O Encontrar de Olhares

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Lucian vivia numa cidade esplêndida, era tecnológica mas tinha árvores colossais com florestas e lagos encantadores, ele era um rapaz com paixão pela natureza e costumava viver por lá mesmo sendo de família necessitada. Era manhã e pássaros já cantavam, eles entoavam com uma plenitude e beleza jamais vistos em outro lugar, tudo realmente parecia mágico, mas quebrando a perfeição do dia, o estômago de Lucian roncava, ele ainda não havia tomado café da manhã e a fome o tomava conta.

Ele espreguiçou na cama e murmurou — Mãe, sobrou alguma coisa da janta?

— Não meu filho, e infelizmente também não vou conseguir fazer almoço, sinto muito, mas vai dar tudo certo, tá?

Sasha, a mãe de Lucian e o irmão mais novo Thomas eram a única coisa que ele tinha no mundo, seu pai tinha falecido anos atrás, mas mesmo quando as coisas estavam complicadas, aqueles dois eram como um sol pra ele, o sentimento que ele tinha quando estavam juntos, era como se os problemas tivessem evaporado por um instante. Seu irmão ainda estava dormindo e ele decidiu sair pela cidade com cuidado, para que ele não acordasse.

Bicicletas e trens passavam pelas ruas, estavam todos os moradores animados e dispostos naquele dia, mas havia um tumulto, que causou confusão no rapaz, aquele dia estava mais agitado do que o normal. Mas o que tirou sua concentração pelo barulho, foi o que sentiu de longe, ele avistou uma loja com algumas frutas e o cheiro era levemente doce e pareciam realmente apetitosas, maçã era sua comida favorita, e naquela loja, era o que mais tinha. Ele sabia que era errado, mas não pôde resistir ao que queria, quando ele achou que o dono da loja estava distraído, rapidamente abriu a bolsa e colocou 3 maçãs, mas aconteceu o que ele menos desejava: o senhor furiosamente foi em direção à ele.

Assustado, mas não arrependido, Lucian começa a apressar-se, a quantidade de pessoas no centro da cidade o ajudava a se espalhar, o que ele mais queria era que o homem parasse de o seguir, mas era quase impossível, ele estava o alcançando cada vez mais. Adentrando pela multidão ele foi em direção ao barulho para tentar despista-lo, eram pessoas com vestes parecidas, câmeras e cenários como os de uma peça de teatro, mas ele não tinha tempo para pensar, e entrou na primeira porta que ele viu e trancou.

Ofegante e cansado, ele senta no chão mesmo ouvindo as batidas na porta, quando elas pararam ele olha à sua volta e percebe um rapaz o encarando assustado, seus olhos azuis eram angelicais e ele vestia roupas parecidas com o daquelas pessoas que estavam lá fora.

— ... Olá — Ele se aproxima e estende sua mão para ajudar Lucian a se levantar — Me chamo Benjamin, o que faz aqui?

— Eu... hm... — Ele continuava a encarar aqueles olhos, o que era aquilo? Benjamin era tão belo que parecia não ser humano. Existiam pessoas assim? E por que seu coração continuava tão acelerado? Frases como essa se passaram pela mente de Lucian, e ele nem percebeu que acabou esquecendo de respondê-lo.

— O que faz aqui? É falta de educação entrar assim, sabia? — Repetindo a pergunta que já tinha feito e a voz de Benjamin também era linda, mas ele conseguiu sair desse transe, pegou na mão de Benjamin e se levantou em seguida.

— Bem... me chamo Lucian, e vim... conversar! E aí? Como vai a vida? — Ele não poderia dizer à ele que estava fugindo, e não conseguiu pensar em algo melhor também. Benjamin apenas o encarava o outro garoto, ele era alto mas aparentava ser da sua idade e tinha cabelos pretos compridos com algumas tranças pequenas.

— Conversar? É algum fã meu por acaso? — Ele estranhou aquele comportamento repentino, não gostava de aparições surpresas em seu camarim.

— Fã? E quem você pensa que é? Beethoven? — Era o jeito de Lucian ser um pouco sarcástico, mas daquele jeito, soou um pouco quanto... inadequado. Em choque com a grosseria, Benjamin se irrita e decide expulsá-lo dali.

