Pilantra - ChaosDuo

01. Las Nevadas

arte: @kraukire on twitter

Cellbit caminhava pelos corredores pouco iluminados. As luzes piscavam, provavelmente pelo fato de serem velhas e de nunca terem sido trocadas antes, isso acabava dando um olhar bizarro para o local. Vestia ainda suas roupas formais; usando uma blusa social branca, com um colete social preto por cima, com calças sociais e coturnos, que o deixavam ainda mais alto. Jogou suas mechas loiras para trás, ajeitando a gravata esverdeada, que apertava um pouco sua garganta, o sufocando. Cellbit definitivamente preferia suas roupas despojadas de investigação, que incluíam seu sobretudo amarronzado, que o esquentava bem mais que aquela maldita blusa social. Ele se arrepiou com o frio surpreendente do local, resmungando baixo. Havia acabado de sair do debate, e ainda se sentia meio tonto e nervoso pela breve conversa que teve com Roier, agora, seu ''ex esposo'', mesmo que por tempo indeterminado. Havia falado praticamente tudo para ele, que ainda não havia saído da federação por completo, e que fazia algumas missões. Seu ''esposo'' alegou não querer se envolver com essas coisas, e Cellbit compreendeu completamente, apesar de não querer largar o ''trabalho''. Eles acabaram entrando em um consenso, que deveriam ficar separados por um tempo, até que Cellbit pudesse organizar tudo e pegar as pistas exatas que precisava. Roier não iria contar nada, e ele teve certeza disso quando o mexicano deu a idéia de não se divorciarem, alegando que tal coisa iria atrair demasiada atenção para ambos. Queria acabar com aquilo logo, para que pudesse logo voltar à sua vida normal com seu amado esposo, não querendo meter mais sua família em perigo. Abriu a porta que levava até o escritório de Cucurucho, vendo duas figuras familiares; Jaiden e El!Quackity. Havia recebido uma solicitação de missão, então aceitou imediatamente, desejando mais respostas, o mais rápido que podia. Normalmente ia até às missões com Jaiden, passando um tempo bom com a mulher, que sempre fazia questão de ser gentil com Cellbit. Agradecia por Jaiden ser sua cunhada, retribuindo o carinho que ela possuía por ele na mesma intensidade. Pelo contrário, tinha um relacionamento de gato e cachorro com Quackity. Eles se odiavam, e muito, sequer tentavam esconder isso. Apesar de Cellbit ser bem mais maduro que o outro agente, ainda cedia as brigas, que o chefe parecia não gostar, mas também não falava sobre, apenas repreendia os rapazes quando julgava ser necessário.

- Vocês chegaram, finalmente. Estava cansado de esperar.

A voz robótica, mas sutilmente afeminada disse, enquanto virava a cadeira, que até agora estava de costas para os três ali. Eles fitaram a máscara branca, com um sorriso incomumente macabro, que fazia todos ali se arrepiarem, enquanto ajeitavam suas posturas para algo menos relaxado.

- Bem, como vocês foram avisados nas cartas que eu fiz questão de enviar, tenho uma missão para vocês três. Dessa vez, apenas dois terão a mesma tarefa, enquanto o outro, irá fazer algo diferente. - A figura alta e completamente de branco se levantou da cadeira, apoiando suas mãos na mesa, fitando os três lacaios à sua frente.

- Eu quero vocês juntos na missão, e você, Jaiden, quero que fique sozinha dessa vez - Apesar da robótica, sua voz passava seriedade, e isso deixou os dois rivais incrédulos. - Alguma objeção?

- Senhor. - Cellbit levantou sua mão, se aproximando um pouco mais da mesa de madeira. - Eu e o El!Quackity nunca nos damos bem, é inviável enviar nós dois em uma missão, ainda mais juntos.

O homem de branco suspirou fundo, permanecendo parado por um tempo, fazendo com que o Brasileiro se arrependesse imediatamente de suas palavras.

- Jaiden, espere lá fora. Logo falo com você. - A mulher apenas assentiu, com seus braços por trás de seu tronco, mantendo uma postura quase militar. Ela minuciosamente se aproximou de Cellbit, sussurrando no ouvido dele um ''boa sorte aí'', antes de dar alguns tapinhas no ombro do mais alto, saindo da sala logo em seguida.

- Vocês estão aqui por que exatamente? podem me responder isso? - O urso deu a volta na mesa, parando em frente aos rapazes, se sentando sob a madeira do móvel.

- Para descobrir mais coisas sobre a ilha, senhor.

- Porque eu fui criado para servir à Federação.

Eles responderam, praticamente ao mesmo tempo. O rapaz de vestes brancas assentiu lentamente com a cabeça.

- E o quê eu prometi a vocês? Eu prometi que cuidaria de vocês - Ele redirecionou seu olhar para Quackity, por debaixo da máscara. - E que daria respostas, certo? Certo. Eu preciso que vocês colaborem comigo.

- Mas...ele é um merda, sequer consegue completar o próprio plano de eleição, senhor. - Quackity provoca, cruzando seus braços.

Cellbit sente seu sangue fervendo com a acusação, retirando sua espada de diamante da bainha, segurando os fios escuros e lisos do cabelo de El!Quackity, puxando para perto de seu corpo, colocando a lâmina sob o pescoço alvo dele. Seus olhos verdes rapidamente se escurecem quando encontram a imensidão dos olhos azulados e escuros de Quackity.

- Eu perdi uma vida por sua causa. - O aperto nos cabelos do outro rapaz se aperta.

O rosto de Quackity ruboriza rapidamente, enquanto ele sente seu estômago ronronando. Ele abre um sorriso provocativo e sádico.

- Você pode provar isso? Gatinho. - Ele provoca, olhando Cellbit de canto de olho.

- Não me chama disso, filho da puta.

- Vai se foder.

- Chega. - Cucurucho diz, aumentando seu tom de voz. - Eu não vou suportar esse tipo de coisa dentro do meu escritório, muito menos na federação. Ou vocês arrumam um jeito de se darem bem, ou eu acabo com a vida de vocês, eu fui claro o suficiente?

Os dois rapazes estremecem perante à ameaça, se separando rapidamente. Cellbit guarda sua espada na bainha novamente, enquanto Quackity joga seus cabelos para trás, ajeitando os fios.

- Sim, senhor.

Ambos dizem unissonamente, e o homem de branco parece finalmente satisfeito.

- Ótimo, hahahaha. - A risada robótica ecoa pelo local. - Certo, a missão de vocês é simples, eu quero novas pessoas nessa ilha, e vocês vão arrumar isso para mim. Vocês são meus agentes de maior confiança, então o mínimo que espero de vocês, é que essa missão seja bem sucedida. Eu vou deixar vocês saírem da ilha para isso, mas eu juro, eu juro que se vocês derem um passo sequer em falso, eu não vou ser piedoso na hora de punir vocês. Não tentem fugir, a Federação tem um chip no corpo de vocês e nem tentem tirar, caso contrário, o chip imediatamente irá explodir e vocês morrerão, mas eu acho que vocês não querem isso, de jeito nenhum, né? - Ele viu ambos rapazes assentindo com a cabeça. - Ótimo.

- Agora saíam e peguem as informações com a recepcionista. - Ele ordenou, voltando até sua cadeira, se sentando no estofado, pegando uma chave em uma das gavetas da escrivaninha, jogando na direção de Cellbit, que pegou rapidamente o objeto. - É o quarto do hotel que vocês vão ficar quando chegarem no destino de vocês, boa sorte.

...

Cellbit leu as informações que lhe foram entregues, virando as diversas folhas de papel, prestando atenção até nos mais minuciosos detalhes, não querendo perder nada de importante.

- Eaí, você já sabe qual o nosso ''destino?'' - Quackity disse, soltando uma risada debochada. Sempre achava o jeito que cucurucho falava muito exagerado e formal, mesmo que não tivesse a coragem de falar isso na cara do homem urso bizarro.

Cellbit retirou a atenção dos papéis quando escutou a voz ao seu lado, prestando atenção no rapaz visivelmente mais baixo. Agora podia perceber mais certamente como ele estava vestido, com as típicas roupas estúpidas e diferentes do real Quackity; uma blusa social azul marinho com alguns dos botões iniciais abertos, suspensórios pretos, uma calça social e sapatos sociais pretos, sentindo falta da touca cobrindo os fios lisos do rapaz.

- Las Nevadas, você sabe que lugar é esse?

Quackity sentiu-se arrepiar. Sua mente se enxurrando de memórias, quase como flashbacks de tempos sombrios e passados. Ele abriu um sorriso ladino, colocando suas mãos nos bolsos de sua calça, caminhando até o Helicóptero que levaria eles para o local de destino.

- Conheço, como a palma da minha mão.