It Takes Two To Tango

1. Quando Michelle Lopes quer, os dois brigam

Michelle odiava Lucas, e isso era um fato de senso comum há muito, muito tempo. Ele tinha tudo que ela menos gostava, e era completamente o seu oposto. Isso tudo a irritava. Ela sabia que ele a provocava de propósito, apenas para deixá-la com mais raiva.

A garota era séria, focada e disciplinada. Sempre se esforçava e estudava, porque sabia que era sua obrigação e que precisava. Não tinha tempo para brincadeiras, desde a infância foi cobrada e pressionada, ensinada a cumprir com os seus deveres e pensar em um futuro de sucesso. Ela não suportava pessoas descansadas ou desleixadas, que levavam a vida como uma brincadeira ou piada, e isso era Lucas. Lucas era assim.

Enquanto ele estava rodeado de amigos, que ela sabia serem falsos ou apenas pela imagem, ela estava sozinha. Porque todos a odiavam, ninguém aguentava a sua personalidade detestável. Fria, direta e sincera, sempre dizia o que ninguém queria ouvir. Arrogante, superior e soberba. Era tudo o que as pessoas diziam. Eram sempre tratadas com grosseria quando interagiam, então ninguém tinha o interesse ou a coragem de se aproximar. Quando algum caso raro tentava, ela o afastava, e assim permaneceu solitária.

Já Lucas era popular e adorado, todos o amavam, inclusive as garotas que morriam de amores, com exceção da loira que não via qualquer graça. Uma das qualidades que Michelle percebia ter nela e faltar no garoto era a inteligência ou simplesmente a motivação para o ato de estudar. No tempo em que ela assistia às aulas, resolvia exercícios ou fazia anotações, ele dormia, conversava e fazia qualquer coisa menos tentar. Isso ela detestava. Apenas um de todos os defeitos que nele ela identificava. Tinha praticamente uma lista mental de tudo que ela desprezava naquele menino de 1,75.

Lucas também não simpatizava com Lopes porque ele era um garoto livre, solto, brincalhão e humorístico. Já um sorriso sequer passava pelo rosto da adolescente. Ela adorava arrumar briga e fazer reclamações, e ele amava revidar. Não levava desaforo para casa, teimava e não fazia questão de escutar sem antes interromper, para responder e tentar vencer uma batalha perdida para os dois lados. Ela dizia que ele era irresponsável, imaturo e desleixado, já ele que ela era egoísta, babaca e mimada. Totalmente diferentes um do outro.

Era tudo isso que os levava aquela situação.

Eram ainda oito e cinquenta da manhã, e os dois já estavam discutindo durante o intervalo de troca de professores. Cena tão comum ao ponto de fazer parte da rotina.

— Porque você não cala a droga da sua boca durante as aulas? Tá todo mundo cansado de ouvir as suas besteiras e você atrapalha quem realmente quer estudar — Ela dizia, apontando o dedo em seu peitoral, completamente furiosa.

O resto da sala estava dividida em três reações: uns gravavam, outros observavam e riam e o resto ignorava completamente, já acostumados com aquele caos.

— Você é a única que está reclamando aqui, não tô vendo mais ninguém vir brigar comigo por isso. Quem deveria estar revoltado era o professor, não você, se eu estivesse realmente atrapalhando ele teria falado comigo.

— Não me importo se sou só eu. Que seja só eu, você está me atrapalhando. Se não atrapalha os outros, ótimo, mas ME atrapalha enquanto eu quero me concentrar. Aquele professor não te coloca pra fora porque é bonzinho demais. Se não quer assistir aula, dorme, ou sai de sala, mas não seja um estorvo.

Lucas ia respondê-la na mesma altura e a discussão ia durar mais horas, no entanto, ele desistiu de falar quando a professora de inglês chegou e todos foram correndo ocupar seus lugares. Inclusive Michelle, que gostava de ser a aluna disciplinada, ocupando sempre a cadeira da frente. Lucas voltou para o fundo da sala. Todos tinham medo da tutora, que era rígida demais. Mal chegava e já estava dando a aula. A mulher não dava espaço para discussões ou brigas desnecessárias. Um piso fora da linha e era um passo pra fora de sala. E ninguém suportava ir para a coordenação, mesmo que esse tipo de situação fosse frequente.