— Vou chamar os seguranças, com licença. — Mesmo sendo metido aos olhos de Lucian, ele era educado.

— Não... por favor... olha, eu tô com muita fome e não posso ir lá fora agora, cara. Entende? Tem um homem me procurando, quebra esse galho pra mim...

— O que diabos fez pra ele estar te procurando? É um assassino?

— Não... que tipo de pergunta é essa? Eu só tava com fome... não são todas as pessoas ricas e privilegiadas sabia?

Benjamin o encara surpreso, reflete por alguns segundos e compaixão surge em seus pensamentos, mesmo sendo famoso, ele não tinha amigos, muito menos em quem confiar, e vendo que Lucian confiaria nele, ele decidiu protegê-lo em vez de apenas julgá-lo.

— Enquanto estiver aqui, está seguro. Tenho alguns sanduíches aqui também, pode levar.

Porém, o filme iria começar em alguns minutos e Benjamin precisaria gravar algumas cenas, eles não poderiam ficar ali escondidos o dia todo. Então, ele convida Lucian assisti-lo atuar e entrega um boné, óculos e uma das roupas dos assistentes.

Por sorte, ninguém o reconheceu ou estranhou sua presença lá fora, Lucian apreciava a atuação do loiro, o jeito que ele se movia e até suas falas, tudo soava tão natural e atraente, era como uma hipnose. E assim, ele tornou a voltar todos os dias no mesmo horário, ele não admitiria, mas amava invadir o camarim dele. E então intimidade entre os dois e laços foram se criando.

— Então, Ben... já posso te chamar assim?

— Ben? É bonitinho, nunca me chamaram assim antes. — Suas bochechas ficaram rosadas e um sorriso precioso se abriu, ele era tão delicado, tão perfeito, e quando mais eles se conheciam mais ele queria ficar próximos.

— Você pode me encontrar no lago?

— Não... eu não posso sair, meus pais não me deixam sair muito, só pras gravações e sessões de foto — Ele fez uma expressão de tristeza, mas uma ideia surge na cabeça de Lucian.

— Fique pronto às 9. Vou dar um jeito nisso, fica tranquilo.

Benjamin ficou animado e ansioso, não via a hora do horário chegar, e foi se arrumar logo quando chegou em casa, escolheu suas roupas mais bonitas e um cachecol, pois estaria frio naquela noite. Foi complicado fazer tudo em silêncio, seus pais não podiam desconfiar que ele sairia tarde com um garoto. Mesmo tendo 19 anos, seus pais ainda o viam como uma criança, isso era muito desconfortável, porque eles não o compreendiam mais, óbvio, que é natural um adolescente crescer e virar um adulto, seus gostos, hábitos e atitudes mudam, mas para pais protetores, toda diferença mínima era chocante.

Toc, toc...

Ben se espantou achando que fosse em sua porta, mas por acaso, era em sua janela, ele ficou ainda mais pensativo, já que ele morava no segundo andar, não era normal barulhos assim. Indo para a janela, ele a abriu devagar sem que faça muito barulho e seu coração só faltou sair pela boca.

— Lucian??? Caralho você é maluco?!?!? — Cochichou Benjamin olhando pra baixo e logo tapou sua própria boca com a mão, ele não costumava falar palavras de baixo calão.

— Vem, a queda não deve ser tão feia... eu vou te segurar gatinho — Proferiu Lucian dando um sorriso de canto.

Repensou em tudo que já tinha feito de pior, mas nada surgiu na mente do Ben, já que ele nunca tinha sido rebelde antes. Dando um suspiro e fechando os olhos, ele se preparava para pular, tinham telhas abaixo dele e uma planta que aparentava ser forte, mas ele não fazia ideia se aguentaria o peso dele ou não.

— Só se vive uma vez... é isso que falam né?

— AAAAH vem logo, não temos a noite toda, infelizmente...

"O que ele quis dizer com infelizmente?" Pensou Ben mas logo decidiu tomar atitude, colocou seus pés pra fora e passou pela janela, com cuidado para que ninguém o visse, estava tudo dando certo, até que chegou um momento em que ele teria que descer segurando aquela planta.

Se ele soubesse o que aconteceria...
Continua...

De Preto e Branco à Azul e VerdeOnde histórias criam vida. Descubra agora