Diário de Jane Smith

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Como vos prometera, a criatura vem ocasionando um caos considerável desde seu primeiro aparecimento. Relatos de desaparições e óbitos surgem, contudo, até este momento, o covil da monstruosidade permanece oculto. Espero ardentemente que eu possa desvelar sua morada e assim libertar esta cidade da ameaça. Ciente da árdua tarefa, entretanto, nutro fé nesta empreitada.

À medida que o vagão inicia seu movimento, uma das servidoras da ferrovia bate à porta de minha cabine, oferecendo alimento. Dado o meu apetite reduzido, recuso sua oferenda, recobrando meu foco nas notícias enviadas pelo cavalheiro de Hong Kong. Era de fato impressionante como uma única criatura suscitara tamanho tumulto. Segundo as informações, a agitação não era um episódio inaugural, registros de embates anteriores remontavam a eras pré-cristãs, uma realidade preocupante, de fato. A criatura é antiga e provavelmente será tarefa árdua encontrá-la e subjugar sua influência.

Algumas horas se escoaram e antes que percebesse, a noite envolvia o cenário. Guardei os pergaminhos, apoiando a cabeça no vidro da janela, de onde avistava um grande rio e árvores de estatura mediana. Seus folhames, graciosamente, cambiavam de cor, assinalando a transição do clima. Após alguns momentos de contemplação, fui envolta pelo sono. A placidez, porém, foi quebrada por gritos irrompendo da cabine adjacente. Considerando o potencial tumulto que minha investigação poderia suscitar, hesitei em intervir. A despeito deste conflito interno, senti-me compelida a tomar ação, levantando-me com comedimento e avançando em direção à referida cabine. Ao franquear a porta, deparou-se-me uma das cenas mais peculiares. As paredes exibiam marcas de arranhões e uma poltrona jazia destroçada. Porém, o mais intrigante residia na ausência de presença humana. Ao menos, assim pensava eu. Ao abaixar-me próximo a outra poltrona, vislumbrei um senhor em estado inconsciente. As feições pareciam revelar a idade de quatro ou cinco décadas. Ao tocar-lhe o ombro, o homem sobressaltou-se, proferindo palavras angustiantes: "Er ist immer noch hier, lass nicht zu, dass er mich findet", que numa tradução árdua significava: "Ele ainda está aqui, não permita que ele me encontre." Minhas habilidades no idioma alemão eram modestas, e a confusão do homem dificultava sua comunicação. Ainda assim, busquei obter mais informações, mas logo os funcionários da ferrovia compareceram, sendo recebidos pela visão inusitada. Após tentativas de acalmá-lo, o homem sucumbiu novamente ao torpor. Ergui-me, compartilhando o que havia descoberto e retornando à minha cabine, as palavras dele continuavam a ecoar em minha mente. A quem ele se referia? Será que essa pessoa ainda estava a bordo? Absorta por tais pensamentos, submergi no sono, apenas para ser despertada pela chegada à estação de Berlim. Partindo dali, uni-me a um grupo de viajantes rumo a Hong Kong, uma mistura de habitantes locais e turistas. A língua alemã dominava suas conversas tranquilas. Em breve, a carruagem se aproximou, e adentrando-a, sentei-me ao lado de uma jovem dama alemã, em rota para se reunir com seu esposo, estabelecido em Hong Kong há mais de três anos.

Terrores na Noite: Em Busca do Lobisomem de Hong KongOnde histórias criam vida. Descubra agora