Eu posso ir com você

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Sinto-me um monstro. Não aqueles que ficam dentro do armário e perturbam as crianças para não deixá- las dormir. Um monstro menos covarde. Aqueles que não sabem se realmente são um monstro ou uma vítima. Tenho medo de acomodar-me nesta situação, de vacilar, continuar o mesmo. É como o caso de Dr. Jekyll e Sr. Hyde (O Médico e o Monstro). Não que eu curte e aprecie estórias góticas, porém minha vaga leitura sobre a obra despertou-me alguns pensamentos do tipo: talvez todos nós tenhamos um monstro, um Sr. Hyde, escondido dentro de nós que dá as caras quando menos precisamos de confusão. Sinto-me Hyde de mim mesmo. Não sou médico algum, não há algo medonho dividindo o corpo comigo. Sinto-me monstro, sinto-me vítima, sinto- me eu demais. Às vezes gostaria de sentir-me menos eu, olhar com calma, talvez ir para a órbita de outrem. Eu também teria medo de mim, para ser sincero, se me escutasse falando determinadas coisas, se me visse fazendo outras coisas. Mas no final, eu sempre sou eu. Não estou perdido, pois sinto-me tão nítido e saturado que cega a quem me vê. E gosto de ser turvo, pois sou confuso, e também não me entendo. Eu descontaria essas frustrações em alguma outra pessoa ou coisa (talvez numa massa de pão que irá assar), mas prefiro sorrir e dizer que está tudo bem. Eu nunca fui de dizer tanto sobre mim, de me entregar inteiro a alguém, de transparecer como água doce parada. Docinho, eu pertenço a mim mesmo antes de tudo... E sendo monstro ou vítima ou monstro e vítima ou vítima e monstro... Eu ainda sou eu, meu, me tenho aqui no peito.

E eu cruzo os braços, a cabeça cai para os lados, encosto-me na parede e fico a observá-lo belo e límpido. Eu queria beijá-lo do nada, talvez apenas encostar os lábios e ver no que dá. E ele parece bem agora, abraçando todo mundo, dizendo que está animado e feliz, que não fazia ideia, que está demasiadamente surpreso. E eu, monstro (ou vítima), apenas observando como quem estivesse ponderando sobre tudo. Mas a verdade é que não quero pensar mais sobre tudo, prefiro pensar se o bolo está gostoso ou não, porque de repente minha barriga está roncando e eu cansei de tapeá-la com pipoca doce.

Jimin tira inúmeras fotos com o bolo, num drama cômico de quão arrependido ficou por ter tentado aquilo, mas que com certeza marcou muito sua jornada como um "meme guy". Lhe digo que ele não é um "meme guy", porém só serve para ele discordar de mim. Diz que é desastrado, distraído e azarado, então acaba sendo engraçado para outras pessoas. Eu rio, bebo um pouco de fanta e o deixo terminar de listar as brincadeiras e jogos que trouxemos para sua festa de criança. Está tocando até baby shark e eu não aguento mais essa música. Falei para Suga que o Jimin acharia insuportável, e ele disse que a intenção era essa mesma.

O querido namorado de Jimin decide abrir uma garrafa de refrigerante após chacoalhar. Obviamente dá a tremenda merda e, honestamente, eu não estou com muita paciência para lidar com Suga hoje, não. Mando ele limpar a bagunça e ele resmunga que sou sem graça. Concordo: eu sou bem sem graça, sou o homem mais sem graça do mundo. "Agora limpe", adiciono. E ele limpa.
Daí nos alternamos nos jogos. Certo momento, jogo uma partida de xadrez com Jimin e tento ajudá-lo, mas mal conseguimos terminar com a algazarra de Jhope para que dançassem Nicki Minaj no Just Dance. E ver Jimin dançar esse tipo de música numa coreografia um tanto sensual, dá-me um vislumbre passivinho dele. Quer dizer, eu não penso muito sobre isso, mas... Bem, ele dança de uma maneira que, se eu estivesse com ele, o puxaria pelo cinto da calça e diria que hoje ele vai ser minha janta.

Parece mais aquele meme yaoi...
"Passivo: a"
"Ativo: vai tomar banho, nós vamos transar 300 vezes hoje!"

Eu sei que parece até brincadeira da minha parte, mas até o último segundo da música penso em quinhentos memes safados que combinam perfeitamente com o momento. Não os levo a sério, afinal Jimin é meu amigo comprometido e eu respeito. Mas ele meio que dançou de costas para mim, o que me permitiu ver as causas dos movimentos dos quadris na bundinha de calça jeans dele. Ainda bem que não estou próximo o suficiente para levar uma bundada na cara, já que estou sentado no chão. Na verdade, não sei se é um "ainda bem". Acho que estou aberto a um meio-termo.

Thé et Fleurs • Jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora