Estranha sensação

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Tokio sempre foi uma cidade que eu quis viver, todas as suas cores, suas luzes por todo lugar e tecnologia me atraíam. Ainda hoje, dois meses após minha chegada, continuo maravilhada com as particularidades daqui.

É claro, não tive muito tempo para visitar cada canto da cidade e nem de fazer muitas amizades, minha vinda ao país foi solitária. Até então o único caminho que eu fazia todos os dias era de casa até a boate onde eu trabalhava.

-Veio cedo. - disse Takeo, meu colega de trabalho, visivelmente surpreso.

Eu poderia o considerar como um colega apenas, nas horas vagas ele solta alguns flertes bobos, mas me ajuda muito na boate, sem ele provavelmente já teria sido demitida.

-A agência me dispensou, acho que minha cara não os agradou.

-Impossível. Você é bonita demais para te rejeitarem! - ele exclamou se inclinando no balcão onde eu vestia meu avental.

-Acredite, foi exatamente isso o que aconteceu. - respondi com um sorriso irônico no rosto, mas no fundo eu estava chateada.

Tive uma ótima oportunidade de fazer um teste para entrar em uma agência grande, mas não consegui. Tão frustrante.

Meu objetivo inicial em Tóquio era ingressar na carreira de modelo profissional, eu sabia que não seria fácil e que até lá, precisaria me manter.

Por isso, aluguei uma casa e trabalho como bartender nessa boate a menos de um mês, ela era movimentada mas, segundo Takeo, poderia ser ainda mais, era o que acontecia quando alguns procurados pela lei vinham se divertir por aqui.

Ainda não me ocorreu de servir mafiosos, mas eu já havia sido instruída pelo gerente à ficar quieta, só responder quando falarem comigo e fazer seja lá o que eles quisessem. Esse último ponto não me agradava, só que eu acredito que não tinha muitas opções.

Takeo diz que eles podiam ser terrivelmente macabros. Estupidez, na minha opinião.

Era obedecer ou ser morta, ou ainda pior, ser demitida.

Estava fora de cogitação perder meu emprego nas circunstâncias atuais.

Eu servi os últimos clientes daquela noite quando um homem muito alto, de topete baixo e roupas escuras adentra o bar, sua presença era implacável, exalava autoconfiança e até mesmo arrogância.

Me aproximei dele deixando o pano que limpava o balcão de lado, ele se sentava numa mesa vazia e focou a atenção em mim enquanto eu caminhava.

-Nós estamos quase fechando, senhor. - eu o aviso de uma forma simpática o olhando.

O homem continuava a me olhar, eu não enxergava por trás de seu óculos escuro, mas tenho certeza que me julgava.

Só pensava em uma coisa: quem usa óculos escuros às 22h da noite?

-Serei rápido. Um whisky, o mais caro que tiver. - seu tom de voz e a forte presença do sotaque alemão era firme e autoritário, admito que me senti um pouco intimidada, como eu não queria expulsar um cliente, decidi relevar. Pegaria mal para mim caso recebesse uma reclamação e meu chefe não seria gentil comigo.

Dei meia volta e servi uma dose do whisky, levando até ele.

Takeo já tinha ido embora, combinamos que ele começaria mais cedo e sairia mais cedo também, enquanto eu tomava conta do bar até o último horário por chegar mais tarde devido à minha procura por agências e por pousar para empresas amadores que me solicitavam. Esse combinado não contava com o fim de semana, pois era perigoso que eu ficasse lá dentro sozinha já que a casa lotava.

My Paparazzi • BILL KAULITZ (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora