O ambiente estava completamente mergulhado na escuridão. Os murmúrios e suposições sobre o que estava acontecendo tiraram o foco anterior da agradável música de Blue. Ainda no palco, a cantora apertou o arco do violino. Tinha uma estranha certeza de que o apagão não fora por acaso.
- Isso nunca aconteceu por aqui! - gritou Roggie, começando a perder o controle. - Com certeza deve ter algum impostor entre nós!
- Fale baixo, seu idiota! - disse a voz de uma mulher. - Às vezes me custa muito continuar casada com você...
Na frente do balcão, a mulher ruiva, que permanecia sentada, fez um movimento discreto com as mãos e no mesmo instante todas as chamas voltaram a iluminar o local. Mesmo com a escuridão e seu extremo cuidado, a mulher que conversava com Roggie percebeu que a ruiva era a única pessoa tranquila e que continuava bebendo, e foi logo questioná-la:
- Foi você? Por que apagou nossas luzes?
- Eu não fiz isso - justificou-se a ruiva. - Apenas trouxe a luz de volta.
- Muito obrigado por isso - disse Roggie, colocando a mão no coração. Ele ainda se recuperava do choque de ter a iluminação perdida por um breve momento. - Te devo uma, srta....
- Morgana. E acho que eu merecia uma bebida de graça por isso.
Roggie a ignorou e dirigiu-se para a outra mulher, retomando a conversa.
- Oh, Marrie... pensando bem, talvez não seja nada demais. Está ventando muito lá fora.
- Lá fora, Roggie. O fogo não se apaga com tanta facilidade na taverna. Você sabe que alguma coisa estranha está acontecendo nessa cidade, e não é de hoje. Aliás, onde está Morrigan?
O casal percorreu os olhos pelo salão em busca da garçonete - e Morgana, que estava atrás deles e era extremamente curiosa, fez o mesmo. Não havia nenhum sinal da tiefling. Antes que pudessem levantar quaisquer teorias sobre o paradeiro de Morrigan, o soar de um sino não muito distante chamou a atenção de todos. As vozes dos clientes tornaram-se ainda mais altas, instaurando-se o início de um caos na taverna. O sino da capela de Harikon tocava em algumas ocasiões específicas, mas isso nunca acontecia àquela hora da noite. Aproximava-se das dez horas, e todos os clientes começaram a correr até a praça para ver o que estava acontecendo.
- Ninguém sai sem pagar! - gritou Roggie, inutilmente.
Morgana acompanhou a multidão e correu para a praça central, que ficava a apenas duas quadras de distância da taverna. Todas as chamas das tochas que iluminavam as ruas de Harikon oscilavam, aumentando e diminuindo de intensidade sem apresentar nenhum padrão. Além dos clientes da taverna, moradores locais se uniam ao caos e corriam na direção das badaladas, já que essa não era uma ocasião nem um pouco comum na cidade.
Lutando para não tropeçar e para não ser pisoteada pela multidão que se formava, Morgana conseguiu ultrapassar a maioria dos indivíduos curiosos e chegou ao centro da praça. A cena que encontrou condizia com o caos instaurado, mas ela não fazia ideia do que aquilo podia significar. Ela olhou à direita em busca de esclarecimentos, e encontrou Set e Aurora, mas nenhum dos dois soube responder suas perguntas.
No pequeno palco que ficava no meio da praça - comumente usado para apresentações artísticas e brigas de bar que se tornavam espetáculos - havia três homens humanos. Todos tinham a cabeça raspada e usavam mantos de cor rubi. Eles seguravam adagas assustadoras, e ao lado deles estava a garçonete. De joelhos, com as mãos amarradas e a boca tampada por algum tipo de fita resistente, ela lutava para se soltar.
- Morrigan! - uma voz distante se aproximou. Era Blue Satana, que reconheceu a vítima imediatamente. - Quem são vocês? Soltem ela, agora!
O homem mais alto, que parecia comandar os outros dois, riu com o pedido. Até então, ninguém havia ousado desafiá-los. Toda a multidão observava a cena a uma distância segura, fazendo apenas comentários em sussurros e tentando entender a situação.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dungeons and Dragons: O Reino da Luz
FantasiaNa pequena cidade de Harikon, sucessivos casos de desaparecimento alertam a população. Entre eles, há apenas uma coisa em comum: todos os desaparecidos são tieflings. Quando um quinto caso vem à tona, um improvável grupo formado por duas tieflings...