A espera de você

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"O amor calcula as horas por meses, e os dias por anos; e cada pequena ausência é uma eternidade."

John Dryden

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O sol se punha além das pequenas montanhas, e os risos quase histéricos das crianças preencheram as ruas com uma felicidade contagiante. As casas modestas, decoradas com carinho, ganharam vida com as mais diversas decorações, cada detalhe cuidadosamente escolhido para celebrar aquele dia tão especial do ano.

Mas, na esquina da quinta travessa, onde as crianças se reuniam em alvoroço, destacava-se uma casa singular. Luzes alaranjadas cintilavam no topo do telhado, e esqueletos falsos esparramados pelo gramado criaram uma atmosfera misteriosa, típica para aquela noite. Mesmo que a população de Auroravale fizesse questão de não demonstrar medo, todos sabiam que o verdadeiro motivo da comoção era o cemitério que se erguia logo à frente daquela residência.

Entre os adolescentes, haviam os que aproveitavam a noite para pregar trotes e brincadeiras de mau gosto. Os gritos escandalosos reverberavam nos muros de pedras escuras que cercavam o local, enquanto uma animada correria tomava conta da rua. Os adultos, com sorrisos condescendentes, apenas balançavam a cabeça, cientes de que era coisa de jovens que não tinham muito o que fazer. Fazia parte da vida, afinal de contas.

Contudo, além do alto muro que guardava o cemitério, entre túmulos já carcomidos pelo tempo, escondia-se algo mais. A névoa que o outono trazia dançava sutilmente entre as lápides, enquanto o uivo do vento ecoava, enviando calafrios pela espinha de quem se aventurasse naquela noite. A escuridão quase total contrastava com o céu pouco estrelado.

Ainda assim, mesmo com muitos desviando o caminho daquele local, havia alguém que, todos os anos, sempre na mesma hora, sentava-se no banco em frente à capela, com seu coração batendo ansioso, sabendo que o momento tão esperado estava prestes a acontecer.

Já se passaram mais de 300 anos desde que, todas as noites daquele mesmo dia, ele aguardava com fervor o instante em que poderia viver aquilo que um dia lhe fora interrompido, mesmo que por breves horas.

O sorriso trêmulo surgiu em seus lábios, enquanto seus olhos brilhavam com uma mistura de alegria e saudade, antecipando as lágrimas que em breve encheriam seus olhos. Seus fios ruivos dançavam com o vento frio que acariciava seu rosto, fazendo-o encolher os ombros esguios, pois sabia que finalmente, mais uma vez, aquele momento havia chegado.

E então, como as estrelas brilhando no céu noturno, teve o vislumbre das mais belas constelações o observando. Mãos firmes rodearam sua cintura, trazendo-o para mais perto do peito que se aconchegou atrás de si.

A quentura que emanava de seu corpo fundiu-se com uma intensa sensação de estar verdadeiramente vivo, como se cada célula se iluminasse com o poder da saudade que pulsava em seu coração. Cada batida desse órgão apaixonado ecoava em seus ouvidos como um seguidor do quanto esse momento era especial.

Puxando o ar com certa urgência, suas mãos trêmulas percorreram com suavidade cada canto do rosto daquela pessoa que descansava em seu ombro. Seus olhos famintos de amor buscavam gravar em sua alma cada detalhe, como se nunca quisesse esquecer nem mesmo a menor das características que faziam aquela pessoa ser única. Os fios escuros e meramente longos estavam presos, como sempre fora, daquela forma que o fazia ofegar apaixonadamente.

Os lábios alheios se curvaram em um sorriso grande, um sorriso que era tão conhecido, tão esperado, e que sempre acendia uma chama em seu peito. Era como se aquele simples ato fosse o farol que o guiava em todas as suas jornadas através dos séculos.

Antes mesmo que ele pudesse articular uma palavra ou permitir que as lágrimas escorressem por seu rosto, uma voz doce e melódica sussurrou em seu ouvido. Aquelas palavras tão aguardadas ecoaram como uma sinfonia em seus ouvidos:

Oi, minha eternidade.

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Corações na noite Eterna - JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora