1.02 - Procura-se: Meu Antigo Eu

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Cinquenta e três horas e quinze minutos. Este era o meu recorde. Já fazia dois dias que eu não mandava mensagem para o Hermes. Mas de que servia aquela comemoração, se ela era envolvida em uma num sentimento de falta, e porque não, tristeza? Parte de mim dizia que aquilo era provavelmente o melhor, até porque, antes de conhecê-lo, eu estava decidido a não me envolver. Seria só uma transa. Eu veria como é, tiraria minhas dúvidas e tudo voltaria ao normal. Foi só uma experiência, dizia a mim mesmo quando me olhava no espelho. Mentia na cara dura.

Respirei fundo e saí do banheiro. Naquele dia, eu e a Fê tínhamos combinado de passar o dia no Ibirapuera. Enquanto me arrumava, li a mensagem dela, dizendo que tinha chamado os meninos.

- Você não vai almoçar? – minha mãe perguntou quando sai do quarto todo arrumado.

- Eu como alguma coisa depois. – respondi e minha mãe me encarou com as sobrancelhas arqueadas.

- Você não tem comido direito. – ela comentou e mudou de canal na televisão. Passou pela HBO, que fazia maratona de Game of Thrones. Bem numa cena de sexo. Um ruivo gostoso e uma moça não muito bela. Não pude evitar não olhar. – Essas coisas em pleno domingo pela manhã? – a dona Sônia criticou e mudou novamente. Eu ri de canto. – E aonde você vai? – ela me perguntou, mas não tirava os olhos da TV.

- No Ibirapuera. Com a Fê e os meninos. – respondi.

- Ah ta.

Ao contrário da maioria dos meus amigos, minha mãe pegava no meu pé. Ela sempre foi assim e tenho certeza de que sempre será. Nossas brigas, na maioria das vezes é por ela me tratar como criança ou adolescente, no máximo. Toda vez que meu primo de oito anos vem nos visitar, ela praticamente me obriga a jogar videogame com ele. Mas isso é até melhor. Pelo menos, ele não fica pedindo para mexer no meu notebook. Na semana passada, o molequinho intrometido chegou quando eu estava no banho e foi direto para o meu quarto. Vendo meu notebook fechado em cima da cama, pegou e abriu. Eu não sei por quanto tempo ele ficou lá, mas tenho mais do que certeza de que ele viu as páginas do Xvideos que estavam abertas. Quando entrei, enrolado na toalha, o moleque fechou o notebook mais do que depressa e saiu do meu quarto sem falar nada, mas tinha aquele olhar de criança demônio.

Já no Ibira, a Fê, que eu costumava dizer que era minha gêmea de outra mãe, já tinha se ligado que algo tinha acontecido. Ela, que antes tinha me pedido para ir com calma e me alertado sobre os homens, mais uma vez tinha razão. Eu não queria admitir e por isso guardava minha decepção para mim. Por serem raras as ocasiões em que a Fernanda tinha razão, quando ela tinha, aquilo virava um tipo de hino, de lembrança. É bom deixarmos uma coisa muito clara: normalmente, sou eu quem tem razão com os avisos direcionados a ela.

- Sabe o que eu notei, Lipe? – ela quebrou o silêncio, enquanto caminhávamos pelo parque. Olhei um pouco confuso para ela e fiz que não. – Você não toca no nome do seu boy faz um tempo.

Maldita!

- Aconteceu alguma coisa, não é?

Acertou, miserável!

Desviei o olhar e dei uma risadinha. A Fê continuava me encarando.

- Eu não falo com ele desde quinta. – falei, e tive a sensação de que meus momentos de paz antes das últimas provas do semestre tinham acabado de descer pelo ralo.

- Eu sabia que ele não prestava! – disse a Fernanda. – Deixa eu adivinhar. Esse silêncio todo é porque você não para de pensar nele, não é? Esquece essa praga. Ele não te merece e eu não apóio!

Eu e a Fernanda temos isso de apoiar ou não um namoro ou peguete mais sério do outro. Assim como eu não tinha aprovado a indiscreta Giovanna, ela não apoiava o Hermes. A diferença é que eu sempre falei sobre minhas reprovações de maneira mais sutil.

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