More Than Love #03

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17 de fevereiro de 2006 (Uthai Thani Hospital)

A parede branca parecia muito interessante naquele momento, Freen conseguia visualizar diversos desenhos que poderiam ser feitos nela, sua vontade era de pegar um lápis de cor em seu estojo cor de rosa e fazer sua arte naquela grande tela branca, mas sabia que sua mãe iria brigar se fizesse isso, assim como brigava quando a menor desenhava nas paredes da casa. Até que seu olhar desviou da parede para o gesso que envolvia a perna de sua irmã e uma luz se acendeu em sua mente. Ali estava o quadro perfeito.

Engfa estava quieta desde o momento que tinha recebido alta, há algumas horas atrás. Seus olhos expressavam uma mistura de cansaço e preocupação, e ela evitava falar sobre o acidente. Ainda estavam no hospital público de Uthai Thani, e agora aguardavam na sala de espera da ala da Unidade de Terapia Intensiva, pois sua mãe e sua tia estavam visitando Noey, enquanto ela e sua irmã ficaram na área de espera.

A atmosfera era sufocante, carregada com a angústia de todas as famílias ali presentes. A cada vez que a porta da UTI se abria para a saída de um médico, um turbilhão de emoções tomava conta de todos. Tristeza, dor, alívio. Engfa podia sentir o peso no ar, a agonia de quem esperava por notícias de seus entes queridos. E ela tinha medo de qual notícia iria receber quando sua mãe e sua tia aparecessem.

Engfa sentia um peso de culpa em seu coração. Na sua cabeça, se Noey não tivesse ido buscá-la, o acidente não teria acontecido, certo? Mas seu tio sempre ia buscá-la.... Ainda assim, ela se sentia culpada, mesmo sabendo que não era sua culpa. Noey não gostaria de vê-la assim.

Esses pensamentos a fizeram abraçar com força o coelho de pelúcia, que não tinha largado desde o momento que sua irmã tinha lhe dado. Porém, seus pensamentos foram interrompidos com o pequeno susto que levou ao ter sua irmã invadindo seu campo de visão.

— O que foi, garotinha?

Freen não respondeu, somente se abaixou enquanto tirava a tampa de uma canetinha vermelha, a mais velha logo notou as intenções da caçula e se permitiu dar um sorriso genuíno, enquanto Freen começava a fazer os traços no gesso branco, ela tinha a mania de colocar a ponta da língua para fora quando estava concentrada em algo, era fofo. Os rabiscos começaram a tomar uma forma, uma grande flor com um rosto sorridente no meio e vários corações em volta.

—...o papai me disse que quando fazemos desenhos nos curativos, os dodóis saram mais rápido. — A garotinha diz enquanto pintava as pétalas da flor, sempre tomando cuidado com os ferros expostos, Engfa já tinha batido a perna durante o caminho, aquela gaiola ia ser seu castigo.— Eu não quero te ver machucada.

— O papai está certo, estou me sentindo melhor.— Engfa se curva para frente para tocar os braços da irmã, na intenção de fazê-la se levantar. A caçula estava acostumada a tirar um cochilo durante a tarde, seus olhos pareciam cansados, Engfa conseguiu fazer com que a irmã sentasse em seu colo e, mesmo com um pouco de dificuldade, e fez a caçula segurar o coelho para assim, poder abraçar o pequeno corpo. — Obrigada, garotinha, mas pode descansar...eu sei que você está com sono. O coelhinho vai cuidar de mim enquanto você dorme.

(...)

Tiveram que sair da UTI quando o horário de visitas acabou. Tori estava cuidando das meninas na sala de espera, pois quando saíram, deram de cara com Engfa dormindo abraçada com Freen, sabia que a mais nova devia estar com bastante sono, mas Engfa devia ter dormido por conta dos medicamentos para dor que estava tomando. Choo analisa com cuidado os papéis em suas mãos, a assinatura de Tori já estava ali, tinham decidido pedir a transferência de Noey para o hospital particular onde Choo tinha um convênio, a mulher sabia que ia precisar sacrificar algumas coisas para conseguir pagar as contas, mas ele fazia parte de sua família e sempre tinha lhe ajudado quando precisava, faria de tudo para mantê-lo bem.

E foi pensando nisso que assinou os papéis...

26 de maio de 2006 (Província de Uthai Thani, Tailândia)

Os dias se passaram, Noey tinha feito a cirurgia no mesmo dia que foi transferido de hospital , porém continuava em coma e a situação ainda era delicada.

Choo e Tori estavam se esforçando para arcar com os custos do hospital, apesar das dificuldades. Elas não queriam preocupar ninguém e tentavam manter uma fachada de que estava tudo sob controle. Choo estava fazendo horas extras no trabalho, e Tori estava fazendo bicos em uma feira de artesanato e como auxiliar de limpeza na empresa onde Noey era funcionário, a mulher agradecia pelo patrão que seu marido tinha, pois o homem manteve a vaga de Noey e ainda lhe ofereceu um emprego provisório, não chegava a ganhar um salário mínimo, mas era um valor que ajudava imensamente.

Engfa finalmente tinha tirado o fixador e o gesso da perna,mas as cicatrizes emocionais ainda estavam presentes, ela tinha dificuldade em retomar sua rotina e voltar para a escola. A garota demorou duas semanas para retornar à escola após o acidente, mas no primeiro dia teve uma crise de choro dentro da sala de aula e teve que ir embora, pois não conseguia se acalmar.

Ficava trancada em seu quarto a maior parte do tempo, e na outra parte ajudava nos afazeres domésticos e a irmã com os deveres escolares. Não conseguia sair de casa porque estava com medo dos barulhos de carros e motos. O diretor da escola percebeu a situação delicada de Engfa e sugeriu que a família buscasse auxílio psicológico. No entanto, mal conseguiam pagar as contas básicas, um tratamento psicológico era um luxo que não podiam bancar. Choo tentava disfarçar a situação, mas Engfa escutava o choro angustiado da mãe durante a madrugada, quando a mulher sentava na mesa de jantar com todas as contas em sua volta.

— P'Fa!

— Hm? Freen? — Engfa estava varrendo a entrada da casa quando escutou a irmã te chamando, deixou a vassoura apoiada na parede e se abaixou para abraçar a irmã que tinha acabado de chegar, ainda faltava uma hora para dar o horário da saída da menina, então estava estranhando o horário, e também o fato de ela estar com cansada e suando.— O que está fazendo aqui? O que houve?

— A professora faltou, ai a titia Tori foi me buscar, mas não podia me trazer até aqui porque não podia deixar a barraca na feira sem ninguém, aí eu vim sozinha...— Deu uma pausa para respirar fundo. — Mas tinha uns homens estranhos me seguindo e eu corri.

— Homens estranhos? — Engfa arregalou os olhos, preocupada.

Antes que a mais nova pudesse responder, cinco homens entraram no quintal. Freen havia deixado o portão aberto na pressa, facilitando a entrada deles. Os homens usavam roupas sociais, correntes de ouro e ostentavam anéis com joias enormes nos dedos. Engfa lembrava das palavras de seu tio, alertando para tomar cuidado com esse tipo de homem em algumas esquinas. Ela agora se perguntava por qual motivo eles estavam ali.

— Ora, ora, não somos estranhos, mocinha — disse um dos homens com um sorriso malicioso. — Só queremos saber onde está a mãe de vocês. Ela está nos devendo uma... conversa.

A tensão no ar era palpável, e Engfa sentiu seu coração acelerar, olhou para Freen, que parecia assustada. E de uma coisa tinha certeza, iria proteger a mais nova.


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Já começo pedindo perdão pela demora, foram dois meses longe de vocês, não sei como consegui, vou lutar para melhorar esse intervalo. E desculpe se tiver algum erro no capitulo, não foi revisado :')

SABM (Serviço de Atendimento ao Boiola por Mulher): esse espaço é reservado para sugestões, críticas e ameaças (choro é livre).

Até a próxima.❤

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⏰ Última atualização: Aug 06, 2023 ⏰

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