O primeiro beijo

3 1 0
                                    

O Sol se mostrava em todo seu esplendor e mesmo assim a temperatura parecia amena, as arvores balançavam para lá e para cá no ritmo que o vento impunha, e assim, refrescavam as duas jovens que estavam protegidas debaixo de todas aquelas folhas e galhos. Um dia calmo que carregava consigo o gosto amargo da despedida.

Maria abraçava sua amiga que deitava em seu peito, suaves carinhos eram feitos no cabelo macio enquanto os olhos miravam o céu pelas frestas das folhas. Aquele seria o último dia que estariam juntas, já que na manhã do dia seguinte Anne Marie voltaria a Paris. O começo se iniciava pelo fim, pois o tempo que tiveram juntas parecia tão curto que sequer amenizava toda a saudade que sentiam.

Por vezes, Maria colocava seu pé no chão para poder balançar a rede e nesses momentos Anne Marie sorria. A ideia de amarrar a rede embaixo das arvores no fundo do quintal da casa foi de dona Graça, a mulher sabia que as duas meninas estavam tristes pela despedida e a ideia de deixá-las quietinhas pareceu uma boa saída para abrandar toda aquela melancolia.

Apesar de nunca terem conversado sobre, Maria das graças sabia que sua filha carregava no peito um bem querer que acompanhava todos os anos de sua vida, desde o nascimento de Anne Marie. A reciprocidade parecia equivalente e isso fazia com que o coração de mãe se acalmasse. Afinal, nem todos possuíam a sorte de encontrar um alguém para a vida toda, mas as duas Marias tinham.

Por falar em sorte, o primo de Maria havia comentado sobre encontrar verdadeiras preciosidades em uma parte da ilha, lugar esse que todos chamavam de quilombo, pois anos atrás abrigava pessoas foram escravizadas. O espaço era preservado pelos descendentes dessas pessoas e se mantinha aberto para visitação, já que o mesmo carregava consigo um importante significado e marcara a história da ilha.

Antigas construções eram possíveis de serem observadas e de forma surpreendente, parte delas duravam até a atualidade, mesmo com algumas danificações feitas pelo tempo e pelos homens. Com um pouco de imaginação era possível criar as mais infinitas histórias de fatos que poderiam ter acontecido naquele lugar. A ilha era cheia de lendas e aquele pedaço de terra também contribuía com o imaginário popular.

Por isso, Anne Marie queria conhecer aquele lugar, além de saber que fazia parte da história do lugar que tanto amava, também planejava por e prática um pequeno plano, sabia que próximo dali estava a maior arvore da ilha e pretendia marcar sua estada de alguma forma, para que Maria não a esquecesse. Mesmo que soubesse o quanto era presente na memória de Maria, fazia questão reforçar a permanecia, mesmo a quilômetros de distância.

- Seu primo disse que não é tão longe... - Argumentou Anne Marie tentando persuadir a amiga. - Vai ser rapidinho.

- Não podemos, Marie...

Maria não queria desobedecer aos avós de Anne Maire e os mesmos haviam proibido a neta de ir até o lugar pretendido, na verdade, o local não era tão próximo assim e os mais velhos acreditavam que o lugar era assombrado. Maria não acreditava naquilo, mas sabia que se algo acontecesse com Anne Marie, a responsabilidade seria toda sua. Preferia ficar onde estava, na segurança daquela rede, aproveitando a presença da amiga, podendo vez ou outra fazer carinho nos fios dourados.

- O que preciso fazer pra você me levar lá? - Perguntou demonstrando sua insatisfação. Às vezes, toda aquela proteção por parte de Maria a deixava enervada. - É meu último dia aqui, queria fazer algo diferente com você...

Usando toda sua astucia, Anne Marie fez uma última tentativa olhando para a amiga da forma mais adorável possível, para que assim pudesse convencê-la. Maria sempre fazia as vontades da amiga, mesmo que tentasse se mostrar irredutível, acabava cedendo para que pudesse ver os olhinhos miúdos de Anne Marie fecharem enquanto ela sorria animada. Dessa vez não foi diferente.

MARIASOnde histórias criam vida. Descubra agora