cê me deixava triste em casa

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Depois daquele dia, nunca mais apareci por lá, ele também não veio atrás, não mandou mensagem. Se está mesmo ou não com alguém eu não faço a menor ideia, e se não tivesse, teria vindo falar comigo.

Foram exatamente dois anos e sete meses que ficamos juntos, mas sabe, todo dia era um sonho que não parecia ser real, mas eu torcia pra ser.

Como será que está a vida dele? Uma rotina não tanto monótona talvez, querendo ou não conhecer alguém diferente faz o dia da gente mudar de cor, parece renascer um novo sol, uma nova lua, uma nova cor de azul do céu e até às nuvens parecem criar forma, já o meu mundo virou cinzas após aquele dia, começou a fazer um frio dentro de mim e ao mesmo tempo ardia de tanto que doía.

Sabe quando tudo fazia sentido e de repente, puf! Foi assim pra mim.

Essa caipirinha tá me deixando bêbada! Pensei, enquanto olhava para um lugar distante em direção ao barman.

Ele por acaso percebeu meu distanciamento daquele momento e veio em minha direção, com sua rapidez nos movimentos, logo percebi minha falta de noção ao encará-lo sem querer. Nossa! Que vergonha. Soltei o copo no balcão levando as mãos à testa e baixando a cabeça.

— Tudo bem, moça? — perguntou gentilmente, colocou uma flanela branca que estava em sua mão no ombro direito e descansou as mãos no balcão.

— Meu namorado, quero dizer, ex namorado agora né, hum, me pediu um tempo e quando fui vê-lo após esse tempo, não quis me atender e a mãe dele veio e disse que ele não queria mais continuar comigo.

Ha ha ha ha ha

Ele riu sem o mínimo de descrição, me deixando constrangida e com raiva. Cruzei os braços pra me segurar antes que eu perdesse o controle, o encarando.

— Do que está rindo? Acha isso engraçado?

— E você acha que um cara que pede pra mãe avisar do término não é capaz de mentir? Então parabéns, você acreditou facinho.

Ele saiu dando risada e foi atender ao cliente que o chamara. O lugar era calmo, numa música suave enquanto lá fora o mundo caía na escuridão e uma chuva que me permitia ficar ali até que ela passe. Poucos ali pareciam preocupados com sua vida lá fora. Até que ele podia ter razão. Mas qual o propósito disso? A verdade é que nossa relação foi conturbada demais, vez ou outra brigávamos por nada, ele com seus princípios, conceitos e objetivos e eu querendo correr contra o tempo. Na pressa acabei atropelando todos os meus ideais. Tudo o que eu acreditava passara pela minha vida num piscar de olhos e meus pensamentos incoerentes me deixaram completamente perdida.

Ai eu estou ficando louca!

Comecei a chorar, não é possível que eu bebi tanto ao ponto de chorar em público, parece que meus olhos possuem vontade própria pra onde se deve olhar ou até quando chorar, eles ardiam e eu juro que meu maior desejo naquele momento era fechá-los e não me lembrar dos últimos anos da minha vida. O rapaz viu minha situação e veio até mim.

Não sei da onde juntei coragem e principalmente firmeza pra dominar a situação. Apontei o dedo na cara dele e disse: — Olha se veio mais uma vez aqui rir da minha cara, sinto informar mas não tô aqui de palhaça. – Fui direta e logo me levantei pra sair dali, deixando ele sem chance de me dizer nada. Escutei ele me chamar mas ignorei.

Saí dali debaixo da chuva mesmo, mas logo ao lado tinha uma lanchonete cor amarela pastel bem organizada pelo visto, dizia aberto então entrei. Não tinha muita gente, cumprimentei a atendente e avisei que ia ao banheiro.

Esse é um dos banheiros mais bonitos que já entrei, aroma de ervas e camomila, cada espelho com uma frase motivadora para auto estima feminina, setembro amarelo passou com força por aqui. Com certeza muitas mulheres são salvas por esses bilhetinhos, será que eu seria uma delas?

Tomei coragem e liguei para o Léo. Eu precisava saber, aquele cara me deixou em dúvida e eu sentia que alguma coisa estava realmente errada, talvez o meu subconsciente tentou me avisar e eu ignorei.

Chamada não atendida.

Mais uma vez... Depois de alguns segundos...

Chamada não atendida.

Uma última vez, se não atender eu desisto.

— Oi, quem fala? – perguntou uma voz feminina que eu nunca havia escutado.

É, deve ser ela. Me enganei. Desliguei.
Se ela não sabe quem é, provavelmente ele apagou meu contato. Como sou idiota!

Zzz... Zzz...

Meu celular vibrou, mas desliguei. Não quero causar problema. Já entendi.

Zzz... Zzz... Zzz...

— Cara que saco! – exclamei. Uma moça que entrava no banheiro me olhou na hora e desviou o olhar. Suspirei de raiva.

Zzz... Zzz... Zzz...

— Oi, é você? – Dessa vez era o Léo. Meu coração acelerou, tremi.

— Ôh Léo desliga essa coisa cara, sai dessa! – gritou a garota no fundo. Revirei os olhos. Argh!

Antes de responder alguma coisa, preciso respirar fundo.

— Vi? Violeta?

— Oi... – respondi, tentando não deixar com que ele percebesse a minha voz trêmula.

—  Você sumiu, demorou muito pra me ligar. Pensei que estaria aqui de novo no meu portão.

— Lógico que sumi. Depois do que você fez pedindo a sua mãe pra falar comigo achei que era um cheque-mate. Além do mais, se você tá com alguém e tá feliz então tá ótimo pra mim! - falei, brava, e isso não deu pra esconder.

— Eu não estou com ninguém Violeta e quer saber, você acreditou fácil demais pra alguém que dizia me amar, por isso não corri atrás, se me amasse não teria acreditado e se tivesse insistido em me ver eu poderia, agora neste exato momento, estar contigo.

Eu sempre amei escutar a voz dele dizendo 'contigo'. Me derretia toda vez.

— Sinto muito, mas ainda assim não vou acreditar. Quem foi que atendeu seu celular agora? E aquele dia eu ainda te amava, e quem ama também precisa deixar partir. E foi o que eu fiz, te deixei ir e eu não me arrependo. Foi a melhor escolha que eu poderia ter feito. Ah e aliás eu estava tão no efeito dos meus remédios que eu nem quis insistir, você sempre foi duro comigo, vivia terminando por motivos aleatórios e eu tava cansada disso. Então se estiver com essa garota aí que fique com ela.

— Você, como sempre muito ciumenta, ela é a minha amiga, namorada do meu amigo. Eles estão aqui e vamos pedir uma pizza, vieram aqui pra me animar. E aí você me liga dessa forma ainda.

— De que forma? – perguntei.

Ele está me vendo ou coisa assim?

— Você acha que não te conheço. Numa sexta-feira à noite, chovendo e você tá bêbada. Eu não sou nenhum trouxa.

Aiai, mais essa. Onde tô com a cabeça?

— Olha Léo, tá bom. Eu vou desligar porque não liguei pra gente brigar. Com o tempo as coisas se resolvem e sabe, eu tô cansada. Se um dia quiser me ver eu tô aqui. Tchau.

— Violeta, por favor...

— Ai fala...

— Onde você está?

— Ué, se você mesmo diz saber que eu bebi, então sabe onde me achar.

Desliguei.

Saí do banheiro e me sentei numa mesa encostada na janela perto da entrada da lanchonete, o bar ficava aqui do lado. Mais uma hora se passou, a chuva não para e não sei como voltar pra casa. A lanchonete já ia fechar, o bar estava mais vazio, vi mais pessoas saírem do que entrar.

— Oi moça, desculpe, mas já iremos fechar. – A moça sorriu.

— Ah, tudo bem. Muito obrigada por ter me deixado ficar. – Agradeci e me levantei.

— De nada.

Segui novamente para o bar. E não tinha mesmo muita gente. Sentei no mesmo banquinho e juro que se essa chuva não parasse eu faria o que fosse pra dormir ali.

CONTIGO - A. VIVIOnde histórias criam vida. Descubra agora