim está ótimo. Vou ficar feliz mesmo é de te ver.
- Oito horas hein tia!? Não vai se atrasar!
- Tá bom minha pequena.

Se despediram.

Luísa tinha que ir pra galeria. Também estava trabalhando bastante. Por vezes, insistira com Glória para também ficar até mais tarde, a fim de ajudá-la. Mas Glória sempre negava. Dizia que ela já trabalhava muito entre pintar e ajudar na galeria.
Contudo, se sentia bem trabalhando. Ocupava sua mente. Logo, não tinha tempo pra pensar em suas próprias tristezas.

No entanto, havia um outro problema.
Na verdade, nem sabia se de fato era um problema.
Notou que há algum tempo, pensava muito em uma pessoa.
Pensava o tempo todo em tudo que haviam vivido juntos no passado. E se pegou chateada com o fato de ele achar que ela não o queria ver.
Otto.
De novo Otto estava em seus pensamentos.
- Será que estou sendo muito dura com ele? - pensou.
Lembrou das vezes que conversavam. Não perdia a oportunidade de o alfinetar, de brigar, de o acusar.
- Mas ele merecia, todas as vezes! - pensou em voz alta.
- Será que merecia mesmo? - se viu perguntando novamente.
Nos últimos meses a única coisa que fazia era a apoiar. Fazia de tudo para vê-la bem.
Ademais, ele também tinha sofrido uma perda. Marcelo também era seu irmão. Ele também estava sofrendo.
Começava a se dar conta de que na verdade estava sendo egoísta.

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