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Sempre fui um homem que mantinha o controle sobre tudo, em todas as situações. Planejava os meus passos e as coisas saíam exatamente do jeito que eu queria. Planejar, executar e concretizar. Desde que saí da casa dos meus pais, essa combinação se tornaram fundamentais na minha vida.
Infelizmente no que diz respeito aos próprios sentimentos, uma dessas palavras se torna ineficaz. Você não planeja a atração que sente por alguém.
Era o que estava acontecendo no exato momento em que beijei a Nívea no meu carro. Ela não reagiu enquanto eu lhe segurava pelo rosto depositando pequenos selinhos naquela boca doce e carnuda. Não havia um músculo do meu corpo que não estivesse latente. E o seu pequeno e delicioso corpo tremia por inteiro.
Me afastei dela e, mesmo com os nossos rostos ainda próximos um do outro, nossos olhares não se desgrudaram. Que lábios eram aqueles? Os mais deliciosos e macios que eu já havia beijado. Foram os minutos em que eu tive a sensação de que não havia mais nada ao nosso redor, que o mundo era apenas meu e dela.
No entanto, a realidade se fez presente e nos atingiu em cheio. De um modo que a fez ficar constrangida e ruborizada por todo o seu lindo rosto. Agarrou o seu material escolar e saiu do meu carro em uma velocidade impressionante sem nem olhar para trás. Eu poderia impedi-la de ir mas apenas a segui com os meus olhos vendo ela sair. Foi melhor assim. Ou não.
- Que merda que eu fiz! - disse a mim mesmo, batendo com as duas mãos no volante, agarrando com força e buscando o ar inspirando profundamente. Meu coração batia acelerado e tudo o que eu sentia era o aroma daquele doce perfume no carro. Inebriante e que eu queria continuar sentindo pra sempre.
Eu não podia mais carregar sozinho o que estava acontecendo. Peguei o meu celular que estava em um compartimento perto do freio de mão e liguei para a única pessoa a qual eu me sentia seguro em confessar o que eu havia feito.
- Alô!?!? - ela atendeu segundos depois da discagem. Sua voz estava ofegante e começou a falar sem parar - Oiii, meu amigo!!! Tive uma reunião chata pra cacete com a Reitoria e os coordenadores dos cursos de Humanas. Cheguei agora em casa.
- Ótimo. Preciso conversar sério com você - anunciei segurando o aparelho e com a outra mão massageava a testa, de olhos fechados, tentando relaxar.
- Ah é? Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu. Fiz merda.
- Opa... Calma aí... - ela desacelerou a fala e ficou muda, voltando a falar instantes depois - Não me diz nada. Onde você está, Schneider?
- Saí do colégio e estou dentro do carro. Mas não estou dirigindo, não se preocupe.
- Certo... Faz o seguinte: vem aqui pra casa e conversamos, pode ser?
- Eu peguei chuva, fiquei todo ensopado. Vou em casa primeiro e trocar minha roupa.
- Tá legal, eu vou tomar um banho e ajeitar umas coisas. Te espero pra daqui uma hora, ok?
- Ok.No momento em que eu coloquei o celular de volta onde estava, olhei para o chão do banco do carona e um guarda-chuva cor de rosa estava ali, ainda úmido pela chuva. ''Ela saiu tão depressa que o esqueceu'' pensei de imediato.
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O apartamento da Luciana era pequeno. Mas com um cômodo a mais que era o seu quarto e tipicamente montado para uma mulher divorciada. Bem aconchegante e acolhedor.
Estávamos nós dois sentados no sofá nos encarando. Eu com o meu braço apoiado no alto do encosto, usando uma blusa preta e calça jeans e ela na posição de borboleta, usando calça legging marrom e blusão branco com uma estampa enorme do filme Jurassic Park. Os seus cabelos loiros estavam úmidos recém saídos do banho. Ela me olhava sem acreditar no longo relato que eu havia feito desde o dia em que reparei na beleza da Nívea pela primeira vez até o beijo trocado com ela naquela tarde.
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Ma Petite Princesse - Especial Eric Schneider
RomanceUma intensa história de amor contada a partir do ponto de vista do Professor de Literatura Francesa.