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Eu estava com 18 anos quando terminei o Ensino Médio e saí da casa dos meus pais levando apenas uma mochila rumo à França, a partir de um programa de intercâmbio o qual eu fui selecionado entre os recém-formandos do colégio. Dentre as várias opções, escolhi um que poderia me dar a chance de ingressar no mercado de trabalho no país. Com descendência francesa e alemã, ficaria mais fácil conseguir uma futura cidadania definitiva.

Nasci no Sul do Brasil. Minha mãe brasileira e filha de franceses conheceu o meu pai nascido na Alemanha que veio ao país, mais especificamente na minha cidade localizada na Serra Catarinense, a trabalho. Começaram a namorar e desde então ele não voltou mais para a sua terra natal.

A minha paixão pelos livros foi despertada ainda na infância. Minha mãe era funcionária da biblioteca na Universidade local e após a escola, em que estudávamos no turno da manhã, eu e meu irmão caçula ficávamos com ela na parte da tarde e os corredores dos livros se tornaram o meu quintal. Na adolescência e vivendo em cidade pequena, saíamos da escola e íamos para casa. Mas sempre no fim do dia e do expediente, eu ia buscar minha mãe e aproveitava para mergulhar nos livros do seu local de trabalho.

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Com a confirmação da minha viagem pela agência, fui informado de que eu iria trabalhar em Nice, no sul da França, em uma das várias cafeterias existentes na cidade. O que pra mim foi uma agradável coincidência pois era a cidade natal dos meus avós maternos. Não foi fácil me despedir da minha família. Deixar a minha cidade onde sempre vivi, rumo a um país estrangeiro com o pouco conhecimento do idioma local era algo audacioso e corajoso para um jovem da minha idade. Eu e o meu irmão, tínhamos uma boa noção de inglês e de alemão por influência do meu pai. Já o francês, sabíamos pouco e me vi forçado a aprender o básico na marra dias antes de viajar. Como minha mãe trabalhava o dia inteiro, ela não tinha tempo hábil para nos ensinar. Mesmo assim, comprei pequenos livros e manuais que ensinavam a língua.

A cidade onde eu iria trabalhar era conhecida por sua intensa atividade turística e badalada tanto de dia quanto de noite. Com isso, o meu conhecimento em inglês seria um bom suporte. O contrato de trabalho começaria em Janeiro e duraria até o fim do verão europeu. Seria uma boa experiência e voltaria para o Brasil com mais um idioma no currículo.

No entanto, eu não tinha planos para voltar. Meu sonho era ser aceito em uma Universidade na França para estudar Literatura Francesa e me tornar professor. O intercâmbio de trabalho era apenas uma ponte a qual eu precisava atravessar.

Meus primeiros dias foi de muito aprendizado, foco e dedicação. A cafeteria era bastante movimentada com um grande fluxo de clientes. Servia chocolates quentes, gelados, chás e cafés para todos os gostos. Era cansativo mas também gratificante.

Embora tivesse apenas 18 anos, eu já possuía uma maturidade não tão comum para os garotos da minha idade. O salário que eu ganhava, uma pequena parte eu guardava com a intenção de ter um apoio financeiro para ingressar na universidade. Evitava badalações. Era trabalhar, aprender francês e no fim do dia dormir no albergue em que fiquei instalado nos meses de trabalho. No dia seguinte, o mesmo rito.

No início de Junho, a movimentação se tornou uma loucura. Mesmo com experiência de meses, me assustei com o aumento de frequentadores. Em especial de mulheres. Eu tentei ignorar mas dia depois de admitido, volta e meia, eram sorrisinhos e outras insinuações pra mim.

Sim, eu sempre fui um homem bonito mas isso nunca me envaideceu. Ser alto, com porte atlético e o típico rosto de galã de cinema abre portas mas isso pra mim ficava em segundo plano. Tive apenas uma namorada na adolescência. Meu respeito pelas mulheres sempre fora imenso mas naquele momento da minha juventude eu tinha outras prioridades na minha vida.

Ma Petite Princesse - Especial Eric Schneider Onde histórias criam vida. Descubra agora