Peguei a caixa empoeirada com nojo e curiosidade, e embora a sujeira grudasse em meus dedos, esta última se sobressaía. Ao abrir, me deparei com o que para mim representava um verdadeiro tesouro, um achado, uma descoberta impressionante... a caixa estava cheia de velhos álbuns de fotografias. Ok ok pode revirar seus olhos à vontade e até torcer a boca se quiser, você com certeza achará isso desprezível.
Antes de esboçar qualquer reação, respirei fundo e tive um mini ataque cardíaco, e então as pontas dos meus dedos formigaram, expirei e só então me atrevi a toca-los, e não permiti que meu cérebro criasse expectativa do que viria a seguir, embora a minha alma atrevida, ignorando as minhas ordens, já palpitava dentro de mim. Solenemente peguei o primeiro álbum, era um desses que você ganhava de brinde ao mandar revelar suas fotos. Na capa uma paisagem que julguei ser Fortaleza, pois para mim, qualquer trecho de praia com coqueiros, representava a cidade que há muito habitava meus sonhos turísticos. Parecia uma criança diante de uma taça de sorvete gigante, abri a primeira página e minha alma começou a pular dentro de mim, sacudiu tanto que achei que iria sair e dar cambalhotas no sofá, mas então ela se lembrou que se saísse nós "eu " morreríamos, então se conteve, mas antes sacudiu mais uma vez e disse em alto e bom som:
-Eu não disse!?
Eu não conseguia piscar, meus dedos ficaram mais dormentes e meus olhos se estreitaram para aquela cena, a foto era de uma moça, uma filha da mãe de uma moça, que estava sentada no colo de alguém que eu amava, meu marido, mas não exatamente o "meu" marido, era ele sim, porém uns 10 anos antes, então tecnicamente ele não era meu. Continuei olhando pra foto, e analisei tudo, o ambiente, a iluminação, o rosto do casal, suas vestes, conclui que sim, estavam super a vontade e que sim, ela era bonita, mas meu orgulho disse:
- Que cabelo horrível!
Continei olhando pra foto meio tensa e curiosa, deveria ter ciúmes? Aquele recorte de tempo era curioso, o que uma lente de câmera conseguiu capturar? Um jovem casal, sentado em uma cadeira de embalar, como teria sido aquela cena para que aquela foto tivesse sido feita? Seus rostos demonstravam felicidade genuína, será que aquela foto seria um flagra ou apenas sorriram como reflexo ao ver uma câmera? Eu adorava fotos antigas, elas me faziam refletir, mas aquela em especial me fazia refletir e ter ciúmes. Minha alma atrevida palpitou:
- Ele era muito jovem, você deveria ser criança nessa época, não seja boba!(Meu marido e eu temos cerca de 15 anos de diferença).
Mostrei a língua como resposta e resolvi ser boba assim mesmo, então me emburrei.
Mas o que fazer diante daquela situação? Dar chiliques não nada, todo mundo tem um passado, e a máquina do tempo capturou uma cena do passado do amor da minha vida... e com outra mulher. Apesar do meu orgulho ferido, aquele papel manchado, me deu a chance de conhecer um pouco da história de alguém que eu amava, assim como há algum tempo atrás a máquina do tempo do meu celular registrou um recorte de minhá história com outra pessoa e talvez daqui a alguns anos, uma moça que hoje ainda é criança irá remexer os arquivos do meu ex e verá aquele recorte de tempo. Talvez ela também fique enciumado, e sua alma atrevida lhe dirá:
- Não ligue, é apenas um recorte do tempo!
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Primeiros Contos
Short StoryHá muito tempo li um livro chamado A bolsa amarela, e tinha uma menina chamada Raquel que dizia que suas vontades engordavam, principalmente a de escrever, logo me identifiquei com ela, porém somente agora resolvi deixar minha vontade de escrever fl...