As palavras de Branca...

Uma voz desperta Branca de seus pensamentos, informando que ela quem conduziria a discussão na Câmara hoje. Branca suspira profundamente, pois sabia que seria um dia daqueles.
No almoço, decide comer rapidamente e sozinha mesmo. A tensão só aumentava, já que sempre as discussões viravam exatamente isso: discussões. 

Após o expediente, conversando com colegas de trabalho, Branca tem a atenção chamada por um amigo: 

- Branca, você deveria falar menos palavrão. - comenta Diego em tom de reprovação. Diego tinha a mesma idade de Branca e agia sem postura alguma com colegas de trabalho, mas não hesitava em corrigir mulheres no local.

- Eu estou fora do expediente, com amigas! Por que não posso falar como eu quiser? - questiona.

- Porque mulher com postura não fala palavrão. - explica Diego, como se falasse com uma criança.

- Que coisa mais sem sentido, Diego. - reprova Karen, mudando logo o assunto da conversa.

Ao chegar em casa, Branca refletia sobre como sua vida toda sofrera reprovação de pessoas em relação ao seu comportamento: "precisa ser mais delicada, fazer ballet e sentar como mocinha", diziam.

Sem pensar muito mais, Branca vai para a cama, pronta para mais um longo dia. Logo cedo, o telefone acorda Branca:

- Branca, você chega mais cedo hoje? Você não vai gostar do que aconteceu aqui. - Karen comenta apressadamente. 

- Estou saindo de casa em dez minutos. - responde Branca.

Ao chegar, logo descobre o porquê: um deputado, descontente com o enfrentamento de Branca e com o discurso que fizera, decidiu divulgar o endereço de seus pais publicamente, para qualquer um que quisesse direcionar represálias.

Furiosa, Branca encaminha um pedido para que a conduta fosse averiguada. Expõe também com seus amigos toda sua indignação.

Para sua surpresa, não só não há qualquer punição - o deputado foi apenas obrigado a retirar a divulgação do endereço - como seu amigo Diego o defende:

- Ele só estava nervoso e agiu sem pensar. Você deveria ser mais compreensiva. - pediu Diego.

Branca retira-se para respirar e pensar com mais clareza. "Como as palavras de uma mulher devem ser medidas, mas as ações de um homem levam desculpas com tanta facilidade?", pensava.