Antes de começar a parte do "era uma vez" presente em todos os contos de fadas, preciso alertar para alguns fatores: Se você for uma pessoa homofóbica, preconceituosa, cheia de tabus e não curte linguajar da forma como vemos por aí, um aviso: pare por aqui.
Não parou? Depois não diga que eu não avisei.
Meu nome é Felipe Dias, tenho 19 anos, moro em São Paulo e faço Arquitetura e Urbanismo. É... Pelo meu curso você já deve ter desconfiado da minha orientação sexual. Afinal, nunca vi um curso para ter tantas manas. Parece um curso-imã para gays.
Não sou um cara bonito. Algumas pessoas até me acham, mas eu não. Por muito tempo usei óculos fundo de garrafa, aparelho e usava roupas que pareciam da década de 90. Também já fui gordo e depois muito magro. Sempre aos extremos. Mas sei que vocês querem mais detalhes sobre mim, então lá vai. Tenho cabelos castanhos claros, quase loiros. Olhos também castanhos e sem barba. Cabelo socialzinho, como menininho de mamãe. E meu corpo está ok. Digo, agora estou fazendo academia e comendo direito. Mas não sou desses que ficam se mostrando. Não acho que eu tenha algo para mostrar.
Tudo começou numa noite qualquer de dezembro. Naquela tal noite, quente – já era verão e faltava pouco para o ano novo -, instalei alguns aplicativos muito conhecidos pelo público-alvo desta história: Blendr, Grindr, Tinder. E logo meu lado virginiano começou a questionar algumas coisas: por que a maioria desses aplicativos termina com o mesmo som? Mas me contive e não fui pesquisar – pelo menos até agora.
Era uma verdadeira vitrine de caras. Me senti andando pelas ruas de Amsterdã, numa verdadeira Holanda virtual, onde a putaria rolava solta. De cara encontrei várias fotos de tanquinhos sem rosto, boys magia e aqueles que se sentiam os tais. Bem, eles podem se sentir assim. A sociedade diz isso e bem, estaria sendo hipócrita se dissesse que isso não me atrai, pois atrai.
Chamei vários. Não posso negar que levei vários foras. E quando não me respondiam, eu fazia de tudo para que falassem comigo. Acho uma falta de respeito deixar alguém no vácuo. Alguns são mais curtos e fazem questão de especificar aquilo que não lhes atrai em você, um problema segundo eles.
Até aí, eu vivia em segredo, no armário, como dizem. E para ser sincero, é melhor do que escancarar tua vida de vez. Não por vergonha da orientação, mas porque ainda vivemos numa sociedade que não pensa muito e eu já passei da minha cota de aguentar preconceito. Deixava essa minha vida em "off". Já tive uma "fase", segundo minha mãe, na qual eu me apaixonei por um cara. Não preciso contar tudo, até porque ele não merece estar nesta história.
Foi nessa fase que passei a dar mais valor ao que dizia minha mãe e meus dois melhores amigos: a Fernanda e o Marcelo. Somos melhores amigos desde pequenos e é difícil guardar algum segredo deles. Como não tenho irmãos, eles são o mais próximo que tenho disso.
- A Diana finalmente alterou o status de relacionamento dela. – a Fernanda falou sentada no banco traseiro do carro do Marcelo. – Coitada... Sofreu tanto... – a Fê quando queria, era irônica e má. Mas só com as pessoas que mereciam. A Fê tem um coração mole e enorme. Só se faz de dura. Como eu...
- Ela foi a pior que você pegou, Lipe. – disse Marcelo quando paramos no sinal vermelho.
- Você disse que ela era bonita! – contestei e Marcelo riu de lado.
- E é, mas era muito cricri. Entende? – o Marcelo e suas mudanças repentinas quanto às pessoas. – Fê, onde que eu devo virar?
- À esquerda. – a Fernanda respondeu.
Estávamos indo a uma festa de um amigo dela da faculdade. Onde com certeza, eu ficaria de vela. A Fê já estava de rolo com uma menina. Ela é bi, mas pega mais garotas que muito hétero machão por aí. Algumas dessas garotas que ela costuma pegar são, inclusive, namoradas desses machões.
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O Novato
RomanceNovo mundo, novas experiências, novas pessoas, novas escolhas... E uma conhecida certeza. Felipe sempre foi inseguro, superprotegido pelos pais e de poucos, mas verdadeiros amigos. Um cara que gosta das coisas certas e que luta para manter o equilíb...