— Turma, hoje somos agraciados com a chegada de um novo ser em nossa círculo íntimo. Peço-lhes, encarecidamente, que ofereçam ao estimado Gatcho as mais calorosas boas-vindas!
El Gatcho entrou timidamente, com suas orelhas abaixadas como um sinal de rendição. Seus olhos, famintos por aceitação, percorreram o ambiente, buscando escapar do cerco de olhares interrogativos e julgadores que o envolviam. Sentia-se acuado, como uma presa prestes a ser caçada.
— O-Olá... — gaguejou, sua voz tímida ecoando no silêncio do recinto.
Uma voz feminina, impetuosamente desrespeitosa, rasgou a atmosfera:
— Gatcho? Que nome estúpido.
As risadinhas brotaram como teias de aranha no ar. El Gatcho sentiu-se menor do que nunca, imerso numa sensação de angústia sufocante, como se seu coração estivesse aprisionado por correntes invisíveis.
— Gatcho? Tipo, uma junção de gato e cachorro? — alguém comentou, fazendo pouco caso.
Tudo o que El Gatcho possuía de coragem e alegria evaporou naquele instante. O sorriso que se esboçava timidamente em seus lábios desmanchou-se. Ele encolhia-se, fisicamente encurvado, como se quisesse desaparecer no chão.
A professora, enfim, interveio:
— Crianças! Tratem-no com respeito! Mia, pare de insultá-lo!
Mia revirou os olhos, num gesto de desdém, como se desaprovando a repreensão da professora.
El Gatcho se sentou, obedecendo às ordens da professora. Ao seu lado, uma carteira vazia, próxima à janela, como se estendendo um convite para contemplar um mundo além das palavras cruéis e olhares desdenhosos.
— Seu nome é diferente. — comentou Branquinho, o gato completamente branco, seu olhar alheio ao turbilhão de emoções à sua volta.
— Sim, eu sei... Sou um pouco estranho. — sorriu El Gatcho, numa tentativa frágil de suavizar a amargura que pairava no ar.
— Ser estranho é legal. — respondeu Branquinho, deixando seus olhos vagar pela janela.
Naquele momento, El Gatcho percebeu que talvez, apenas talvez, aquela escola não fosse habitada apenas por gatos imbecis.
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El Gatcho
Historical FictionNa Ilha das Garras, existe uma sociedade monárquica profundamente segregada em termos raciais entre os ilustres felinos e os caninos marginalizados. Os gatos, com sua suprema superioridade, relegeram os caninos a uma posição subalterna. No meio dess...