⛵ 3 » Golpe

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A ansiedade para encontrar Dulce no salão de beleza me corrói

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A ansiedade para encontrar Dulce no salão de beleza me corrói. Minhas mãos grudadas em volta do volante do carro estão suando. Merda! Pareço um noivo esperando a noiva no altar. A última vez que me lembro de ter ficado tão nervoso assim foi quando subi no púlpito da universidade pra receber o meu diploma de Bacharelado em Educação Física.

Alexandra ― Sua tia Ava me ligou e avisou que Victor vai sair da prisão. {Minha tia é irmã da minha mãe e delegada em um distrito policial daqui de Miami}

Observo minha mãe apertar as próprias pernas, sentada no banco do carona ao meu lado. Claramente ela está nervosa e preocupada. Bem mais com a notícia do desgraçado do meu pai estar prestes a se livrar da cadeia, do que com o fato de que terá que cortar boa parte dos seus cabelos. Aliás, nem posso chamá-lo assim. O infeliz não passa de um mero progenitor. Aquele homem jamais foi um pai pra mim e muito menos um marido que prestasse.

Alexandra ― Liberdade condicional. {Complementa}

Ucker ― Quando ele vai sair? {Pergunto enquanto paro no sinal vermelho do semáforo}

A ― Neste fim de semana. {Sua voz é quase inaudível}

U ― Menos mal. Na liberdade condicional, se ele pisar um milímetro sequer fora da linha, vai voltar pro lugar de onde nunca deveria ter saído. Até mesmo se levar uma multa por excesso de velocidade.

A ― Espero que ele não venha atrás de nós. {Sussurra e eu seguro sua mão para acalmá-la}

U ― O meu punho já tá aqui de prontidão pra socar a cara do maldito. Mas ele não vai se atrever, mãe. Não vai querer arriscar perder a liberdade e passar outros quase vinte anos na cadeia.

Além de Victor ter sido condenado por violência doméstica contra mim e contra a minha mãe, também foi julgado por porte ilegal de arma de fogo e cumplicidade em contrabando de drogas. Victor trabalhava como caminhoneiro autônomo. Ele carregava qualquer tipo de carga e viajava bastante. Eu e minha mãe adorávamos quando ele passava dias e até semanas fora de casa, pois só tínhamos paz quando ele não estava presente. As agressões começaram quando eu tinha oito anos de idade. E perduraram até eu completar doze. Victor desenvolveu o vício em álcool e descontava o estresse do dia a dia nas brigas que tinha com a minha mãe.

Ela ameaçava deixá-lo, ele dizia que ia mudar, mas bastava um pequeno desentendimento para as agressões continuarem. Contudo, chegou o momento em que ela já não suportava mais. Minha mãe tomou coragem pra fugir. A única coisa de casa que ela levou consigo fui eu. Ficamos um tempo hospedados na casa da minha tia Ava em Jacksonville, que na época estava prestes a entrar pra polícia. Se não fosse por ela, o meu "pai" não teria ficado intimidado. Ele teria ido atrás de nós. Pouco tempo depois, Victor foi preso. O FBI estava investigando as frotas de caminhões de São Petersburgo e conseguiram pegá-lo em flagrante, ajudando na entrega de drogas aos traficantes.

Minha mãe e eu viemos morar com o meu avô August aqui em Miami. Foi com ele que aprendi a pescar, a gostar de barcos e apreciar o mar. Logo a minha tia Ava também saiu de Jacksonville e voltou para Miami, a cidade onde ela e minha mãe nasceram. Dona Alexandra se culpa até hoje por ter permitido por tanto tempo a violência pela qual passamos. Ela poderia ter procurado a minha tia antes, porém, ficou com vergonha. Na época as duas não se davam muito bem.

5 Dias a Bordo│VondyOnde histórias criam vida. Descubra agora