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A uma semana atrás eu quase tive um encontro com a morte

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A uma semana atrás eu quase tive um encontro com a morte..
Foi um quase encontro maravilhoso, senti a morte me carregando em seus braços e sussurrando em meu ouvido me dizendo que daqui algumas horas estaria tudo bem e então eu acordei..na cama de um hospital com o meu pai do meu lado, ele reclamava e me xingava.
"Não consegue nem se matar""se quiser chamar atenção chame direito""eu realmente não entendo todo esse drama"
A voz dele me cansava e me deixava mais angustiado ainda..eu já sei que sou um adolescente idiota e que provavelmente nunca vou encontrar a felicidade mais meu pai não precisa ficar esfregando isso na minha cara.
Já se passaram uma semana desde esse meu quase encontro com a morte.
Agora eu estava sentado na porta da minha casa esperando meu pai chegar.
Uma casa pequena feita de madeira que logo logo seria levada pela chuva, cheguei do colégio as 17:30 e ele saiu e deixou a casa trancada, provavelmente um castigo por eu não ter chegado às 17:10 como o horário combinado, meu pai gastou todo nosso dinheiro em uma casa de apostas, lá ele joga, bebe, fuma, transa e depois volta pra casa parecendo um mendigo, quando dou sorte dele esquecer da minha existência eu fico bem tranquilo no meu quarto escutando ele quebrando as coisas em casa, e quando ele lembra que tem filho ele desconta a raiva em mim, raiva do que ?não sei, talvez da vida, talvez seja pela falta de um amor, pela falta de pai na infância, bom se esse for esse o motivo eu posso me tornar igual a ele..
A chuva só engrossava, o vento estava tão forte que chegava a ser cortante, eu estava de camisa de manga curta e shorts, as lágrimas escorriam pelo meu rosto e logo se misturavam com a chuva..meu coração estava disparado..eu não quero mais viver assim.

O garoto estava sentado em volta da mesa

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O garoto estava sentado em volta da mesa.
Pedi para que Mariana fizesse algo para ele comer, o mesmo encarava a comida como um bicho de sete cabeças, talvez ele ainda esteja pensando em tudo que passou com o pai.

-Coma- eu mandei

Ele me encarou por alguns segundos.
O mesmo encheu a colher de comida e levou até a boca, sua boca era pequena o suficiente para não suportar muita comida dentro dela.
O mesmo passou sua língua alguma vezes pelo lábios os deixando umedecidos, aquilo com toda certeza era algo convidativo.

-Você vai matar meu pai?-ele me perguntou novamente

-Você se importa com isso?- ele ainda encarava seu prato de comida que já estava quase no fim

-Não muito- assenti- o que você quer comigo?

Seus olhos finalmente encontraram os meus.
Olhos azuis e hipnotizantes, rosto levemente avermelhada e cabelos molhados..
Ele cheirava cereja, minha vontade nesse momento era de afundar meu rosto em seu pescoço e usá-lo como uma droga..

-Termine de comer- ignorei sua pergunta novamente, me levantei- Assim que você terminar Tao vai te direcionar até seu quarto, fique a vontade

Subi as escadas e fui até meu escritório, o relógio marcava 23:20 da noite, a chuva estava mais fraca..
Me sentei na mesa e joguei minha cabeça pra trás, como dizer para um garoto que eu o ganhei em uma aposta que  vou usá-lo para fingir ser meu namorado e depois abandona-lo em um canto qualquer.
Ele parece estar cansado ao estremo para reclamar disso.
Me levantei e abri q porta do escritório, quando voltei para cozinha, Charlie conversava calmamente com Tao.

-Eu gosto mais de morango- Tao disse

-No meu aniversário de 19 anos minha amiga Darcy me deu um kit de perfumes e cremes de cereja, eu usava escondido do meu pai, ela já tinha me presenteado com isso antes porém meu pai jogou tudo fora após dizer que era "feminino" demais pra mim

-Seu pai é um babaca, e desde de quando perfume define gênero- seu prato finalmente estava vazio

Tao colocou o prato na pia e levou Charlie para o quarto, fui atrás, fiquei parado na porta enquanto meu amigo dava algumas instituições para o mais novo.
Tao saiu do quarto, ele me deu um tapinha no ombro antes de se retirar.

-Esse quarto é meu- ele me olhou

-Desculpa, eu não sabia, foi aquele moço que me trouxe aqui- ele abaixou a cabeça

-Não temos quartos de hóspedes, eu moro sozinho nunca pensei que iria ganhar alguém em uma aposta- ele abaixou a cabeça, merda, deixei ele triste

Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto, ele secou rapidamente e sorriu pra mim.

-Você ainda não me falou o que quer comigo?-sua voz carregava tristeza

-Seu pai estava devendo na minha casa de apostas, e ele me deu você em forma de pagamento- suspirei

-Ele nunca gostou de mim mesmo- o menor riu sarcástico-o que você vai fazer comigo?- ele finalmente me olhou- me fuder até sangrar e depois me largar um um canto qualquer, meu pai sempre disso que era isso que homens queriam comigo- engoli o seco

Como alguém consegue ser tão horrível, com o próprio filho.

-Não, eu nunca faria isso- a não ser que você me peça para te fuder..

-Eu posso tomar um banho?-assenti

-Vou pegar uma toalha pra você- assim eu fiz, entreguei a toalha pro Charlie, ele sorri fraco e entrou no banheiro

Me sentei na cama, como um pai consegue ser tão babaca a esse ponto, tipo quem tem a coragem de dizer isso pro próprio filho.
Uns 15 minutos depois o garoto saiu do banheiro, o cheiro de cereja invadiu o quarto novamente.
Ele estava com um moletom que cobria quase todo seu corpo.

-Isso é meu- arquei a sobrancelha

-Na-não trouxeram minhas coisas ainda- ele abaixou a cabeça

-Tudo bem- me levantei- se deite- eu vou tomar um banho e me deitar também

-Eu posso dormir naquele sofazinho ali- eu ri

-Pode dormir, mas eu vou te coloca ma cama assim que você adormecer- ele engoliu o seco

-Não precisa- o mesmo se deitou na cama e cobriu seu corpo

Sorri de canto, seu corpo serve perfeitamente para meus lençóis..
Após um banho relaxante eu sai do banheiro e vesti uma roupa, na verdade só um calção, me deitei ao lado do Charlie.

-Você tá colocando na sua casa o filho de um caloteiro- ele riu- não tem medo?

-Olha a sua carinha- segurei seu queixo- carinha de quem nunca na vida chegou perto de uma arma, além do mais que tipo de assassino cheira cereja, é um cheiro muito doce para esse tipo de pessoa- ele se virou pra mim-Você está na mesma cama de um homem que te comprou, não tem medo ?

-Tenho...-escutei ele suspirar fundo- Mas qualquer coisa que aconteça aqui, é merecido-

Ficamos em silêncio, escutei seu sono pesar.
Eu não vou ter coragem de usar esse garoto dessa forma.
Eu não sou do tipo de pessoa que tem dó dos outros, eu tenho menos de 10 pessoas que eu realmente me importo, meus pais e meus 3 amigos, e logicamente, eu em primeiro lugar, não sou do tipo de pessoa que liga para os sentimos dos outros, desde os meus 10 anos de idade eu tenho somente 5 pessoas na minha bolha de proteção e não pretendo mudar isso, pelo menos não pretendia.

Sua boquinha minúscula e rosada, seus cachinhos espalhados pelo seu rosto, seu rosto relaxado e calmo, talvez ele seja um anjo...um anjo caído do céu, alguém não pode ser desse jeito.
[...]

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