Capítulo 5

194 46 468
                                    

5 de fevereiro

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


5 de fevereiro...

A noite estava fria, foi o que a jovem médica percebeu assim que saiu do táxi em seu bairro. Encarando o céu acima, notou que o clima vinha sendo estranho nos últimos dias. A sensação úmida do ar era palpável, como se pudesse tocá-la ou ser envolvida pelo orvalho. Fechou a porta do carro, que produziu um baque sonoro. A brisa fria a envolveu; era como se sentisse um abraço acolhedor, apesar do frio.

Pagou o táxi a um senhor muito sorridente que a trouxera de volta a seu bairro. A conversa tinha sido animada; o homem na faixa dos quase 60 anos se mostrou aberto a diálogos.

Quando o carro partiu, ela hesitou em entrar no prédio onde seu apartamento estava localizado. Notou o escasso movimento de pessoas às 23 horas de uma quarta-feira. O trabalho tinha sido bastante agitado, com muitos atendimentos. A enfermeira deu passos repetitivos, com a mente desconexa, incapaz de se concentrar para entrar no edifício. Ela estava longe demais para entender o que estava acontecendo ao seu redor.

Seu corpo se arrepiou subitamente; era como se estivesse sendo observada. Virou-se nos calcanhares e percebeu a presença de um desconhecido ali. Seu rosto franziu levemente, mas logo se iluminou com um sorriso de surpresa ao reconhecer o homem à sua frente.

— Nora? Tudo bem? — A voz grave e suave do homem era como música para seus ouvidos. Ele era alto, com passos firmes, mas silenciosos, vestindo-se com despojamento, com uma jaqueta de couro preta com um capuz igualmente ao restante dela e uma calça jeans que delineava seu corpo bem definido.

— Olá, que coincidência encontrá-lo por aqui. — Nora aproximou-se, deixando escapar um sorriso gentil. A forma como ambos se conheceram tinha sido engraçada; Nora havia derramado café no desconhecido.

— Eu moro por aqui, estou ansioso por descobrir que você também reside neste bairro. — Ele sorriu, aproximando-se de Nora, suas mãos mergulhadas nos bolsos da jaqueta, mantendo um olhar enigmático sobre ela.

Ela parecia perfeita, os cabelos loiros desalinhados pela brisa fria, o rosto harmônico e delicado, algo que o encantou desde o primeiro instante. Os lábios dela eram convidativos, como se fizessem parte de um jogo sádico em sua mente.

Nora era ingênua demais para perceber que o olhar do homem alto à sua frente não era algo novo; na verdade, ele a seguia há muito tempo, observando-a em momentos específicos. A forma como se conheceram não era uma coincidência; fazia parte de um plano sinistro, meticulosamente elaborado, onde o predador estudava sua presa.

O homem conhecia a rotina de Nora há meses, sabia que ela morava sozinha e que tudo se resumia à hora certa e ao lugar certo. Ele podia sentir a pulsação dela, mesmo à distância, e sabia como ela reagiria ao seu jogo doentio.

Este estudo minucioso visava conhecer a vítima tão bem que ela jamais poderia imaginar do que ele era capaz apenas olhando para ele.

— Pilsen é um bairro perfeito, especialmente para alguém vindo do México, como eu. Meus pais eram mexicanos, mas passaram a maior parte de suas vidas aqui. No entanto, você sabe como a velhice é, carregada de saudade. — Nora suspirou, seu olhar fixo no homem à sua frente. Um sorriso fraco e sincero surgiu em seus lábios, enquanto ela proferia: — Desculpe, estou falando demais.

Rastros de sombraOnde histórias criam vida. Descubra agora