8 - Decisões

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— Os moradores de Búzios foram pegos de surpresa por um vendaval na madrugada desta quarta-feira. Segundo a Defesa Civil, existem vários pontos de alagamento na cidade e dois deslizamentos de terra também foram registrados no bairro Tucuns. Três casas foram atingidas. — a repórter falou, antes de César desligar o celular.


— Caramba. — soltou Hugo, vestindo a roupa emprestada de César.


— Isso é comum aqui? — perguntou o empresário, levantando e indo em direção ao banheiro.


— Chove uma vez ou outra, mas nada como ontem. Foi surreal. — contou Hugo, observando o corpo de César, que usava apenas uma cueca. — César, eu preciso ir. Daqui a pouco o João acorda.


Apesar das informações iniciais, ninguém fazia ainda ideia da dimensão dos estragos que a tormenta trouxe para a cidade de Búzios. Aos poucos, os funcionários acordaram e seguiram para o saguão do hotel. Adelaide fez um discurso inspirador sobre superar as adversidades e pediu para que todos dessem o seu melhor na situação.

Como aconteceu no jantar, três pessoas ficaram responsáveis pelo café da manhã. No quarto, César tentou entrar em contato com alguns funcionários, mas a rede de telefonia estava defasada. Para o empresário, a prioridade era reformar o estrago feito pela árvore na janela do hotel.

Ao descer, ele encontrou os colaboradores tomando café. César se juntou a eles e serviu um prato com alguns alimentos. Naturalmente, César sentou ao lado de Hugo, que ficou vermelho e quase engasgou com um pedaço de maçã.

Porém, a lábia de César fez com que o clima estranho fosse dissipado. Essa era uma das suas principais qualidades. O empresário conseguia se adaptar aos grupos e conversas. O bate-papo foi atrapalhado por um afogado Eliezer, que entrou e parecia ter saído de um filme de apocalipse zumbi.

Após tomar um gole de água, o diretor do hotel explicou que parte da cidade estava debaixo d'água. Com o celular, Eliezer registrou algumas cenas da destruição. Para chegar, ele precisou andar quase 20 minutos a pé e precisou cortar o caminho diversas vezes.


O celular de Hugo começou a apitar. No visor, apareceu o contato do asilo onde seu pai estava internado. Desesperado, o skatista atendeu e o diretor explicou que o local sofreu uma inundação e os idosos estavam do lado de fora do prédio, pois não havia outro lugar para ir.


— César, — Hugo balbuciou o nome do empresário e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. — eu preciso ir. — saindo correndo.


— Hugo! — César gritou ao ver o skatista correndo para fora do hotel. — Eliezer e Adelaide, por favor, segurem as pontas. Eu vou verificar o que houve. — correndo na direção de Hugo.

Correndo pelas ruas de Búzios, os dois tiveram noção de como a cidade foi afetada. Árvores, entulhos e muita água estava pelo caminho. Depois de alcançar Hugo, César pediu um tempo para analisar a situação, afinal, o trajeto traria muitos desafios.

De bicicleta, por exemplo, não daria porque a rua estava repleta de lixo e detritos trazidos pela chuva. César sugeriu ir caminhando, mas sem correr, afinal, a maior parte do caminho estava submersa por uma água escura.

— Eu vou sozinho, César. Volta para o hotel. Tenho certeza que tem diversos problemas e...


— Não. — César cortou Hugo e tocou no ombro do skatista. — Hugo, você ir sozinho é loucura. Olha para essa rua. Fora que a Adelaide e o Eliezer vão fazer os ajustes necessários. Eu vou contigo.

— Para de ser teimoso, cara.


— Hugo, o tempo que você está gastando sendo birrento, já daria pra gente ter andado bastante. — afirmou César, pegando um pedaço de madeira chão e colocando dentro da água. — Vem. — andando e usando a madeira como guia para evitar buracos.

Amor no paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora