Capítulo 3

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Reino de Caelinor — 1628

A lua estava baixa, lançando um brilho prateado sobre o armazém decrépito onde as sombras pareciam ter se refugiado. Lá dentro, bem no meio de toda aquela bagunça de caixotes velhos e quebrados; três companheiros improváveis, amarrados e capturados por um bando de ladrões astutos, trocavam olhares que transmitiam mais do que palavras jamais poderiam. A expressão severa de Draven, a sobrancelha erguida de Gawain e o sorriso travesso de Roland:

— Gawain, lembre-me de novo por que sempre nos encontramos nas mais encantadoras das enrascadas?

— Porque, meu caro amigo, a vida seria terrivelmente monótona sem um pouco de caos para nos manter alerta!

Seus captores, um bando heterogêneo com intenções duvidosas, os circulavam como abutres se aproximando de suas presas. A risada dos ladrões era grosseira e carregada de arrogância enquanto eles provocavam o trio com ameaças e zombarias, sem saber que estavam na presença dos mais formidáveis ​​defensores do reino.

— Parece que nos deparamos com um trio de desajustados, rapazes! — zombou um ladrão, seu sorriso gorduroso revelando uma fileira de dentes manchados.

Os olhos de Draven brilhavam com uma resolução inflexível, sua voz carregava um toque de diversão irônica:

— Desajustados, você diz? Talvez você tenha nos confundido com a orquestra da taverna local.

A gargalhada estrondosa de Gawain ecoou pelo armazém, seus braços lutando contra as amarras.

— Ah, mas Draven, eu sempre sonhei em entrar para a quadrilha dos ladrões! Parece ser muito divertido.

Roland, com os pulsos trabalhando sutilmente nas amarras, piscou para os ladrões.

— Na verdade, o que são algumas correntes em comparação com o fascínio da vida do lado errado da lei?

As risadas dos ladrões vacilaram enquanto eles trocavam olhares perplexos. As brincadeiras dos homens tinham uma maneira estranha de perturbar até o mais confiante dos adversários.

Com uma rapidez que pegou os ladrões desprevenidos, Draven avançou, com as mãos amarradas, desferindo um golpe que fez um deles cair no chão. Gawain flexionou seus músculos, suas amarras estalando como galhos, e partiu para a briga com uma gargalhada.

— Parece que a orquestra está se preparando para uma apresentação!

A sutileza e agilidade de Roland entraram em jogo quando ele usou suas mãos amarradas para desarmar outro ladrão com notável precisão.

— E eu sempre tive uma queda por saídas dramáticas!

O armazém explodiu em caos, a arrogância dos ladrões evaporou-se diante da determinação e habilidade daqueles rapazes. O aço se chocou, o riso ecoou e a dança do combate se desenrolou agora em meio às sombras iluminadas pela lua.

Em meio à confusão, a voz de Draven cortou o barulho das espadas, seu sarcasmo inflexível:

— Senhores, temo que nossos estimados captores não apreciem a elegância de nossa dança.

A gargalhada barulhenta de Gawain explodiu enquanto ele desviava os golpes com facilidade.

— Talvez eles precisem de algumas aulas de dança!

A piada de Roland foi tão rápida quanto sua lâmina, seu sorriso inegavelmente contagiante.

— Ah, mas nossa agenda está bem apertada. Que tal na semana que vem?

À medida que os adversários caíam um a um, as brincadeiras daqueles três se entrelaçavam perfeitamente durante o combate, uma prova de sua camaradagem inquebrável e do vínculo que os carregou por inúmeras provações.

No final, os ladrões foram derrotados e o armazém caiu em silêncio. Draven, Gawain e Roland trocaram sorrisos triunfantes, suas risadas compartilhadas eram uma prova do espírito inquebrantável que alimentava sua coragem e suas aventuras. Um Espírito que lhes dava força, resistência e paz, um Espírito que os tornaram os melhores mosqueteiros de todo o reino de Caelinor.

Erguendo sua espada que refletia a luz da lua, Draven pronunciou em alta voz:

— Ligados pela fé, unidos em valor!

Gawain e Roland ergueram as deles até as pontas tocarem a de Draven.

— Espadas levantadas para o Senhor!
⭐⭐⭐ ⭐⭐⭐

Naquela manhã, depois de Draven ter feito suas orações agradecendo a Deus por ter acordado para mais um dia e por tudo que Ele havia lhe proporcionado todos aqueles anos, escorou-se em uma pilastra de madeira com uma caneca de café fumegante na mão e enquanto olhava para o céu com sua expressão serena, murmurava uma silenciosa prece:

— Senhor, guia nossos passos neste dia...

— Ah, o solene Draven, imerso em seus pensamentos ou apenas tentando se lembrar onde deixou o cavalo? — Roland pronunciou se aproximando de Draven com um sorriso espertalhão.

— Ou talvez orando para que o café da manhã chegue antes da próxima batalha! — continuou Gawain que seguia de perto Roland.

Draven levantou uma sobrancelha e tomando outro gole de seu café pronunciou com um meio sorriso:

— Ao contrário de alguns, encontro consolo na tranquilidade da manhã.

Encostando-se em uma parede próxima, Roland gracejou:

— Essa tranquilidade seria melhor se viesse acompanhada com um pedaço de bacon.

— Ou um presunto inteiro, meu amigo! — Gawain sorria amplamente com a ideia

Enquanto ambos discutiam sobre as variadas combinações possíveis e deliciosas para um café da manhã reforçado, os olhos de Draven se fixaram em um casal que passava não muito longe dali, a mulher de braços dados com seu marido sorria amplamente de algo que ele havia lhe dito, logo atrás um menininho corria até eles mostrando uma pedra que havia encontrado.

O pai o pegará no colo e a mãe lhe depositara um beijo na bochecha, ambos seguiram andando especulando a criança sobre sua descoberta maravilhosa até desaparecerem do campo de visão de Draven. Momentos como aquele fazia algo dentro dele se inquietar, uma súbita vontade de ter alguém para voltar ao final do dia de trabalho; alguém que o amasse, o auxiliasse e compartilhasse com ele sua fé. Momentos como aquele, faziam com que Draven se sentisse incompleto, quando seria o dia em que encontraria a escolhida de Deus para ele? Quando ele teria a oportunidade de desfrutar da união estabelecida pelo Senhor aos homens?

Gawain dizia que Draven era muito exigente e a verdade, é que não faltavam donzelas que se acotovelavam nas janelas para vê-lo passar, mas nenhuma delas era aquela que seria sua futura esposa. Como ele sabia? Ele simplesmente sabia! Deus lhe daria a confirmação, algo que lhe desse certeza de que aquela era a escolhida. Tudo o que lhe restava era esperar, coisa que ele não se importava, ser paciente era uma de suas virtudes, um dos frutos do Espírito que mais lhe era requisitado em situações como essas, quando as dúvidas surgiam.

O soldado foi tirado de seus devaneios no momento em que um dos mensageiros do rei se apresentou e lhe entregou a mensagem do dia. Na carta dizia que o soberano precisava tratar de um assunto urgente e que demandava de homens de confiança. Terminado de ler, tomou o último gole de seu café e colocou a caneca de lado:

— Chega de brincadeiras, cavalheiros. O dever chama.

Dever, de fato, mas um croissant adoçaria meu dia de trabalho. — pronunciou Gawain enquanto colocava a espada na cintura.

Roland riu alto.

— Da próxima vez, Gawain, levante-se com os galos. O café da manhã pode pegá-lo antes do rei.

— É provável que no dia em que nosso amigo acordar cedo seja o dia em que o mundo pare. — pronunciou Draven ajustando o chapéu com um meio sorriso.

— Mas o mundo continua girando, Draven. Gawain só acrescenta algumas voltas extras.

— E se eu ganhasse uma moeda para cada uma delas, eu seria um homem rico. — finalizou Gaw rindo enquanto colocava o braço por cima dos ombros de Roland e seguiam para o palácio.

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