PRÓLOGO - YESENIA

210 15 7
                                    

Era uma manhã 'agradável' como qualquer outra em Vangelis. Os pássaros voavam em direção ao norte, onde todos dizem ser a terra dos contos de fadas, mas o homem que me prendeu nessa torre fria e alta, afirma que Airella é um lugar onde apenas existem seres cruéis e matança.

Certamente eu penso o contrário, já que posso ver claramente dessa belíssima torre quase todo o continente, ou pelo menos até onde meus olhos prateados conseguem enxergar sem a ajuda de uma luneta. Airella é a terra dos elfos, e os elfos, são seres cheios de magia, coisa que os humanos apenas possuem graça a misericórdia de uma Deusa muito antiga. Em Vangelis (Reino dos homens), essa deusa possui um nome diferente do como ela é conhecida em Airella, e é por isso que Calen, o homem que me aprisionou nesse lugar, odeia os elfos. Ele crê fortemente que a Deusa abençoou os humanos com uma regeneração imensurável e poderes, justamente porque ela tinha abandonado suas criações, ou seja: Os feéricos.

Mas, eu sabia que aquilo tudo era baboseira, já que tive o privilégio de passar o meu tempo com diversos livros antigos naquela torre, que um dia já foi de algum arqui-mago da realeza de Vangelis. Os livros se tornaram meus amigos, e eu, amiga deles. Porém, o rei daquela terra, também me deixou ter um amigo, ou poderia até afirmar que ele é um amante.

Seu nome era Declan. Conheci esse homem quando tinha apenas 15 anos, em um dia chuvoso da primavera, onde o rei Calen subitamente resolveu ser caridoso e contratar alguém para me ensinar etiquetas, a ler e escrever. Eu claramente aprendi aquilo tudo facilmente e em alguns meses já sabia escrever tudo e ler tudo o que quisesse. E foram meses realmente fantásticos para alguém que no máximo falava com ratos ou pássaros.

Declan era gentil, ele sempre trazia doces e presentes escondido do rei quando vinha dar suas aulas, e talvez tenha sido isso que me fez começar a pensar que era bem provável uma garota de 15 anos, que era considerada uma aberração por ter uma aparência diferente, que tinha acabado de aprender a ler e escrever, tinha se apaixonado por um rapaz de 17 anos. No entanto, lembro-me claramente do dia em que fiz 18 anos, e Declan trouxe uma caixa cheia de chocolates, beijou minha testa e me disse que estava linda. Acho que realmente tinha exagerado no figurino aquele dia, mas eu estava decidida a não negar mais meus sentimentos, já que ficaria trancada naquele lugar para sempre. Então, como se não fosse nada disse para ele que sua pele era como o chocolate, brilhante e provavelmente muito saborosa também, e que seus olhos cor de mel realçavam perfeitamente com seu tom de pele e seus cabelos preto encaracolado.

Ele não era bobo, e eu também não. Embora eu soubesse que ele não tinha amor por uma hecatis e sim, apenas uma obsessão por elas, eu me entreguei para ele naquela noite. Deixei que ele beijasse todo o meu corpo, que ele me tivesse por toda uma noite e me adorasse como se eu fosse uma verdadeira deusa para ele. E lhe adorei ainda mais, quando ele sussurrou em meus ouvidos que meus cabelos vermelhos como sangue o faziam me querer mais, ou quando dizia entre grunhidos que meus olhos o encantavam e ele tomava meus lábios com vigor. Entretanto, de nada aquilo importava, já que no dia seguinte, seus olhos que na outra noite brilhavam como faíscas acesas saindo de uma fogueira, eram frios e violentos. E seus lábios, que me beijavam com força, soltavam palavras firmes, dizendo que naquela manhã agradável, o rei Calen me faria finalmente ser um almoço para os licantropos.

E ele riu, enquanto me arrastava com todas as suas forças até a sala do trono de Yesenia. E eu? Nunca me senti tão traída quanto antes em minha vida.

O carvalho vermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora