Capítulo 4: Sarada

123 16 12
                                    


Voltas ao Sol

Capítulo 4: Sarada

— Eu gostaria que minha primeira ordem como hokage fosse para você, pai — Sarada lhe disse, o manto kage sobre seus ombros balançava ao vento do alto da escadaria espiral.

Seu rosto de pedra, sério e recém esculpido, vigiava os prédios abaixo deles, as bandeirolas comemorativas e o povo em êxtase se aproveitando da festa lá embaixo.

— O que você precisa? — Sasuke não hesitou ou pensou.

Ele prontamente faria qualquer coisa que ela pudesse lhe pedir.

A cerimônia de nomeação de Sarada como a nona hokage havia acontecido naquela mesma manhã. Ainda que Sasuke não estivesse no centro de tudo aquilo, ele assistiu a tudo em um êxtase silencioso. Foi simplesmente de tirar o fôlego.

Sua filha sendo tão amada por toda a vila, aplaudida em centenas.

Konoha inteira gritando seu nome em euforia porque estariam sob a proteção de Uchiha Sarada.

Ela era seu legado. E agora estava alcançando o topo do mundo.

Sasuke sentiu aquela familiar sensação de orgulho. Um sentimento que nunca havia sido uma novidade quando se tratava de Sarada.

Seus simples atos sempre foram mais do que suficientes para que ele percebesse seu coração inchar, transbordar e inundá-lo.

Ele mal conseguiu esconder quando Sakura o ajudou a ajustar a toga cerimonial ou quando Naruto apertou seu ombro em reconhecimento no meio de um dos discursos.

Sarada era a nona sombra do fogo.

Seu nome e seu rosto sempre estariam na História. E ela seria a melhor. Impecável.

Sasuke estava disposto a aceitar qualquer missão que ela lhe desse com honra.

— Os detalhes estão aqui dentro. — Sarada se aproximou, lhe entregando um envelope fechado — Saiba que é uma tarefa intransferível e lhe ocupará pelo resto de sua vida. Mamãe também vai receber uma igual.

Sasuke apanhou o envelope sem desviar os olhos dela. Sarada parecia muito séria.

Ele não conseguia imaginar o que poderia ser quando a ameaça Ootsutsuki foi completamente eliminada. Talvez ele precisasse invadir um país? Se infiltrar entre terroristas? E Sakura estaria envolvida?

Fosse lá o que ele precisasse fazer, ele faria.

Sasuke quebrou o selo do envelope com o polegar, empurrando-o para cima. Seus olhos desceram para as palavras e acompanharam os kanjis se revelando calmamente. Alguns marcaram sua leitura: Solicitação. Uchiha Sasuke. Aposentadoria compulsória. Autorizado pela nona hokage, Uchiha Sarada.

— Você está me aposentando?

Sarada sorriu para seu rosto confuso.

— Você e a mamãe.

— Por quê? Nós ainda podemos lutar perfeitamente. É muito cedo para pensar nisso. — Sasuke não pretendia se aposentar com quase cinquenta anos. A maioria dos shinobis o faziam ainda mais cedo, ele sabia, mas o Uchiha sempre foi uma chama bem alimentada. Ele precisava de objetivos, ocupações.

Sarada tocou sua mão, tirando seus olhos do documento para trazê-los de volta para ela

— Se um dia a vila precisar de vocês não hesitarei em chamá-los, tenha certeza. Mas eu acho que já passou da hora de você descansar, pai.

— Eu não estou cansado.

— Bom, mas com certeza há muitas coisas que você gostaria de fazer, mas não pôde porque estava ocupado com toda essa confusão com os Otsutsuki e Momoshiki, certo?

Sasuke suspirou pesadamente, ele não tinha grandes ambições, para ser bem honesto.

Um mundo onde sua família estava segura sempre foi motivação suficiente e, na maioria das vezes, a única.

Um mundo onde Sarada pudesse contar com ele era muito mais do que ele poderia pedir.

— O que eu quero fazer é te ajudar, Sarada.

Sua filha, a hokage, cruzou os braços, embora seu semblante fosse carinhoso e compreensivo.

— Você já fez isso, mais do que qualquer um poderia. Está na hora de parar de procurar responsabilidades, pai.

Sarada segurou sua mão, em um aperto de segurança e carinho.

Sasuke sentiu seu coração se amolecer mesmo que ele não quisesse. Era inacreditável como essa garota podia dobrá-lo e manipulá-lo desde o dia em que nasceu.

— Quando vai dizer a sua mãe?

— Hoje a noite. Ela é meio viciada em trabalho, você sabe, mesmo que sempre faça aqueles eternos planos sobre 'quando eu me aposentar'. Mas ela vai entender quando eu disser que quero que vocês vejam a Konoha que eu sonho para nós e possam viver nela, não por ela.

Sasuke considerou. Muito mais do que uma ordem do hokage, aquilo tudo se parecia com um pedido sensato e racional de uma filha preocupada.

— Talvez, — Sasuke deixa o ar sair por entre os lábios, lembrando-se de conversas que ele e Sakura tinham, às vezes — talvez realmente haja uma ou duas coisas que eu queira fazer.

— Eu sabia que sim. Você me conta, durante o jantar? Eu tenho uma reunião agora. Estou pensando em criar sub-conselhos, quero que haja representantes de cada setor da vila, para que todos se sintam ouvidos.

— Claro. Isso parece muito bom. — Sasuke hesita. — Não há mesmo nada que eu possa fazer por você?

Sarada sorri.

— Não, você está oficialmente dispensado. Obrigada pelos seus serviços, Uchiha Sasuke — Sarada lhe disse, formal e solene. E então lhe envolveu os ombros com os braços num abraço mais sufocante e apertado do que os que ele recebia de Sakura: — Obrigada, papai.

Fim. 

Confesso que escrevi essa tendo em mente apenas: quero o Sasuke aposentado pescando e tomando suquinho de murucujá antes dos cinquenta anos.

Voltas ao SolOnde histórias criam vida. Descubra agora