Cap. 1: Os primeiros passos de um assassino

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Há nove anos atrás...

Era quase final de 2002, dia 18 de novembro, época em que muitas pessoas estavam se preparando para as festividades do final do ano. Planejando viagens. Organizando a reunião com parentes que moravam longe.

Todavia tais coisas eram irrelevantes para alguns, principalmente para os estudantes. A preocupação destes era quase que exclusivamente voltada para a aprovação escolar. 

Tal sentimento predominava fortemente nos alunos da Escola Estadual Lírio Amarelo, já que essa não era uma escola qualquer, mas sim uma das prestigiada situada na cidade de Garoma. Para estudar no referido local era feito todo final de ano uma prova que apenas os alunos que obtivessem 90% de acertos podiam entrar. Além disso, deveriam estar até no máximo 300º lugar na classificação total, pois somente essa quantidade era aceita a cada ano.

Era bastante comum que os colegiais daquela escola ganhassem prêmios e reconhecimento por conquistas através dos meios de comunicação. Os alunos dali eram considerados inteligentes e esforçados, traziam uma boa reputação à escola.

Todavia aquela intacta imagem seria estraçalhada por aquele fato tão espantoso.

18 de novembro de 2022.

Era mais um dia normal. Uma manhã invernosa. As nuvens cobriam o céu, tornando-o acinzentado, com um aspecto chuvoso. Podia se percebe o processo de gutação nas plantas no jardim daquela escola.

O silêncio tomava conta daquele local. Motivo: Período das provas finais. 

Todos estavam focados em dar o seu melhor, já que muitos sairiam dali diretamente para a vida de universitário.

Apenas ouvia-se o barulho do canto dos pássaros, do folhear dos livros e cadernos, bem como da escrita.

Eram exatamente às 9h30min, o jardineiro da escola foi regar as flores. Para chegar até o jardim, ele tinha que passar por um pátio o qual era constantemente usado pelos alunos para estudar.

No pátio havia cadeiras e mesas bem como algumas árvores ao lado. Ele possuía uma cobertura em policarbonato que protegia quem estava lá dos raios solares e da chuva. Era um lugar perfeito para quem queria se reunir com seus colegas. 

Naquele dia em específico, o jardineiro em seu caminho se deparou com cinco alunos que estavam no referido pátio. Eles estavam estudando para a prova de Língua Portuguesa. O jardineiro podia ouvir quando um dos jovens falou:

—Vamos revisar agora a parte da derivação linguística. Esse tópico com certeza vai cair. A professora passou vários exercícios abordando esse conteúdo. E também...

O jardineiro não conseguiu escuta o restante da conversa pois já estava um pouco distante daqueles estudantes.

Cerca de sete minutos depois chegou até o jardim.

O jardim encontrava-se em um lugar um pouco remoto dos prédios da escola. Tinha uma distância de cerca de 100 metros. Precisamente estava na outra entrada pouco utilizada. 

Começou então o seu trabalho. Agachou-se e ligou o irrigador. Em seguida, levantou-se e numa tentativa de verificar se as flores ao redor estavam recebendo água, primeiramente, olhou para sua direita, e logo virou-se para sua esquerda presenciando uma cena horrenda.

Testemunhou a cena que roubaria vários noites de sono tranquilo. A cena que se fixaria em sua mente pelo resto de sua vida. Roubando-lhe a paz. Roubando-lhe, quase por completo, a sobra fé na humanidade que tinha.

O corpo caído no chão de uma jovem de mais ou menos 15 a 17 anos. Havia uma grande quantidade de sangue em sua barriga indicando que naquela região houvera inúmeras perfurações feita com um objeto pontiagudo cortante. O seu braço direito estava sobre seu peito e o outro largado com a mão aberta.

A mão esquerda da vítima estava segurando uma flor de tom acarminado.

Tratava-se de uma rosa vermelha. Sua tonalidade confundia-se com rubro do sangue daquela garota.

O jardineiro sabia que tratava-se de uma das alunas, já que ela estava vestindo o uniforme da escola.

