Guerra, amor e teatro

Capítulo 2

Ela tinha se irritado aquela noite 

Ela tinha se irritado muito aquela noite 

No momento que se sentaram na mesa seu pai e Rodriguez começaram a beber, eles tinham se sentado um de frente para o outro e por consequência ela foi obrigada a sentar de frente para Fernando

Ele mal olhava para seu rosto, comia de forma despreocupada, todo aquele ar de superioridade a deixava nos nervos, ele estava a ignorando 

A ignorando, fingindo que ela não estava bem ali na sua frente, seus olhos percorriam cada centímetro das paredes menos o seu rosto, nenhuma das palavras que tinham saído de sua boca eram direcionadas a ela, nenhum comentário, nenhuma pergunta, ele apenas a tirou do círculo de conversa  

As horas pareciam estar durando anos, os ponteiros do relógio pareciam não se mexer nunca, aquela massa parecia estar com um gosto estranho, seu pai Marcelo não era o melhor cozinheiro do mundo mas naquela noite ele tinha se superado, uma das piores comidas da sua carreira culinária  e a sua bebida não era das melhores, um daqueles sucos saudáveis, sem açúcar e sem gosto e seu pai conseguia deixar tudo ainda melhor, sua voz já estava lenta da bebida, o cheiro de álcool já estava tomando conta da mesa, sabia que daqui alguns minutos aquilo se tornaria uma mesa de bar  

-seu filho castelhano, é um orgulho pra essa cidade- ele ao menos hesitou em dizer essas palavras, como se estivesse falando de sua própria família, um parente próximo  

-Marcelo, eu criei esse rapaz da forma certa- seus olhos brilhavam como se estivesse a ponto de se emocionar  

Mesmo bêbados eles conseguiam se gabar e ele ao menos parecia envergonhado, não tentou nem fingir que estava com vergonha, a única coisa que faltava era ele apenas confirma e ainda acrescentar mais alguns elogios para si mesmo 

-eu apenas tentei o meu melhor- sua voz era tão convencida, tão confiante 

Ele era apenas estupido 

Cheio de si mesmo

Ela não tinha absolutamente nenhum problema com pessoas confiantes , 

-com uma escola daquelas qualquer um pode fazer o seu melhor- as palavras saíram sem sua permissão, ela mesmo ficou chocado quando percebeu o que tinha acabado de falar 

Mas ele não parecia ter se irritado 

-concordo Khyara, se você também tivesse tido a oportunidade tenho certeza que seria melhor que eu

Seus olhos agora a encaravam fixamente como se um brilho de realização estivesse cobrindo seus olhos, e agora ele estivesse realmente olhando pra mim 

Marcelo-eu levo os pratos

Rodriguez- e eu lavo a louça

Os dois senhores sairam com as bebidas nas mãos como duas crianças, deixando toda a sujeira para trás e se escondendo na sala, rindo como se tivessem planejado o crime do século 

Ela soltou um suspiro pesado, não estava com vontade nenhuma de lavar a louça mas ele se levantou primeiro, recolhendo os pratos um por um

-eu lembro de você- ele soltou os pratos empilhados e encostou sua mãos em cima da mesa como se estivesse a ameaçando

-é a mesma menininha irritante da época da escola- ele pegou os pratos de volta mas não antes de completar- você foi a primeira a rir 

A primeira a rir? do que diabos aquele idiota estava falando?

Ela foi atrás dele com os copos indo em direção a cozinha 

Enquanto ele ligava a torneira, ela olhou mais uma vez para seu rosto, a lembrança chegando devagar em sua memória