capítulo 3.

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#3. GUARDANAPO DE TECIDO DO RESTAURANTE DE ALTA GASTRONOMIA CONSTANTINE, ROUBADO PELA MINHA MÃE OU PELO MEU PAI, DEPENDENDO DE A QUEM VOCÊ PERGUNTAR

Meu pai havia se mudado da casa da prima da tia da dona do restaurante para dividir um apartamento com dois chefs do Hermes, e teve que arranjar um segundo emprego para pagar o aluguel. Ser garçom fazia sentido — ele poderia praticar seu inglês e, além disso, quanto mais ele exagerava no sotaque grego, maiores eram as gorjetas.

Certa noite, ele atendeu a mesa de uma aluna da Universidade de Chicago chamada Ellen Williams, que estava passando o verão na cidade como estagiária de um político local. Ela era alta, com longos cabelos loiros e o tipo de risada que chamava atenção.

Meu pai contava que ela havia derramado a jarra de água nele de propósito. Minha mãe dizia que ele estava se confundindo, embora sempre com um brilho nos olhos. Sinceramente, não duvido nada. Nas fotos dos dois daquele verão — não eram muitas —, meu pai estava lindo, com seu cabelo escuro e cheio e o sorriso ávido, e minha mãe parecia desnorteada de tanta alegria.


PEQUENA LISTA DE REGRAS QUE minha mãe me deu para a viagem a Santorini — uma viagem que eu nem queria fazer, para início de conversa:

1. Ligar para ela de manhã e à noite.

2. Não falar com estranhos.

Impossível, já que cada pessoa naquela ilha seria um estranho, incluindo, àquela altura, meu pai. Eu não fazia a menor ideia de como era a aparência dele. Na última vez que ele me vira, eu tinha uma monocelha digna de Frida Kahlo e usava um microfone falso porque acreditava que ia ser uma estrela do Disney Channel. É claro que todos os meus registros fotográficos daquele período foram destruídos.

3. Nada de conversar com garotos no aeroporto, por mais bonitos que sejam (vide regra 2).

Segundo minha mãe, esses garotos podiam fazer parte de uma rede criminosa sofisticada com planos para me sequestrar e encenar aquele filme do Liam Neeson. E meu pai não era exatamente um ex-assassino de voz rouca, e sim um pai ausente que vivia à procura de Atlântida.

Eu disse a ela que essa regra era só mais uma prova de que eu não deveria ir. Minha mãe respondeu que, na verdade, Santorini era segura e que eu ficaria bem. Mas como ela podia ter certeza disso? Apesar de já ter sido casada com alguém de Santorini, ela nunca pisou na ilha.

4. Se eu me sentir negligenciado ou em perigo, devo ligar na mesma hora para que ela me coloque num voo de volta para casa.

Essa regra vinha com a seguinte advertência: para ativar o plano de fuga, era preciso ser uma emergência grave, e não silêncios desconfortáveis ou conversas difíceis. Grave. De novo essa coisa mórbida.

5. Tirar um tempo para "me encontrar".

Ou, em outras palavras, passar um tempo longe do Dax. É claro que ela não disse aquilo diretamente porque estava tentando não ser igual a seus pais, o que talvez seja a meta de todas as pessoas que já existiram. Eles não gostavam nem um pouco do namorado dela, e olha só o que aconteceu. Minha mãe largou a faculdade, casou com meu pai no civil em Chicago e engravidou de mim. Vivendo e aprendendo.

E, só para registrar, não gostei daquela história de "me encontrar". Não estava perdido. Estava bem ali.

6. Dar uma chance ao meu pai. (Sem comentários.)

7. Usar protetor solar.

Sério. Isso entrou na lista.

Eu tinha só uma regra para minha mãe: embarcar na história que eu tinha inventado para o Dax. A última coisa que eu queria era que ele — e o resto da escola — soubesse que meu pai procurava há décadas por Atlântida, uma cidade que ele acreditava sem a menor sombra de dúvida que era real, apesar de apenas alguns malucos da internet parecerem concordar com isso. Só de pensar em todos descobrindo meu coração acelerava, e não de um jeito bom.

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