Voltas ao Sol

Capítulo 3: Mikoto

Voltas ao Sol

Capítulo 3: Mikoto

Sasuke acordou com pequenos pontos de sensações úmidas em seu rosto.

Ligeiros toques que iam da sua pálpebra para sua bochecha. Para a ponta do seu nariz. Para sua testa e têmpora.

Fugazes, ligeiros e irmãos.

Quando ele finalmente conseguiu abrir os olhos, preguiçosamente e confuso, um rosto tão familiar estava lhe encarando com um sorriso suave e cheio de amor.

— Mama? — ele murmurou a única palavra que sabia, mas que servia tão bem naquela mulher.

Mãe. Que nome lindo ela tinha.

Sua palavra favorita. A única que ele precisava gritar quando sentia medo, saudade, raiva. E ela viria, apareceria como mágica e o envolveria em seu abraço tão apertado e quentinho.

— Finalmente acordado? — Mikoto penteou seus cabelos para trás, lhe deixando mais um beijo no meio da testa.

Sasuke piscou lentamente, ainda com sono e um meio sorriso bobo.

Normalmente, o pequeno menino de um ano e meio odiava os primeiros minutos da manhã, mas ele não conseguiu ficar bravo dessa vez, qualquer mal humor desapareceu quando Mikoto o tirou da cama e o manteve em seu colo, acariciando suas costas quando ele preguiçosamente deixou a cabeça pousar em seu ombro, segurando-se em seu pescoço.

O cabelo dela tinha um cheiro bom e doce.

— Não durma de novo, Sasuke — Mikoto sussurrou. — Hoje teremos um longo dia.

Sasuke gostaria de saber falar com ela, dizer palavras inteiras que pudessem lhe contar que ele não dormiria de novo, mas que apenas queria ficar perto dela assim por mais tempo.

Mikoto o levou pelos corredores da casa. Ele não viu seu pai e irmão.

— Você está com fome? — Sasuke assentiu quando chegaram na cozinha. — O que você gostaria? Pode escolher.

Sasuke pensou por um momento, e começou a se agitar para descer do colo, balançando as pernas. Mikoto o soltou devagar e ele correu para a geladeira, puxando a porta com força e apontando para dentro. Diretamente para aquela bola vermelha suculenta que ele simplesmente adorava.

— Tomates? — Mais uma vez, Sasuke assentiu, reconhecendo a palavra. Então Mikoto teve uma ideia. — Quer me ajudar a prepará-los?

O menino sorriu, concordando entusiasmado.

— Pegue dois para a mamãe, então. — Ele pegou um. — Mais um. Isso, isso mesmo.

Mikoto abriu um dos armários e tirou um avental extra de uma das gavetas, enrolando-o e prendendo ao pequeno Sasuke com alguns ajustes. Ele olhou para si mesmo com nada menos do que felicidade quando viu que ela tinha um igual cobrindo o vestido.

— Estamos iguais — Mikoto sorriu, puxando um banquinho alto para que ele pudesse ficar ao seu lado na pia. — Você pode lavá-los para mim? Precisa esfregá-los assim e depois colocar nessa bacia.

Mikoto queria rir quando viu Sasuke franzir as sobrancelhas e focar toda atenção em suas mãos, completamente atento às suas instruções, muito concentrado na maneira como ela esfregava a pele do tomate sob a água da torneira e o deixava de molho em uma água especial.

Assim que ela terminou, ele pegou o segundo tomate.

— Mama? — Sasuke levou-o para debaixo da torneira. A água era gelada, mas ele fez seu melhor para imitar os movimentos de Mikoto. O tomate era gigantesco em suas pequenas mãos e ele não tinha certeza se estava fazendo um bom trabalho.

Até que ele espiou sua mãe ela lhe deu aquele sorriso que ele adorava.

— Obrigada, Sasuke, está fazendo um ótimo trabalho.

O menino corou, finalmente satisfeito.

— Agora vamos picar nossos tomates, está bem? — ela lhe mostrou uma faca de plástico, sentando-se com ele na mesinha da cozinha. — Faça do seu jeito, mas a mamãe vai fazer assim. É mais fácil.

Mikoto cortou o tomate em rodelas, com uma faca diferente da sua, brilhante e longa. Ela sempre lhe disse que eram perigosas e ele nunca deveria tocá-las. Quando o tomate virou cinco fazias iguais, Sasuke entendeu porquê. As fatias, então, viraram tiras e as tiras cubinhos.

Ele não tinha ideia de como faria igual. Mas tentou com sua faca improvisada. O tomate escorregou uma ou outra vez . Na maioria das suas tentativas, foi uma luta perdida. No fim, seus supostos cubinhos não tinham nenhuma forma geométrica identificável.

— Ei, — Mikoto o chamou, erguendo seu queixo quando ele baixou a cabeça — eu não disse que o jeito que você fizesse ficaria bom? Você vai ver só que delícia vão ser nos nossos bolinhos!

— Mama... — Sasuke torceu a boca, não muito convencido.

Sua chateação, no entanto, foi rapidamente esquecida quando Mikoto colocou o recipiente de vidro com arroz a sua frente. Ela nomeou aquela parte como temperar, pedindo sua ajuda para colocar o shoyo, mirin, óleo de girassol, sementes de gergelim e seus tomates picados.

— Quer misturar? — Sasuke quase não esperou que ela disse outra vez, colocando as mãozinhas para mexerem o arroz com os ingredientes, fazendo seu melhor para que eles ficassem todos juntos e bem uniformes. — Hmm. Vai ficar delicioso, Sasuke. Talvez eu tenha conseguido um novo ajudante?

Ela tentou lhe fazer cócegas, Sasuke lutou para se desviar, mas acabou cedendo uma gargalhada. Ela só parou quando ele gritou, cansado de tanto rir e com arroz espalhado na mesa inteira.

Rindo com ele, Mikoto o orientou a enrolar pequenas porções do arroz em onigiris.

Os onigiris de Sasuke tinham pesos e formatos diferentes, mas ele finalmente parecia muito orgulhoso deles, pousando-os nas bases de algas com cuidado.

— Papai e o onii-chan vão comer com a gente, vamos lá fora esperar por eles? Não vão demorar.

Sasuke assentiu rapidamente, lavando as mãos com ajuda de Mikoto.

Ele sentou-se em seu colo enquanto ela mexia em seu cabelo e sussurrava no topo de sua cabeça frases que ele não compreendia:

— Por favor, não cresça.

Sasuke ergueu o rosto, tocando-a na bochecha. Ela era tão bonita e carinhosa. Sempre tão boa com ele. Mais que Itachi era, às vezes, e Itachi era sempre bom.

Ele gostaria de poder dizer a ela como era incrível estar com ela todos os dias. Que ele nunca iria acordar de mal humor se fosse ela. Que poderia ajudá-la a cozinhar para sempre.

— Mama — Sasuke sussurrou a única palavra que sabia.

E Mikoto o olhou com aqueles olhos calorosos que quase transbordavam água:

— Eu também te amo, Sasuke.

Fim.