1.03 - Caindo na Real

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Você já se sentiu tão mal que nada conseguia te fazer sentir vontade de levantar da cama? Eu sei que eu estava decidido a não me abalar mais pelo assunto "Hermes", mas a falta que ele me fazia era insana. Ele era minha droga e eu dependia dele.

Sinceramente? Achei que seguiria em frente sem maiores danos. Sempre me apeguei muito às coisas e aos defeitos que faziam desapegar das pessoas sem maiores remorsos ou sofrimentos, mas aquela minha tática não estava sendo bem aplicada ao Hermes. Sempre disse que não perdoaria mentiras ou traições, mas posso jurar que se o Hermes aparecesse na minha frente naquele momento, eu me arrastaria até ele e seria capaz de esquecer tudo se ele apenas dissesse que me amava. Eu sei que isso é um tanto Lana Del Rey em seus clipes, mas eu estava pronto para me humilhar, se preciso fosse.

As tantas horas que eu passava trancado no meu quarto eram de extremos. E se eu me adaptasse ao jeito dele? E se eu aceitasse? E se eu melhorasse minha aparência? Eu estava disposto a fazer do Hermes o meu sol. Só saia para ir à faculdade - isso quando eu ia. Eu era o único dos alunos que ainda não havia faltado naquele semestre. Era a referência. Aquele filho da puta revirou meu mundo. Ninguém tem esse direito.

Dias antes peguei a pior gripe que já havia tido. Eu sentia pena de mim e do meu estado. Não bastava estar uma bagunça sentimentalmente e emocionalmente? Não. A vida tinha que me foder mais ainda – e sem lubrificante.

Para meus pais, eu estava bem, apenas sobrecarregado com as provas semestrais. Eu simplesmente não conseguia pensar em mais nada, só no Hermes e nas coisas que ele havia me dito. Pra quê iludir? Realmente, deve ter sido ótimo para ele. Vez ou outra eu o procurei na iludida esperança de que ele voltasse a ser o Hermes que eu conheci, mas o modo como ele me tratava fazia com que eu me arrependesse amargamente de procurá-lo. Baixinho filho da puta! Sério, ele nem é bonito! Pelo menos era disso que eu tentava me convencer.

Naquela semana eu só tinha ido duas vezes para a aula e a Fê fez o que pôde para tentar me animar. No sábado teria a comemoração do aniversário de uma amiga dela e ela realmente queria que eu fosse.

- É na Outs! Já falei que a Outs é a melhor balada daqui de São Paulo? – a Fê falava deslumbrada. Poderia muito bem ser a garota propaganda deles. – Toda vez que te chamo para ir lá você dá mancada, Lipe!

Eu olhava com cara de culpado ft. arrependido para ela, mas teria que dar um novo bolo. Eu sei que ninguém fala bolo, mas eu simplesmente me nego a falar "perdido". Dar o perdido? Que expressãozinha mais sem nexo! Mas enfim...

Quando o sábado chegou, a Fê me mandou uma mensagem tentando me convencer novamente, mas a situação era: curtindo fossa, recém-curado de uma gripe, arrependido. Tenho certeza de que se eu fosse, das duas, uma: ou eu ficaria no meu canto sem socializar, ou beberia muito e talvez passasse dos limites. A Fê sabe bem como sou quando passo dos limites.

- Vai ficar em casa hoje? – minha mãe me perguntou quando abriu a porta do meu quarto e me encontrou jogado na cama.

- Vou sim. – respirei fundo. – Não to muito animado. – respondi, tentando desviar do olhar da minha mãe.

É incrível, mas minha mãe acabava descobrindo o que eu sentia só de olhar. Mãe é mãe. Por isso eu não encarei e voltei a assistir Orange Is The New Black na Netflix, torcendo para que nenhuma cena de sexo aparecesse.

- Tudo bem, então. – minha mãe respondeu me encarando. Tenho certeza de que ela tentava me decifrar. – Qualquer coisa você liga. Eu e seu pai vamos para a casa da sua tia. – ela disse e eu balancei a cabeça.

Mas acabei não precisando de nada. Dormi do jeito que eu estava, todo jogado e destruído. Olhei no celular - 02:40. Como assim? Adormeci por 20 minutinhos! A TV já tinha desligado sozinha. Levantei da cama e enxuguei a baba no canto da boca. Passei pelo quarto dos meus pais, que já estavam dormindo – a sinfonia de roncos estava no ponto alto. E para variar: perdi o sono e estava morrendo de fome.

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