Guerra, amor e teatro

Capítulo 1

Conseguia sentir seus pulmões arderem, não se lembrava de correr tão rapido assim, não sabia como os pedais da sua bicicleta não tinham saido do lugar ainda. Mas no momento que ouviu o telefone tocar e seu pai dizer onde seria o próximo trabalho, ele não pode fazer mais nada além de correr o máximo que conseguisse até o teatro.

Khyara trabalhava com seu pai, viviam os dois sozinhos, a loja do seu pai de tintas era famosa na cidade pequena em que viviam, a cidade era tão pequena que todos se conheciam, tudo era perto, nada mudava, ninguém nunca se mudava para lá mas tambem ninguem saia. Eles tinham os mesmos clientes a anos, então viviam bem, podiam ficar confortáveis.

E quando se vive em um lugar tão pequeno tudo parece tão monótono, tudo a sua volta é apenas uma rotina sem fim, é dificil você se encantar por algo quando tudo é exatamente igual desde que você veio ao mundo, mas ela foi uma menina sortuda a coisa que ela mais amava naquele lugar tinha tido os seus dias de glória bem em frente aos seus olhos, claro que não se pode confiar na visão de uma criança que em seu pouco conhecimento acha que tudo em que pisa é o mais maravilhoso dos parques de diversões

Mas aquele teatro não encantava apenas ela, ele encantava uma cidade inteira e vamos ser sinceros isso pode ser considerado um feito e tanto e tal fato pode ser confiado

Sim, também não vamos negar que a menina também não se interessou por Shakespeare ou qualquer uma de suas peças carregadas de sentimentos, talvez ela tenha sido cativada mais especificamente pela peça mais famosa do teatro apesar de não ser feita a muito tempo.

Waterloo, a derrota de napoleao

Uma comedia com sérios erros históricos

Ela assistiu pela primeira vez quando ainda não tinha forças para se sustentar nas próprias pernas e se lembrava perfeitamente de cada detalhe, aquela construção antiga guardava as memórias mais jovens daquela cidade, as famílias saiam no final da tarde e ficavam na fila conversando e esperando poderem entrar naquele cantinho secreto de alegria

As vezes nem ela entendia o porquê de ter se apaixonado completamente por aquela história talvez fosse o ator que interpretava napoleão, era o dentista da cidade, senhor Rodriguez, ele tinha bochechas vermelhas e um sotaque espanhol, que ia e via de acordo com seu humor, um homem baixinho com mais energia que tinha visto, ele era engraçado e gentil, tudo que ele fazia parecia ser planejado cuidadosamente antes de ser executado, era por causa dele que a peça era tão famosa na cidade, era por isso que não sobrava acentos vazios. Como poderia existir algo mais engraçado do que um napoleão com sotaque espanhol?

Mas quando ela completou 10 anos, o dentista ficou doente, problemas no coração, ele já não podia fazer as coisas que fazia antes, muito menos suar tanto em cima de um palco, usando uma fantasia pesada que sufocava seu pescoço então ele parou e o teatro também, as luzes já não brilhavam como antes e a pintura já não era refeita mais.

Pelo que parecia não era apenas ela que não se interessava por Hamlet

Então quando escutou que queriam refazer a pintura, ela tinha certeza que ele voltaria, o melhor napoleão de todos.

O rosto de seu pai a encarando quando uma luz de esperança cobriu seu rosto foi digno de pena, sua voz com um tom mais cético que o normal não foi o suficiente para a fazer desacreditar

- não se esqueça de conferir as cores duas vezes, não é mais uma criança

Ela sabia que ele não estava falando apenas em conferir as cores, estava a fazendo perceber que não podia ser tão infantil e uma hora ou outra ela teria que amadurecer

e ela sabia o porque disso

A pintura do teatro não era a única novidade do dia, ele tinha voltado