Capítulo 1 - Encontro com a Realidade

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"Há mais perigo em teus olhos do que em vinte espadas!"
- William Shakespeare.

"O cerco está se fechando, o céu escurecendo e as sombras se pondo. Reflexo de uma estrada fantasmagórica e desértica que serpenteia medo até a espinha da jovem Elisa.

Seus passos são largos e apressados e sua respiração desregulada mal dá tempo de reparar os detalhes ao seu redor, além da incansável corrida pela sua vida entre os carros apressados e os sons bizarros da fauna misturada às pisadas duras, cada vez mais próximas.

Talvez, os passos mais dolorosos e inesquecíveis de sua vida. Mas, quando as mãos são finalmente postas em seu corpo, é que a aventura dramática daqueles olhos oceânicos perpassa o verdadeiro significado de inferno na terra..."

Treze de Fevereiro de Dois Mil e Vinte e Três

Primeiro dia de aula da escola. E com ela, todo o terror que está por vir, chega junto.

Elisa tinha certeza do que queria - ou, pelo menos, quase! Afinal, em sua mente intergaláctica e sonhadora, sempre cabia mais espaço para dúvidas e mudanças de opinião. Tal ora quer, e noutra já não se fala mais nisso.

Mas, apesar de tudo, Elisa gostava mesmo de estudar e por vezes já chegou a se perguntar se estava ficando louca, quando encarou a pilha de livros amontoados em seu quarto sobre variados assuntos. Desde idiomas até às coisas mais banais. Em seu íntimo, Elisa sabe que essa é uma forma de não pensar nas tristezas que ainda assombram sua vida, mas há algo de que ela realmente gosta: A administração. - A garota faz diversas pesquisas sobre a tão sonhada faculdade e seu coração chegava a errar as batidas quando encara os assuntos que dará por longínquos anos de sua vida, mas Elisa topa o desafio. A garota nunca foi de fugir de suas responsabilidades, ainda mais as que lhe foi dada ainda tão cedo.

E lá estava ela, atrasada. Mas nunca deixando de lado seu cochilo matinal no ônibus!
Aproveitando que o trânsito de são Paulo não é dos melhores às sete e vinte e cinco de uma manhã de Segunda Feira, Elisa descansava o que não podia completamente durante a noite porque, graças a efêmera e misteriosa ausência dos seus pais, a garota teve que se virar desde seus quinze anos contando com pouco apoio de parentes distantes, como a tia materna de que mais gosta. Laura. A única que pode verdadeiramente chamar de família.
A garota de cabelos encaracolados estuda de dia e estagia a tarde na primeira filial de uma grande empresa como a "Harvest Logística & Co." De logísticas e armazenamento de cargas.

Seu papel principal é com a administração e estar sempre em contato com as pessoas é fundamental. Ou seja, nem sempre é fácil mas Elisa tem mesmo um certo gosto para isso. Ainda que pense que verdadeiros santos são aqueles que trabalham com atendimento ao público. - Elisa mentaliza toda vez que inicia sua jornada de trabalho.

"Elisa? Querida Elisa, abra os olhos! Em que momento o pobre pode se dar ao luxo de cochilar por mais de vinte minutos?" - A voz do seu subconsciente parecia ter um novo método de humilhação para acordar a garota que praticamente babava com o rosto apoiado na mochila. Com o solavanco do ônibus - que é o pior momento quando se está sentado no fundo -, Elisa por pouco salta encarando o horário em seu relógio de pulso que marca pouco mais de sete e cinquenta e cinco. Isso significa um generoso atraso quinze minutos justo em seu primeiro dia de aula!

- Chuvas, trevas e caralhos! Porque justo hoje? - Esbraveja quando é bem recebida pela chuva repentina. Mas não era uma simples chuva, uma garoa que logo passaria, era forte e grossa daquelas que logo formaria uma onda ao carro passar. - Que desculpa vou inventar para o professor? E a direção? E agora assim, como um pinto molhado! Dor de barriga está fora de cogitação, eu me nego! - Tentava traçar algum plano enquanto atravessava as ruas falando sozinha no destino da renomada Escola Dr. Julião Gouveia. Fundada em 1846 é por um dos maiores pioneiros da época, é uma das escolas mais requisitadas do Ibirapuera. Elisa deu duro para conseguir a vaga com uma bolsa de estudo que consegue cobrir com uma parte do seu salário do estágio, então tudo que ela pensava agora era que seu vacilo poderia custar muito caro, tipo o bom ensino que poderiam oferecer.

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