Eu não sou pessimista

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A sensibilidade dos sentimentos é algo que não consigo entender. Vou me queixar se eu não puder ter o tipo de coisa que quero ter com esse alguém que não me tem, mas almeja ter. Ante às confusões que implantei em mim desde cedo, caminho paciente, ora perdido entre os horizontes ora perdido em meu horizonte. E meu horizonte é um homem esbelto, de pele clara e madeixas escuras. Que quer amor sincero num fim de tarde boêmio, um café no início da noite e cafuné antes de dormir. Ele merece ser amado da cabeça aos pés, e inclusive dentro, bem dentro. Aquele tipo de pessoa que ninguém sabe ainda por que não dominou o mundo inteiro ou por que a vida tende a ser bem injusta e cruel com ele. Vou me queixar se ele não ser feliz por aí, qualquer que seja o lugar ou com quem. Giro o meu anel crendo que este é o mundo. Tenho medo de acordar amanhã com um sonho maluco que me deixe animado, me dope de serotonina, e me faça esquecer dele por enquanto. Giro meu anel, crendo que ele sou eu. Preciso ficar quieto e me concentrar nas coisas da vida, mas acho que sou uma guia de um navegador com várias abas abertas. É impossível saber tudo de cor.

Após almoço, após compras e doce como sobremesa, nós subimos por uma pista, buscando chegar ao ponto de ônibus mais próximo para pegarmos um específico. Não sabemos como ir à tal mansão, e um dos nossos fornecedores teve complicações com o carro. Ele não poderá nos buscar, mas mandou informações de como chegar até lá. No meio do caminho, um mirante que dá para uma porção de casas pálidas e, por fim, ao mar e sua imensidão. Jimin é o primeiro a puxar-me pelos ombros pedindo para que eu tire algumas fotos dele aqui, já os outros dizem que estão cansados de ficar de pé sob o sol e que seguirão o caminho, mas que podemos alcançá-los facilmente se seguirmos a segunda direita daqui.

— Faça poses legais — eu lhe peço, com minha voz abemolada.

Entrego nossas sacolas e bolsas para Namjoon, que informa seguir os demais, pois não quer mais ficar parando. Eu concordo com sua decisão, sendo assim tiro o celular do bolso da calça e abro a câmera. As poses começam sérias, mas ele se solta após algumas. Eu gosto de vê-lo sorrir, então é isso que lhe sugiro. Ele diz que não irá, mas eu só preciso chamá- lo de bonito e mais outros quatro elogios para pegá- lo em sorrisos espontâneos e tímidos. E então trocamos de lugar. Ele tirando fotos minhas. Eu sou bem exigente quanto a isso, então tiramos várias, eu avalio, depois voltamos a tirar mais. Ele até pode reclamar, mas o jeito com que passa a mão, penteando os meus fios bagunçados pelo vento, diz que ele gosta muito disso aqui.

— Uh, Jk... Posso usar a câmera panorâmica? — gentilmente me pede. — Eu quero mandar para o Google Maps.

Seguro-me para não rir.

— Sério? — pergunto.

— É, sim... Várias pessoas verão minha imagem... — estufa o peito, envaidecido que só ele.

— Mas os usuários só mandam normais, não? — lhe entrego o aparelho.

Ele sorri, abanando-se com uma das mãos, distraído, alimentando meu coração opulento de si. E o sol estapeia o mar, e tua refração estapeia minha cara, e arde e dói, mas é gostoso e bom. Há dores que são prazeres... Ou será que há prazeres que são dores?

— Tem uns que tem como olhar ao redor, então deve ser isso — comenta meio embolado, olhando o visor para configurar alguma coisa.

Afasto-me para não atrapalhar a captura. Ele tenta incontáveis vezes, e eu tenho paciência para esperar, girando e girando meu anel... Olho os arredores, a natureza quente, o verde, o azul, o laranja, o oco, o ócio, o opaco, o apagado... Meu anel girando, Jimin girando com o telefone, o mundo girando, as nuvens, o anel, é Jimin, sou eu, o anel... Estou girando de braços abertos, o vento abusando de mim, o suor decompondo-se, as folhas das árvores virando borrões, o céu borrando, Jimin borrado, tudo numa espiral e eu girando, girando o anel... O anel que vovô me deu, e sinto falta dele. De quando eu girava e era mais novo. Assim como o anel. Assim como faço agora.

Thé et Fleurs • Jikook Onde histórias criam vida. Descubra agora