Embora, no primeiro momento aquele velho homem objetivava socorrer de alguma forma a menina, logo percebeu que não poderia fazer nada. Bastava olhar fundo em seus olhos para notar que a vida não habitava mais naquele corpo.

Imediatamente o jardineiro saiu daquele local correndo e gritou por ajuda. 

—POR FAVOR, POR FAVOR ALGUÉM! POR FAVOR, ALGUÉM AJUDA!

O tempo que normalmente gastava do jardim até os prédios escolares reduziu-se praticamente pela metade. Apavorado, correu até aqueles cinco jovens estudantes e contou-lhes o que havia presenciado.

Diante de tais informações, dois deles correram até a sala da diretora e disseram-lhe tudo que tinham escutado, assim, instantaneamente, ela deslocou-se até local com aqueles alunos. 

Naquela hora, o alvoroço já havia tomado conta da escola, mais e mais pessoas foram até o jardim e todos ficaram apavorados após testemunharem a cena em sua frente. 

Logo uma voz trêmula feminina em meio a multidão apareceu e falou:

—É a... é a Ianca, nossa .... é e a Ianca — sua voz fina falhava em meio as suas lágrimas que escorriam abundantemente. 

A jovem menina que a identificou era Lara Garvim a melhor amiga de Ianca. 

Ianca Berlome era uma jovem de 16 anos. Era considerada uma aluna média. Vivia somente com sua mãe Andreia Berlome e sua irmã mais nova de 11 anos. Trabalhava meio período em uma vendinha na esquina de sua casa para ajudar sua mãe com as despesas da casa. No dia anterior aquele em que seu corpo foi encontrado no canteiro de rosas, havia pego uma folga do seu trabalho. Ela havia aproveitado tal dia livre para ir para a biblioteca da sua escola estudar, pois sabia que com suas notas atuais seria impossível ganhar uma bolsa em uma faculdade. As horas passaram e o anoitecer chegou sem Ianca perceber. Por volta das 21h45min mandou mensagem para sua mãe avisando que iria dormir na casa de sua amiga Lara que morava perto da escola. 

Lara não sabia que sua amiga ia dormir em sua casa, pois Ianca tinha decidido isso em cima da hora. Era comum Ianca fazer isso, então sua mãe não se preocupou em ligar para Lara para confirmar que sua filha havia chegado.

Mal sabia Andreia que se arrependeria profundamente pelo resto de sua vida por não ter feito aquela ligação para Lara, mal sabia que aquela seria a última vez se comunicando com sua filha mais velha.

Cerca de quinze minutos após seu corpo ser encontrado no referido canteiro, os policiais chegaram ao local, imediatamente afastaram os curiosos e isolaram o local com intuito de preservar as provas.

Por óbvio tal ato era em vão, a quantidade de pessoas que estavam perto do corpo já comprometera todas as mínimas evidências que proporcionariam a identificação do autor daquele delito.

A imprensa também marcou presença. Como abutres queriam divulgar todos os detalhes daquela ocorrência, sem nenhuma consideração pela família da vítima. 

Choro de desespero e gritos iniciaram-se de uma canto da multidão, era Andreia Berlome, mãe de Ianca. Saiu rapidamente de seu trabalho e foi em direção a escola de sua filha após tomar conhecimento do fato. 

A diretora tentou dar apoio emocional a Andreia, mas não adiantou nada, logo que viu o cadáver de sua filha desmaiou.

Lucy Berlome, irmã mais nova de Ianca, estava em casa e ainda não tinha tomado conhecimento do que havia ocorrido.

Naquela escola propagou-se um cenário de terror e suspeitas. "Quem fizera algo tão horripilante com aquela inocente garota?" Era o que a maioria se perguntava.

E de uma distância segura do local do crime, mas perto o suficiente para apreciar sua façanha, lá estava ela. Isso mesmo, a pessoa responsável por toda aquela situação. Lá estava ela, deliciando-se com um sorriso no canto do rosto os resultados de suas ações. Divertindo-se as custas do sofrimento da família e amigos de Ianca e do desespero dos demais. Lá estava ela, saboreando a consumação de seus primeiros passos como um assassino.

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